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Bicicleta é opção diante dos desafios à mobilidade urbana

Para muitos, bicicleta é sinônimo de lazer ou diversão. Mas não é só isso; a bicicleta é, também, um modal de transporte que reconhecidamente colabora com o meio ambiente e a saúde de seus usuários. Diante do grande número de automóveis, que, além de liberar poluentes, também são fonte de estresse diário nos grandes centros urbanos, a bicicleta surge como uma das possíveis soluções sustentáveis para contribuir para a mobilidade urbana.
Roseli Camargo, 45, corpo e mente livres do estresse e a cidade, de poluentes


Em Sorocaba, existe uma frota de cerca de 470.000 carros, segundo levantamento feito pelo Departamento Estadual de Trânsito (Detran) em 2018, um dado preocupante quando se pensa na quantidade de gases poluentes que esses veículos liberam no meio ambiente.
“Os principais gases do efeito estufa são oriundos do escapamento dos automóveis. Esses poluentes geram nas cidades um enorme prejuízo à saúde pública, já que muitos desses particulados que estão no ar causam problemas respiratórios e cardiovasculares aos cidadãos”, diz Mauricio Mota, atual secretário do Meio Ambiente de Sorocaba, na ocasião participando do Fórum Regional de Mudanças Climáticas, realizado na Universidade de Sorocaba (Uniso).
O uso contínuo de bicicletas, além de contribuir para a saúde do próprio ciclista, também contribui para saúde de vários munícipes, ao evitar que mais gases poluentes sejam emitidos, conforme destaca o secretário.
Queimando calorias em vez de combustível
Pensando em sua saúde, Roseli Camargo, 45, professora de Matemática dos cursos de Engenharia da Uniso, decidiu aderir à bike como meio de transporte para ir e voltar do trabalho. Apesar de o tempo de trajeto da bicicleta ser maior do que de carro, a professora conta que “a sensação de pedalar é muito boa, pois não tem estresse e é até possível meditar durante parte do caminho.”
Roseli começou a andar frequentemente de bicicleta há cinco anos. Ela já andava em grupos de ciclistas, mas decidiu aproveitar a extensa área de ciclovias em Sorocaba para transformar o modal, que antes era apenas seu lazer, em seu principal meio de transporte. Atualmente, a professora ainda faz uso do carro em trajetos noturnos, por questões de segurança, mas relata que, se não fosse perigoso, também iria trabalhar de bike à noite.
Os benefícios, segundo ela, são muitos: “São longas sessões de exercícios aeróbicos, quatro vezes por semana, que me proporcionam um bom condicionamento físico. Há também a economia financeira, porque antes eu gastava R$150 de gasolina por semana e, agora, gasto bem menos, em torno de R$50.”
Ao todo Roseli percorre, somando os percursos de ida e volta, 34 km por dia. A professora começa seu trajeto no bairro Wanel Ville, onde há muitas ciclovias, entretanto, ao chegar à Avenida Engenheiro Reinaldo Carlos Mendes, começam os percalços. “Ali eu tenho de tomar muito cuidado, pois eu não posso ir pela calçada, já que ela é estreita demais e não há ciclovia disponível”, conta a docente.
Outro trecho complicado do trajeto é a Avenida São Paulo. “Não é correto andar pela calçada, mas às vezes é necessário. Quando eu pego a Avenida São Paulo, por exemplo, eu não posso subir pela rua, porque os caminhões passam muito perto. Como é muito perigoso, eu venho pela calçada, sempre prestando atenção nos pedestres para não dar causa a nenhum acidente”, diz Camargo.
Apesar desses trechos complicados, a ciclista considera a cidade de Sorocaba como referência em relação à estrutura para os ciclistas. “Mas é claro que sempre há como melhorar”, ela diz. Para a professora, o principal problema é a falta de educação dos motoristas em relação aos ciclistas. “Não tem ainda essa cultura de educação no trânsito. A gente tem que tomar cuidado; até existem as leis que protegem os ciclistas, mas na prática elas não funcionam. Os ciclistas devem usar os equipamentos de segurança e estar sempre atentos.”
A vida é simples como a magrela
A bicicleta além de proporcionar benefícios para a saúde e para as finanças, também proporciona momentos de aventura e reflexões. Ana Beatriz Arthur Bisco, professora de Educação Física e empreendedora de treinamentos para cicloviagens (viagens que usam a bike como meio de transporte), conta que a diferença entre viajar com veículos motorizados e viajar de bicicleta consiste em aproveitar o percurso.
“Você vai chegar mais rápido com os outros veículos, mas a bicicleta vai te dar a oportunidade de ver o que existe de bonito nos lugares. Você vai demorar um pouco mais para chegar, mas a velocidade do carro, da moto, do avião, etc. impede essa troca com a natureza e o diálogo com outras pessoas. A bicicleta permite ‘turistar’ durante o trajeto.”
Além das cicloviagens terem proporcionado a Bisco a criação de sua empresa, elas também proporcionaram à professora reflexões sobre seu estilo de vida, pois, para viajar de bike, é preciso aprender a diminuir o consumismo, evitando peso desnecessário nos alforjes (que são como malas feitas para ser transportadas na bicicleta). “Eu me tornei menos consumista. É lógico que todo ser humano adora conforto, mas assim é possível viver com pouco. A gente não faz ideia de quão pouco é esse pouco”, ela defende.
Sua última aventura foi na Espanha. Bisco relata que foi uma viagem de 1.100 km em 16 dias. “Nós cruzamos a Espanha de leste a oeste, pegamos inteira a Rota Francesa de Santiago de Compostela, saímos e fomos para a costa na área litorânea, fizemos uma parte do litoral e fomos até La Corunha, um dos portos da Espanha. Por fim, voltamos para Santiago de Compostela por outra rota, chamada Caminho Inglês, numa média de 70 km por dia”, conta a professora.

Bisco diz que a política de trilhas aplicada pelos países europeus, como a Espanha, pode ser emulada em zonas rurais no Brasil. “Nós poderíamos ter trilhas aqui. Foi o que a Espanha fez, quando eles entraram em uma crise econômica muito séria. Eles já tinham essa história, porque o caminho de Santiago de Compostela tem mais de mil anos, então eles o reanimaram, não porque eles são bonzinhos e se importam só com a questão ecológica, mas porque financeiramente é muito bom. Tem cidades em que as pessoas voltaram a morar, porque eles conseguem viver financeiramente do caminho. Isso pode ser feito em várias zonas rurais do Brasil.”


Agência Focs / Jornalismo Uniso

Texto: Brenda Ponciano e Rubens Laturague
Imagens: Brenda Ponciano

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