Reportagens Especiais

É preciso saber envelhecer

Aumento da expectativa de vida traz nova forma de encarar a maturidade do corpo e da alma 
O tempo, ai, passa para todos. Às vezes, sorrateiro feito o tiquetaquear irreprimível de um relógio qualquer. Em outras, ele, o tempo, se mostra mais concretamente, como na constatação resignada da incapacidade de realizar determinados movimentos com o corpo ou no exercício desesperançado de tentar se lembrar de datas importantes, eventos da vida, pessoas, lugares. Afinal, quem foi mesmo que me deu essa toalha de mesa? Somos crianças, depois adolescentes, adultos e, de repente, pronto: envelhecemos! Tuas rugas não negam, mulata.
Porém, entre a idade cronológica e a “idade do espírito” – ou seja, o modo como a pessoa vê e sente a si mesmo – pode haver uma grande diferença, e cada um pode encontrar a sua maneira de se sentir mais jovem. Em sua obra “Saber Envelhecer”, o filósofo romano Cícero (44 a.C.) defende que a velhice é algo inevitável e que, por isso, devemos aceitá-la; não negar nem desejar que venha antes da hora. Para viver essa fase da melhor maneira possível, ele aconselha cuidados com a saúde, além da busca, aquisição e transmissão de conhecimentos.
Cabelos brancos contra o vento – O aposentado Manoel Vasques, 64, se sente jovem e assim é percebido pelos seus familiares e amigos. Desde que se aposentou, em 2012, tem realizado planos que antes não eram possíveis devido à rotina e ao excesso de trabalho. A liberdade que veio com a aposentadoria colaborou para a sensação de jovialidade: “Fiquei um pouco preocupado antes de me aposentar, pois não sabia como eu reagiria. Tive medo de me sentir velho e inútil, porém descobri que é possível se aposentar e, ainda assim, se sentir bem.”
Manoel comprou a caminhonete de seus sonhos e conta que tem viajado bastante: “Só nesse ano já fui para Camboriú, Campos do Jordão, Caldas Novas, em Goiás, Fortaleza, Termas dos Laranjais, em Olímpia, e ainda vou para Salvador.” Ele afirma que, entre uma viagem e outra, ainda insere uma pescaria em algum local perto da cidade no roteiro: “Estou curtindo a vida!”
Ter compromissos sociais regulares também é um dos métodos utilizados pelo aposentado para sentir-se mais jovem de espírito. Ele e a esposa frequentam semanalmente reuniões para casais em uma igreja católica da cidade: “Sou visto como uma pessoa ativa e com desejo de realizações. Realmente, é assim que eu me sinto.”
Manequim de dezoito – Já a estratégia de Gilsemara Almenara, 45, para se sentir mais nova é outra: ela aposta no visual. A educadora adora usar roupas mais “moderninhas”, como diriam as vovós de algum tempo. Vestidos justos e saias curtas fazem parte do guarda-roupa da mulher, que conta ser comum atribuírem a ela menos idade que a indicada em seu RG. “Mas a intenção não é só essa. Me cuido porque quero estar bonita e acabo parecendo mais nova. Confesso que algumas vezes me sinto mal, parece que exagero. Tenho procurado não cometer excessos, mas meus olhos brilham quando vejo uma roupinha engraçadinha!”, brinca ela com o próprio estilo.
“Não chego ao ponto de viver de cirurgias plásticas, mas amo um creme, uma massagem, cuidados com o cabelo, roupas e acessórios.” Mas Gilsemara diz que não foi sempre assim. “Já tive fases na vida em que nem lembrava que tinha corpo ou alma, devido ao trabalho corrido, minha mãe doente, enfim, várias situações que não permitiam que eu pudesse ter tempo de me ver. Se você visse uma foto minha de anos atrás, com certeza vai me achar mais velha.”
Bastante vaidosa, ela afirma não ter medo de envelhecer. “Quero ver a beleza de cada idade e tirar o melhor proveito de cada uma delas.” Acredita também que o fator fundamental para lidar com o envelhecimento é encarar a vida de maneira leve. “Não estou querendo fugir do fato de que gosto de parecer mais nova, mas brinco muito, me divirto, principalmente, comigo mesma, rindo das minhas trapalhadas, que são muitas, e acredito que as atividades físicas que pratico colaboram para o meu bom humor.”
Deixe que digam – Para a psicóloga Bianca Pichiguelli, em cada fase da vida há vantagens a serem aproveitadas. Na maturidade, talvez, a maior vantagem seja a liberdade. “Quem tem mais de 40 anos, geralmente tem mais consciência do que quer e do que não quer para si, não se sente na obrigação de ser o que não é nem de dar satisfações de seus atos”, explica. Ainda segundo a especialista, há um forte apelo da mídia para que as pessoas nessa idade sejam ativas, frequentem clubes e façam exercícios. Porém, como a liberdade é uma das maiores vantagens dessa idade, as pessoas podem optar por serem ou não ativas e, se estiverem felizes do modo como vivem, não há problema algum.

Gilsemara exibe um de seus modelos favoritos. Foto: Arquivo pessoal

Manoel Vasques, 64, em terminal de bondes em Camboriú. Foto: Arquivo pessoal
Lilian Casares (AgênciaJor/Uniso)

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