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Havia um ‘Jornalismo do bem’ no meio do caminho


Basta alguns cliques pelas notícias mais lidas da semana nos principais blogs do país para compreender o tipo de fato que mais atrai os leitores e internautas. As “mais lidas” são um compilado de dor e tragédia que parece, por algum motivo psíquico ou social, atrair os leitores como imã. Na contra mão disso, deslizando com o mouse mais abaixo pelos portais, começam a aparecer entre as matérias mais populares fatos interessantes e totalmente destoantes das chamadas “notícias negativas”.

No portal do Estadão, por exemplo, a reportagem de 27 de setembro “Primeiro desenho animado totalmente em Libras é lançado no YouTube” se destaca entre as dez notícias mais vistas. Em meio a trâmites políticos, acidentes e violência, uma informação sobre algo singelo ocupa um bom lugar no ranking das reportagens mais lidas desta semana, o que pode demonstrar uma linha de esperança no que se diz respeito tanto ao fazer jornalístico quanto ao comportamento do público. Essa abordagem não sistemática dos fatos foi um dos motes para a oficina “Jornalismo do bem” ministrada pela jornalista e terapeuta Helena Gozzano, na quinta-feira, 27, na Universidade de Sorocaba (Uniso) durante a 20ª Semana da Comunicação.

A jornalista Helena Gozzano palestra para alunos na
Universidade de Sorocaba
Alunos do 1º, 6º e 8º período de Jornalismo se acomodavam nas cadeiras da Sala 101 do Bloco B quando a professora do curso de jornalismo, Evenize Batista, apresentava a palestrante da noite. Helena, jornalista desde 1988, falou brevemente sobre suas experiências profissionais (nada breves) e levou aos estudantes um pouco das bases para se construir o jornalismo do bem. Inspirada por nomes como o jornalista norte-americano Gay Talese e a brasileira Eliane Brum, Helena listou quatro principais virtudes necessárias para se pensar em novas coberturas jornalísticas: ser ético; fazer escolhas de novos ângulos dos fatos; dedicação para apurar e levantar informações precisas e contar muitas e muitas histórias.

Para provocar o olhar humanizado, a palestrante apresentou reportagens de teor positivo e ressaltou, por diversas vezes, que fazer o jornalismo do bem não é esconder o fato de que a violência e as tragédias estão presentes na sociedade, mas que é possível delegar uma cobertura menos sensacionalista a estes acontecimentos e, também, dar vazão a outros.

Para Helena, o momento atual está sendo surpreendente pelo crescimento de boas histórias nos impressos e portais. “Nunca vi tantas histórias de superação serem contadas, isso nos diz alguma coisa”, comenta. A jornalista ressalta ainda que o momento social não é o único fator que impulsiona o consumo de boas notícias. Para ela, as pessoas têm procurado o bem. “O ser humano naturalmente precisa disto, de boas histórias”.

Além das explanações, uma atividade resultou em surpresa e emoção aos presentes. Como forma de exercitar tudo que foi aprendido naquela noite, Helena Gozzano propôs aos alunos o seguinte desafio: andar pelo campus da Cidade Universitária em busca de uma notícia que representasse o jornalismo do bem.

Após 15 minutos, os discentes da Uniso voltaram para a sala que mais tarde seria palco de emoções. Os alunos do 6º semestre Vinicius Camargo, Danielle Padilha e Marcelo Gomes, levaram a Helena uma ação da turma do curso de Publicidade e Propaganda sobre o Setembro Amarelo – mês que traz como bandeira a prevenção do suicídio. Ainda nesta linha, Julia Lippi, do 8º período, contou sua experiência com um aluno do curso de arquitetura que havia conseguido seu primeiro trabalho na área.

Entre outras ideias, as estudantes do 6º período, Aline Albuquerque e Pâmela Ramos, encontraram a história de seu Reginaldo, um senhor que vai à Uniso todos os dias para buscar o filho que cursa Marketing. Poderia ser mais um relato de afeto paternal, mas o amor expressado por Reginaldo vai além. Seu filho sofre com convulsões que não têm dia ou hora para acontecer, a esperança de chegar até a universidade e encontrar o filho ali, se formando, compensa todo o esforço. A história emocionante surpreendeu a todos e demonstrou que não é preciso ir muito longe para resgatar bons relatos.

Alunos de comunicação participam de palestra que aborda
boas práticas do jornalismo
Para os alunos do primeiro semestre, Gabriela Brandão e David Pontes, 18, a experiência de saber um pouco mais sobre o ‘Jornalismo do Bem’ foi positiva. Os jovens contam que, além de ter uma nova percepção sobre os fatos, a presença da jornalista Helena Gozzano foi imprescindível para a compreensão do mercado de trabalho em si. Helena destacou, entre outras experiências, a redação do jornal Cruzeiro do Sul por 28 anos, passando pela direção de pauta, cobrindo a editoria cidades e, depois, os suplementos, como o infanto-juvenil Cruzeirinho.  “Como estamos no 1º semestre não temos uma visão tão ampla do jornalismo e do mercado de trabalho em si. Ver os palestrantes falando, abre muito nossa mente”, contou o estudante David. Já Gabriela relatou a emoção vivenciada na oficina. “É uma esperança para a humanidade saber que nós podemos dar notícias que poderão fazer as pessoas felizes e emocioná-las”, completa a jovem.

A professora Evenize Batista, que acompanhou o encontro, comentou que, muitas vezes, o jornalismo diário pode ter pautas duras e não tão boas. Por este fato, Evenize oferece aos discentes uma dica de equilíbrio. “Para cada matéria difícil que temos que fazer, vamos tentar fazer uma do bem”, diz. Para ela, é possível balancear para manter a visão aberta a novos ângulos e abordagens e não se deixar abalar tanto.

Após as emoções resultantes da oficina proposta por Helena Gozzano, uma selfie com a turma e alguns abraços, ditaram bem o tom do momento: pura afetividade. Justamente uma das maiores lições deixadas naquela quinta-feira calorosa de setembro. A palestra parece ter deixado boas sementes aos alunos presentes. Pouco tempo depois do fim, já podia se ouvir no corredor: “Eu conheço uma história de vida tão boa. Daria uma ótima pauta!”.
Texto: Caroline Queiroz – Agência Experimental de Jornalismo (AgênciaJOR/Uniso)
Fotos: Évelyn Azevedo – Agência Experimental de Jornalismo (AgênciaJOR/Uniso)

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