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Mulheres retomam os estudos em nova sala do Proeja

Nunca é tarde para a realização de um sonho, lema que tem incentivado mulheres acima dos 50 anos a retornar aos estudos. Muitas delas tiveram que interromper a formação escolar precocemente, algumas nem iniciaram, devido à criação autoritária dos pais e também ao preconceito. Outras, ainda, porque tiveram que assumir os serviços domésticos ou trabalhar fora para garantir a renda familiar.
Casaram-se cedo e não tiveram mais tempo de estudar. Agora, muitas delas na terceira idade, estão se dedicando aos estudos por meio do Proeja (Programa de Educação de Jovens e Adultos), da Universidade de Sorocaba (Uniso), que implantou uma sala de aula no bairro de Brigadeiro Tobias. As aulas acontecem de segunda a quarta-feira, das 8h às 11h, no Círculo Operário.
Esse é o caso da Nair Cirino de Jesus, de 68 anos. Ela já sabia ler e escrever, porém, tinha muitas dificuldades em Matemática e leitura. Parou de estudar, proibida pelo pai. Não havia transporte e o caminho até a escola, que ficava longe de sua casa, era perigoso. Para retornar aos estudos, teve o incentivo das filhas e conta que não se deixa abalar com o preconceito manifestado por várias pessoas sobre a iniciativa de voltar a estudar em sua idade. “Gosto de todas as matérias, mas em Português tenho mais prática, adoro ler e, principalmente escrever, além do convívio com as outras pessoas”, diz.
Maria das Graças Silva Rodrigues, de 66 anos, outra aluna, nunca completou um ano na escola. O pai também não a deixou estudar. Depois de casada, sempre que retomava os estudos, era obrigada a interrompê-los para cuidar da casa e dos filhos, mas, agora, afirma que vai se dedicar com afinco. De Português ela sabia um pouco, mas com Matemática tinha muita dificuldade. Além de aluna, também é professora de costura nas oficinas do Proeja.
Caso semelhante é o de Maria Regina Romão, de 61 anos, que não teve a oportunidade de estudar quando criança e já adulta dedicava todo tempo aos filhos e ao trabalho. Iniciou os estudos cinco vezes e nunca conseguiu concluir. “Eu me sinto muito bem aprendendo, principalmente Matemática, área em que tinha muita dificuldade, além de ter novas amizades aqui”.  Segundo ela, a professora é muito atenciosa e pretende continuar estudando até aprender a fazer contas de divisão.
  Érica e a mãe Marinês, que também frequenta as aulas
Já Érica Leite Jonas, 23 anos, começou a frequentar a classe porque tem dificuldades em algumas matérias, e a mãe, Marinês Jonas, passou a acompanhá-la nos estudos. Aos 56 anos, tendo concluído a 2ª série do Ensino Fundamental, Marinês decidiu participar também, já que precisa levar a filha, que é cadeirante, para as aulas.
Tássia Carvalho é aluna do curso de Pedagogia da Uniso e professora do Proeja. Para ela, é gratificante atuar com esse público. “O processo de trabalhar com adultos é totalmente diferente, desde os assuntos a serem abordados nas aulas até o tempo e modo de explicar a matéria”. Diz que está “apaixonada” pelo grupo e que pretende seguir nessa área educacional.
Segundo a professora, há pouco tempo para ensinar e as alunas também enfrentam o cansaço, devido ao trabalho em casa, por isso, afirma que é preciso incentivá-las bastante. “A participação das alunas é bem interessante, principalmente nas aulas de história. Sempre se lembram e relacionam algo que viveram a determinado momento histórico. Nas aulas de interpretação de texto, a concentração, o foco e a percepção tiveram excelente melhora”, conta.

   Tássia é aluna de Pedagogia e professora do Proeja


Sala de aula foi implantada em Brigadeiro Tobias
   Café da manhã servido antes das aulas

O Proeja
A mais nova sala do Programa de Educação de Jovens e Adultos (Proeja) está funcionando no bairro de Brigadeiro Tobias. O projeto é coordenado pela professora Beatriz Magagna, junto a quatro supervisores que atuam com um determinado número de cidades.  “Acompanhamos o processo de aprendizagem dos alunos, considerando que cada experiência é única”, diz.
Como parte do projeto, a Universidade tem parceria com o Hospital Oftalmológico, que todos os anos disponibiliza uma unidade móvel na Cidade Universitária para uma avaliação gratuita da saúde dos olhos dos estudantes. Ao final do curso, é realizada uma solenidade de formatura.
Neste ano, foi realizada em novembro a 25ª solenidade de formatura do Programa, com 125 alunos concluintes da 1ª fase (Alfabetização ao 5º ano) e da 2ª fase (6º ao 9º ano), do Ensino Fundamental, vindos das cidades de Alumínio, Araçariguama, Araçoiaba da Serra, Itapetininga, Mairinque, Pilar do Sul, Porto Feliz e São Roque. Desde 1998, foram atendidos 26.026 alunos, com 4.989 formandos.
O Proeja oferece capacitação inicial e continuada de professores que atuam na educação de jovens e adultos, é responsável pela elaboração e distribuição de material didático, voltados ao Ensino Fundamental, e pelo acompanhamento pedagógico das atividades. O Programa recebe alunos a partir dos 15 anos.
Quem quiser continuar os estudos é encaminhado ao Ceeja (Centro Estadual de Educação de Jovens e Adultos) ou para a prova do Enceeja (Exame Nacional para Certificação de Competências de Jovens e Adultos) com parceria da Secretaria do Estado de São Paulo.

Texto e fotos: Luis Gustavo Peres (AgênciaJor/Uniso)

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