A Usina da cultura
Crônica
Quem passa pela Rua Padre Madureira pode nem fazer ideia que, logo após aquela ponte, um caminho escuro com mais de um quilômetro é a rota para uma usina que gera cultura. Já quem dirige, anda de ônibus, caminha ou pedala na Avenida Dom Aguirre não consegue passar despercebido pelas linhas inglesas iluminadas do casarão.
Datada de 1909, a casa da cultura alternativa em Sorocaba tomou o lugar desta que foi um dos símbolos do crescimento da indústria têxtil na cidade, uma vez que ali funcionava a usina geradora de energia diesel que movimentava as máquinas da antiga Companhia Nacional de Estamparia (Cianê).
Com o passar dos anos, o prédio foi utilizado como depósito de algodão e, posteriormente, de sucata. Largado a mercê de mendigos e vândalos, foi tombado patrimônio público em 1996. O espaço foi inaugurado oficialmente em 2000 e recebeu o nome do pintor suíço Ettore Marangoni, que trabalhava como Técnico Gravador na Cianê.
Sua fachada de tijolo aparente abriga um salão único de 12,60 metros de largura por 20,20 metros, que foram restaurados em novembro de 2007. A obra custou cerca de R$ 130 mil e não aguentou muito tempo. Dois anos depois, lá estavam os técnicos concertando o telhado que apresentou goteiras e impediram que a Usina funcionasse durante todo o mês de maio de 2009.
A Usina produz agora outro combustível, o que alimenta sonhos e liberta fantasias. A casa recebe peças teatrais, shows e ainda vira sala de cinema. Artistas e bandas como Zé do Caixão e Hai Kai já passaram por suas portas e ela chegou a ser um dos palcos da Virada Cultural Paulista, que movimentou todo o Estado de São Paulo, e do Grito Rock, que atraiu gente de toda a América Latina.
Apesar do prestígio internacional, a classe artística sorocabana brada na imprensa, nas ruas e na internet, há alguns anos, para que sejam feitas melhorias no entorno. A ironia do caminho para uma usina estar em meio ao breu, mesmo já havendo o cabeamento elétrico em toda a extensão. Caminho este em chão de terra batido. Caminho este que poderia ser cortado com a simples construção de uma ponte entre a Avenida Dom Aguirre e o outro lado da marginal.
O caminho das pedras é, literalmente, repleto de pedras e o Poder Público não mostra muita vontade em facilitar o acesso. Se cria, se restaura, se investe numa programação original, mas não se incentiva que os próprios sorocabanos cheguem até lá para prestigiar a arte que brota da terra rasgada.
( Jomar Bellini / AgênciaJor / Uniso)