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O papel da Universidade de Sorocaba e dos Cursos de Comunicação no desenvolvimento da Região Metropolitana

Por Laís Rodrigues (Agência Focas – Jornalismo Uniso)

Ao longo dos últimos 30 anos, a Universidade de Sorocaba, tem oferecido os cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda, formando gerações de comunicadores. No entanto, apesar da presença dessas graduações, as cidades da Região Metropolitana de Sorocaba demoraram a sentir os impactos dessa formação acadêmica em seu próprio mercado de trabalho.

Embora o Brasil seja hoje um dos maiores consumidores de conteúdo digital do mundo, a verdade é que a comunicação no interior sempre foi uma “mercadoria” importada das capitais. Apenas agora, décadas depois, pequenas cidades como Pilar do Sul, Votorantim, Salto de Pirapora e Piedade começam a perceber a importância da comunicação local profissionalizada. Mas essa revolução, embora essencial, chega com grande atraso. Por que levou tanto tempo para acontecer? 

Um mercado de comunicação à margem

Daniel Carvalho Bom, 31, cofundador da agência de comunicação Contágio em Pilar do Sul, é exemplo das dificuldades enfrentadas por profissionais que optam por permanecer em suas cidades de origem. “Eu sempre quis abrir uma agência, mas parecia que não existia espaço para isso aqui”, desabafa. Formado em Publicidade e Relações Públicas pela ESAMC em 2015, ele passou anos gerenciando as lojas da família, adiando o sonho de criar sua própria agência. A falta de incentivo e oportunidades na cidade foi determinante para esse adiamento.

Historicamente, as cidades do interior não ofereciam as condições necessárias para o crescimento de agências de comunicação. Daniel relata que até mesmo os negócios locais preferiam contratar serviços de Sorocaba ou São Paulo, o que limitava o surgimento de um fortalecimento da comunicação local. “Muitas vezes, nem sabiam o que uma agência de comunicação fazia. Achavam que comunicação era só um panfleto mal-feito, uma propaganda no rádio comunitário.”

A estrutura econômica dessas cidades, majoritariamente dependente do setor agrícola e do pequeno comércio, nunca priorizou a comunicação como ferramenta estratégica. Isso criou uma lacuna tanto no mercado quanto na formação de uma cultura que valorizasse o papel dos profissionais de comunicação no desenvolvimento local. Hoje em dia,  com a chegada de novas empresas e a digitalização forçada pela pandemia de Covid-19, o cenário começa a mudar.

A Universidade e sua função social

A Universidade de Sorocaba, em seus 30 anos de cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda, tem formado  comunicadores, mas a real contribuição da instituição para a transformação das cidades do interior ainda está em processo. Para Cassiano de Campos Cropped, 25, egresso do curso de Publicidade e Propaganda e sócio de Daniel na agência Contágio, a Uniso foi essencial em sua formação técnica, mas a distância entre o ambiente acadêmico e o mercado de trabalho local sempre foi um obstáculo.

“Eu aprendi muito com os professores, fiz network, tive acesso a uma visão mais empresarial, mas quando me formei e voltei para Pilar, parecia que estava em outro mundo. As empresas daqui não entendiam a necessidade de uma agência de comunicação. O mercado estava despreparado para absorver o que aprendemos na faculdade,” comenta.

Esse distanciamento entre a realidade acadêmica e as necessidades locais não é um problema isolado. A professora Thífani Postali, 42, publicitária e professora nos cursos de comunicação e coordenadora do curso de Jogos Digitais, acompanha de perto as mudanças nos cursos da Universidade, e reconhece essa lacuna: “Os cursos de comunicação da Uniso são sólidos, mas há um descompasso entre a formação acadêmica e a realidade do interior. A universidade está inserida em uma cidade que, até certo ponto, se parece mais com a capital. Sorocaba já tem uma estrutura mais urbana, mais integrada com as inovações. As cidades do entorno não.”

O problema é mais profundo e estrutural. Durante anos, o interior do Brasil foi ignorado pelas políticas públicas e pelo desenvolvimento econômico e tecnológico. O investimento em infraestrutura de comunicação nas pequenas cidades era limitado, o que fez com que muitas delas continuassem a depender de serviços de comunicação prestados por grandes centros urbanos.

O efeito da pandemia: aceleração e distorções

A pandemia de Covid-19 trouxe um ponto de virada. Com o fechamento temporário de estabelecimentos e a necessidade urgente de digitalização, até mesmo as cidades menores começaram a buscar soluções criativas de comunicação. Daniel e Cassiano, sócios na agência Contágio, sentiram o impacto diretamente: “De repente, todo mundo queria estar online. As empresas que nunca tinham feito nem um post no Instagram começaram a perceber que precisavam de uma presença digital,” explica Cassiano.

Essa nova demanda aqueceu o mercado e acelerou o desenvolvimento de agências no interior. Mas a mudança, apesar de necessária, também trouxe desafios. Daniel relata que muitas empresas ainda não compreendem completamente o valor de um planejamento estratégico de comunicação e que a resistência cultural continua forte. “Aqui, ainda precisamos convencer o empresário de que comunicação não é gasto, é investimento. A visão imediatista faz com que muitos achem que uma postagem no Instagram resolve tudo. Falta planejamento.”

A comunicação no interior e seus desafios estruturais

Para além da questão da formação e da digitalização, os desafios para as agências do interior são também de ordem estrutural. As cidades da Região Metropolitana de Sorocaba, como Pilar do Sul, Salto de Pirapora e Piedade, ainda enfrentam problemas de infraestrutura básica. A falta de uma internet de qualidade em algumas áreas, a dificuldade de transporte e a escassez de mão de obra especializada são obstáculos que tornam o trabalho das agências locais ainda mais complicado.

Daniel e Cassiano, que hoje empregam jovens locais em sua agência, são pioneiros em Pilar do Sul. Mesmo assim, enfrentam o desafio constante de recrutar e manter talentos, já que muitos jovens preferem se mudar para Sorocaba ou São Paulo em busca de melhores oportunidades. “A gente precisa se virar com o que tem. Aqui, não dá pra ser especialista em uma coisa só. Você precisa ser versátil, fazer um pouco de tudo, porque não tem tanta mão de obra,” afirma Daniel.

Essa versatilidade, embora seja uma solução prática a curto prazo, aponta para um problema mais amplo: a falta de estímulo da Universidade e dos professores que incentivem o desenvolvimento profissional e a formação continuada no interior. Não basta abrir cursos de comunicação se o mercado local não consegue absorver os formandos ou oferecer oportunidades reais de crescimento. Como é o caso de grandes emissoras da cidade, que não contratam estagiários se eles forem de outras cidades. 

O futuro da comunicação no interior: um otimismo cauteloso

Ainda que o cenário atual traga desafios, há sinais de que o mercado de comunicação nas cidades do interior está começando a amadurecer. A chegada de novas empresas tem sido vista como um indicador de que as pequenas cidades estão se tornando atrativas para investimentos. Daniel e Cassiano acreditam que o futuro é promissor, mas não sem cautela.

“A gente está crescendo, sem dúvidas. Hoje, a Contágio já está se tornando mais conhecida em toda a região, mas ainda temos muito o que aprender. As empresas de cidades maiores estão reconhecendo que podemos entregar um conteúdo de qualidade com um custo menor, porque o custo de vida no interior é menor,” afirma Daniel. 

Para Thífani, o futuro depende de uma mudança de mentalidade, tanto dos empresários quanto dos próprios profissionais de comunicação: “É preciso um esforço coletivo para que as cidades do interior vejam a comunicação como algo estratégico. Só assim o mercado vai ampliar, e os alunos não vão precisar sair de suas cidades.’’

Um dos avanços mais importantes para os cursos de comunicação da Universidade de Sorocaba foi a criação do componente curricular “Cenários Midiáticos Regionais”, elaborado pela professora Thífani em colaboração com as coordenações de Jornalismo e Publicidade e Propaganda. A disciplina se destaca por conectar os estudantes com a realidade local, incentivando-os a estudar e compreender os desafios específicos da comunicação no interior e em suas respectivas cidades. Ao trazer um olhar crítico e aprofundado sobre o contexto regional, a matéria prepara os futuros profissionais para atuar de forma estratégica e eficaz, valorizando a comunicação e cultura como uma ferramenta essencial para o desenvolvimento regional.  Trazendo uma visão inovadora e reforçado o compromisso em tornar o curso mais alinhado às demandas e realidades locais, garantindo uma formação que não apenas forma comunicadores, mas agentes de transformação em suas próprias comunidades.

A Universidade de Sorocaba e seus cursos de comunicação, portanto, têm uma responsabilidade ainda maior nos próximos anos: não apenas formar profissionais capacitados, mas garantir que esses profissionais possam atuar de maneira eficaz no interior, contribuindo para o desenvolvimento regional e superando as barreiras estruturais e culturais que ainda limitam o setor.

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