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Junho Vermelho: Doação de sangue salva vidas

Muita gente não sabe, mas nesta semana foi celebrado o dia mundial do doador de sangue. Segundo o Ministério da Saúde, o 16 de junho foi escolhido para homenagear o nascimento de Karl Landsteiner, imunologista austríaco que descobriu o fator Rh e as várias diferenças entre os tipos sanguíneos.

Entidade pioneira no incentivo à doação de sangue no Brasil, a Colsan (Associação Beneficente de Coleta de Sangue) informa em seu site que o slogan da campanha de 2021 é “Doe sangue para que o mundo continue pulsando”, sendo os jovens o principal alvo das atividades. A Colsan foi fundada em 1959 por um grupo de homens sensibilizados com a causa e liderados por Othon Barcellos.

No Brasil, a doação e a transfusão de sangue, são regulamentadas pela Portaria de Consolidação número 5, de 28 de setembro de 2017 e pela RDC 34 (Resolução da Diretoria Colegiada) de 11 de junho de 2014.

A importância do sangue para o corpo humano

Dr. Éric Barioni: “O sangue é um tecido fluido essencial para a vida, circula pelos vasos sanguíneos e mantém células, tecidos e órgãos nutridos, protegidos, funcionais e vivos”. Foto: Arquivo pessoal.             

  Segundo o coordenador e do curso de Biomedicina da Universidade de Sorocaba (Uniso), Éric Diego Barioni, o sangue de maneira geral – por meio das artérias, veias e capilares – auxilia na manutenção da pressão arterial, distribui o oxigênio dos pulmões ao organismo e transporta de volta aos pulmões o dióxido de carbono que foi gerado pelo corpo. Ele também transporta nutrientes, hormônios e produtos que precisam ser eliminados pela urina e pelas fezes. “Entre muitas outras funções, o sangue é importante para a nossa defesa contra micróbios, alérgenos e substâncias estranhas”, explica Barioni, que é conselheiro e presidente da comissão de toxicologia do Conselho Regional de Biomedicina (CRBM-1).

Sobre as diferenças entre os tipos de sangue (“A”, “B”, “AB” ou “O”), o doutor em ciências com área de concentração em toxicologia (FCF/USP/SP), comenta que todas as pessoas são iguais, o que muda é o seu tipo sanguíneo. Barioni explica que o sangue é basicamente constituído por água e que nesta água existem muitas substâncias dissolvidas. Dentre elas é possível destacar os nutrientes, gases, proteínas, lipídeos, hormônios, produtos que precisam ser eliminados.

“Além desta parte líquida que contém este material dissolvido, o sangue possui alguns elementos sólidos que estão amplamente distribuídos e suspensos nele próprio. Estes elementos são as nossas células sanguíneas, a saber: glóbulos vermelhos (eritrócitos), glóbulos brancos (leucócitos) e plaquetas (trombócitos)”, detalhou Barioni.

O professor complementa dizendo que sobre os glóbulos vermelhos existem muitas proteínas que podem ou não estar presentes ou ser expressas, dependendo da genética do indivíduo. E que entre essas proteínas estão as que conhecemos como “A”, “B” e “AB”.

“Portanto, de maneira bem simples, existem pessoas que sobre os glóbulos vermelhos possuem ou expressam a proteína do tipo ‘A’. Existem pessoas que sobre os glóbulos vermelhos possuem ou expressam a proteína do tipo ‘B’. Existem pessoas que sobre os glóbulos vermelhos possuem ou expressam as proteínas do tipo ‘A’ e ‘B’ e, por fim, existem pessoas que sobre os glóbulos vermelhos não possuem estas proteínas e são classificadas como ‘O’” explica Barioni.

O biomédico conclui dizendo que além dos tipos de proteínas, o sangue é dividido também pelo fator Rh. “Para além do sistema ABO, existe a proteína Rh (D) que caracteriza o nosso sangue como positivo e negativo, além de outras proteínas e sistemas proteicos importantes e que são laboratorialmente avaliados”, declara.

A captação de doadores

Gabriela Fantine: “A doação de sangue é um gesto simples, mas de grande ajuda ao próximo. Muitas pessoas não sabem, mas a cada doação, 4 vidas são salvas”. Foto: Rafael Filho

Segundo Gabriela Fantine, que é captadora de doações da Colsan de Sorocaba, o leque de pessoas que são beneficiadas pelas bolsas de sangue é muito grande. “As doações não atendem apenas as pessoas que sofreram algum tipo de acidente e que necessitam de reposição do sangue. Existem pessoas que fazem tratamentos específicos, e em muitos casos, as bolsas de sangue são utilizadas em cirurgias, mesmo naquelas que não ocorreram complicações”, detalha Fantine.

A estudante de enfermagem comenta que na sua rotina de trabalho, ao realizar contatos com potenciais doadores, busca sempre explicar que a doação não é um procedimento doloroso e que não causa nenhum mal à saúde. “O termo que mais utilizo é a conscientização. O sangue é algo insubstituível, só pode ser obtido através da doação. Além de ser de extrema importância, é preciso sempre reforçar que ela é totalmente segura e rápida”, declara Fantine.

Comentando sobre as dificuldades para a manutenção dos bancos de sangue, a captadora comenta que nos finais de ano, ocorre um pico de doações, mas que elas caem gradativamente na sequência. “No início do ano, no inverno e nas férias de julho, as doações reduzem bastante. Mas é justamente nestas épocas, e principalmente em datas festivas, que precisamos ainda mais delas, pois o número de acidentes aumenta muito”, explica Fantine.

A responsabilidade da doação

 “Eu costumo dizer que a doação de sangue, não vai trazer nenhum benefício e nenhum maleficio para o doador. Ela é altruísta, voluntária”, comenta a médica Maria Goretti de Araújo Marques, que é hemoterapeuta e uma das responsáveis pela coleta de sangue na Colsan de Sorocaba.

Segundo ela, a Organização Mundial da Saúde afirma que se 3% da população estiver doando regularmente, não ocorre o desabastecimento de sangue nos hospitais. “No Brasil infelizmente, esse número não chega a 2%. Isso evitaria a necessidade de campanhas emergencias. Mas o brasileiro é um povo solidário, quando a mídia informa que estamos precisando de doação, as pessoas já correm para nos ajudar”, reconhece Goretti.

 A médica explica ainda que as campanhas são importantes não somente para alertar a população e relembrar os doadores do compromisso, mas também para atrair aquelas pessoas que nunca doaram. “Doar sangue é um ato de amor porque o sangue é fundamental para a vida e a gente nunca sabe quando irá precisar. Mas é certo: a todo momento existe alguém que está precisando. Conheça o banco de sangue de sua cidade e se não puder doar seja um agente de apoio nas divulgações e necessidades do serviço. É rápido, fácil, seguro e salva vidas”, reforça Barioni.

Dra. Maria Goretti: “O sangue é um órgão que não tem substituto. Quando você faz uma doação, você está doando um órgão do seu próprio corpo para que ele seja utilizado em outros corpos, salvando vidas” Foto: Rafael Filho

Mitos e a pandemia

Questionada sobre se ainda existem mitos sobre a doação, comumente disseminados pela população nos dias atuais, a médica informa que com a ajuda da imprensa e com o aumento de pessoas com acesso à internet, isso tem diminuído gradativamente. “Muitas pessoas acreditavam que a doação ‘engrossava’ ou “afinava’ o sangue. Isso não é verdade. Se você doa por toda a vida ou, por um motivo ou outro, doa apenas uma vez, é a mesma coisa, não faz diferença no seu corpo. A imprensa divulgar e as pessoas usarem a internet para o ‘bem’, pesquisando e não divulgando falsas informações tem nos ajudado muito”, declara Goretti.

Com relação à redução das doações após o início da pandemia de Covid-19, Goretti prefere valorizar o momento atual, onde as pessoas já voltaram a realizar suas doações. Segundo a médica, os humanos são seres sociais, e o desconhecimento sobre a doença juntamente com a politização atual, fez com que as pessoas se retraíssem de todas as formas. “Eu costumo falar distanciamento físico e não distanciamento social. Porque seguindo as regras, como uso de máscara, correta lavagem das mãos, utilização de álcool em gel e etc., é possível se ter uma vida social, dentre elas está o ato de ir realizar a sua doação de sangue”, comenta Goretti. Ela salienta, também, que a partir de um conhecimento maior sobre a doença e de como se trabalhar com ela dentro dos hospitais, ocorreu um retorno das cirurgias eletivas, que teve alteração direta nas doações. “Isso e a possibilidade da segurança dos agendamentos de doações via aplicativo, fez com que os doadores percebessem a necessidade e a importância de voltar a doar”, explica Goretti.

Jovens e a tecnologia

Comentando sobre o foco da campanha de 2021, Goretti afirma que após a autorização através da resolução do ministério da saúde, que permitiu as doações a partir dos 16 anos de idade, a entidade procurou utilizar uma linguagem diferenciada para alcançar esse púbico jovem. “Existe uma cultura de filhos e netos de doadores se tornarem doadores também. Isso é muito importante, mas nós trabalhamos para atrair aqueles jovens que pertencem a famílias que não têm o costume de doar, para que eles possam servir de incentivo e exemplo para os demais”, explica Goretti.

Para a médica, a presença da Colsan nas redes sociais e a criação de um aplicativo, foram fundamentais para a expansão no número de doadores. “Nós fomos para o Instagram, Facebook e etc., para estar mais próximos da população. Levando informações, interagindo com doadores para que eles possam convidar mais pessoas para doar”, comenta Goretti.

Criado inicialmente em 2017 como o nome de Time do Sangue, o app passou por ajustes técnicos, e hoje é chamado de Colsan: Doe sangue, doe vida. Dentre as mais diversas opções, o app possibilita o agendamento do dia e horário da doação, facilitando a vida dos doadores e profissionais da saúde, além de trazer ainda mais segurança para o processo. “O app tem nos ajudado muito. Os jovens tinham o costume de formar caravanas de doadores com 30 ou 40 pessoas. O que não é possível mais, devido a pandemia. Seguindo nossas orientações e através do app, eles podem distribuir essas pessoas em dias e horários diferentes. Eles não deixam de doar e também não deixam de se cuidar”, exemplifica Goretti.

RAFAEL FILHO

(AGÊNCIA FOCS / JORNALISMO UNISO)

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