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Feira do Hip-Hop transforma Sorocaba em palco de resistência, cultura e pertencimento

Por Raíssa Rosendo Mio e Letícia Américo Camargo (Agência Focas – Jornalismo Uniso)

A 5ª edição da Feira do Hip-Hop transformou a Praça Frei Baraúna, no último dia 18 de maio, em Sorocaba, em um palco vibrante de arte, música, moda e gastronomia. Organizado de forma independente por Renan Sander Pereira, de 27 anos, idealizador também do projeto “O Som Nunca Acaba” e da “Batalha do Som”, ao lado de Ueverton Rodrigues, o Dido, de 23 anos, cofundador e apresentador oficial, o evento reafirmou sua força como um marco de resistência e celebração da cultura negra.

Das 13h às 21h30, a praça foi tomada por expositores, artistas e público em uma experiência que foi além do entretenimento, tornando-se um manifesto cultural. Com apoio pontual de marcas como RedBull e Agenda Sorocaba, mas sem contar com auxílio direto do poder público, a feira mostrou que a coletividade e a criatividade poderiam criar espaços seguros e transformadores. “O estudo, a busca, a leitura, isso é hip-hop também”, pontuou Sander, reforçando o compromisso do evento com o conhecimento e a autovalorização.

Entre os destaques, o desfile de moda trouxe a contracultura como tema. Modelos ocuparam a praça com roupas e estilos que resgatavam autoestima e ancestralidade, desafiando os padrões estéticos impostos. Hilary Cristina de Souza Amaral, de 20 anos, segurança do Tauste e modelo pelo terceiro ano, destacou como o evento era um espaço para se expressar, trazendo seu cabelo e estilo com inspiração na rapper Negra Li e nas calças boca de sino dos anos 70. “A gente é a moda, a resistência e a cor”, disse.

No campo da música, a batalha de rimas e as apresentações locais trouxeram nomes como KAOS, rapper e estudante de 16 anos, que apresentou uma visão de pertencimento no mundo da rima e da batalha, podendo dar voz a pautas importantes como a cultura preta e abrir espaço para o debate por meio das rimas. Gaza e DJ R-JAY também marcaram presença. Para Matheus Viana, o Matheus Maxxt, de 22 anos, artista independente e curador das atrações, a feira fortalecia a cena e conectava pessoas. “Se sentir pertencente, parte de alguma coisa, é uma das paradas mais importantes enquanto ser humano”, afirmou.

A pluralidade do evento também se refletiu nos expositores. Fabiana Costa, de 40 anos, mãe solo de quatro filhos, criou a marca OBA (Obá Moda Afro) durante a pandemia, ao perceber a dificuldade de encontrar roupas com estampas acessíveis. “As pessoas têm que entender que a gente existe. É por isso que a gente luta, para estar em todos os espaços e trazer o empreendedorismo negro para dentro deles”, declarou Fabiana, que atualmente trabalhava como community manager em um coworking de Sorocaba.

Merak, de 24 anos, dona de um brechó que levava seu nome e presença constante na feira, reforçou a importância da ocupação dos espaços públicos com a arte da quebrada. “A quebrada é o rap, é todo esse movimento, mas ela não pode estar só lá. Ela tem que ocupar os grandes centros, os lugares brancos, os lugares que são de direito nosso”, defendeu.

Patrick Sugahara, de 25 anos, estagiário de moda, encontrou na feira uma oportunidade para materializar sua marca, que nasceu da indignação com a desigualdade social e as cenas da Cracolândia, em São Paulo. “A gente tá muito preso no digital, né? E ver as pessoas, assim, só de cumprimentar, já me sinto bem, já me sinto visto. Acho que pra muita gente é assim”, disse, enquanto observava o movimento em torno de seu estande.

A gastronomia também marcou presença, com destaque para Rosana Velasquez, de 61 anos, peruana que encontrou no Brasil o acolhimento para compartilhar os sabores do Peru. “Os brasileiros são muito abertos a novas culturas, novas comidas”, afirmou Rosana, que iniciou o negócio após amigos se encantarem com seus pratos.

Entre o público, o trio de amigas Júlia Alves, de 17 anos, Júlia Lima, também de 17 anos, e Samara Bispo, de 18 anos, resumiu o sentimento coletivo. “A feira é a identidade do que a gente é. Resumir o que cada um sente e expressar sua cultura e sua arte. Acho que é um lugar pra todo mundo se conectar e estar juntos”, comentou Júlia Lima. “Aqui tá tudo bonito, todo mundo é igual a todo mundo, não tem nada de discriminação”, completou Júlia Alves.

As inscrições para expositores e artistas ocorreram por meio de formulários divulgados nas redes sociais, especialmente no Instagram, fortalecendo a conexão com a comunidade. De olho no futuro, os organizadores planejavam expandir o projeto para outros espaços, com a parceria do Sindicato dos Metalúrgicos, e para novas cidades e estados, mantendo viva a chama da resistência e da cultura popular.

A Feira do Hip-Hop em Sorocaba foi mais do que um evento: foi um grito coletivo pela dignidade, pela arte, pela ocupação de espaços e pelo direito de existir. Em cada rima, em cada estampa, em cada gesto, o hip-hop permaneceu como a batida que moveu a cidade.

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