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Quero mel puro, dizem que é bom para tosse

Você já deve ter ouvido falar que o mel é um agente competente no sistema imunológico. Além de “medicinal”, ele também pode ser delicioso 

Altamente sofisticadas e bem resolvidas, com distribuições de tarefas em suas sociedades organizadas e produzindo um alimento único, lá estavam elas, a rainha e suas operárias, de mudança para o pneu no sítio do senhor Jazíro, na Vila Pedroso, em Votorantim. Depois de aproximadamente cinco anos, as abelhas se tornaram, além de uma fonte de renda, a paixão de seus criadores.

“Eu gosto de andar no mato atrás de abelha, uni o útil ao agradável. Começamos com um caixote e hoje nós estamos com 51 colméias”, conta o apicultor Ednilson Vieira Nunes (52).

Ednilson, filho do senhor Jazíro (78), acompanha o pai desde muito pequeno, “ele tinha uns seis anos e ia comigo tirar abelha”, e, embora não trabalhasse com as abelhas, carregava consigo o interesse pelo assunto, já que seu avô e bisavô teriam exercido o ofício. 

Ednilson e as abelhas, enquanto elas não estavam bravas, no sítio de sua família na Vila Pedroso, em Votorantim
Foto: Ana Laura Ferreira

E foi por acaso que a família notou um grupo de abelhas, instaladas em um pneu, que estava perdido dentro da propriedade. Um apicultor foi acionado e transferiu os animais para uma caixa. Desde então, com muito investimento e capacitação, a criação só cresceu e hoje, produz, em média, 500 kg de mel a cada seis meses. 

Berçário: local em que as abelhas aguardam o processo migratório
Foto: Ana Laura Ferreira

O mel é produzido em grande quantidade no estado de São Paulo, principalmente no período pandêmico da Covid-19, em que a procura aumentou significativamente. Segundo a Secretaria de Agricultura do Estado de São Paulo, em 2020, a produção paulista chegou a 4.527 toneladas, o que representa 9,8% da produção nacional. Contudo a maioria do mel produzido no Brasil não fica aqui. A exportação ocorre principalmente para os Estados Unidos, Alemanha e Canadá, segundo a Associação Brasileira dos Exportadores de Mel. Só os Estados Unidos, comprou 79% da produção dos quatro primeiros meses de 2021.

Mel em tudo

 “Na Alemanha, por exemplo, cada pessoa consome de 3 kg a 4 kg de mel por ano, enquanto o brasileiro consome, apenas, em torno de 500g”, diz Alcindo Alves (64), apicultor e presidente da Federação das Associações dos Apicultores e Meliponicultores do Estado de São Paulo (FAAMESP).

. Para os brasileiros a substância adocicada serve, quase sempre, como um medicamento natural. Ele, assim como a geleia real e principalmente a própolis, que é um antibiótico natural, são considerados agentes auxiliadores do sistema imune e, com essa finalidade, são bem recebidos. Mas, quando se fala em comida, normalmente as primeiras lembranças são de pratos doces, embora exista uma infinidade de combinações salgadas com o produto. O mel é bem-vindo em molhos agridoces, acompanhando um frango assado ou temperando cenouras salteadas.

O mel é extremamente versátil

Há quem o utilize como cosmético e acredite ou não, quando bem preparado, o mel pode deixar de ser apenas um ingrediente dos doces e, em formato de molho, regar uma bela salada. 

A estudante de Nutrição da Universidade de Sorocaba (UNISO), Maria Vitória Lisboa Vaz (22), explica que o mel é rico em vitaminas e mineiras, combate os radicais livres e pode ser usado de muitas maneiras. “Ele pode ser utilizado, também, como substituto do açúcar para as pessoas que não conseguem tirar o açúcar das refeições”, acrescenta. 

Desafios do apicultor 

Ednilson e Alcindo compartilham da opinião de que o brasileiro não valoriza o mel. “Geralmente as pessoas dizem que o mel é de graça, vem da natureza. Mas não é assim. Tem custo com combustível, manutenção do carro para chegar até os apiários”, comenta Ednilson. 

Ainda que a apicultura tenha um perfil econômico extremamente particular, uma vez que a rentabilidade ocorre em grandes proporções independente de sua escala de produção, Alcindo, que está há 45 anos na profissão, sabe o quanto o trabalho pode ser desafiador. Ele também é presidente do Conselho Fiscal da Confederação Brasileira de Apicultura (CBA), e membro da Câmara do Mel Nacional e do Conselho Fiscal da Federação Latino Americana de Apicultura (FILAP).

O desenvolvimento das abelhas é acompanhado. Para facilitar a visualização, a rainha é pintada
 Foto: Ednilson/Cortesia

Além do imposto de 18% cobrado pelo estado sobre os produtos vendidos, a exposição aos riscos (se tratando da abelha africana, que pode levar à morte), os apicultores ainda precisam lidar com a dificuldade em encontrar espaços para colocar os insetos. Esse problema se deve, principalmente, ao uso de agrotóxicos, adotado pelos agricultores instalados próximos aos apiários, já que uma abelha contaminada pode matar uma colmeia inteira. “No estado de Santa Cantarina, o veneno Paraquat foi proibido. Nós batalhamos para isso”, relata Alcindo. A expansão urbana, com residências e loteamentos também dificultam a distribuição dos insetos, já que a distância entre o apiário e residências deve ser de no mínimo 500 metros.   

A iniciativa que tem colaborado com os apicultores é o projeto “Colmeias” da empresa Suzano. Atualmente, em torno de 17 associações e 509 apicultores são beneficiados no estado de São Paulo. 

Alcindo conta que parte da sua produção vem do “Colmeias”. “A Suzano é uma empresa de reflorestamento e com o projeto de sustentabilidade, sede as áreas dos espaços de eucalipto para o cultivo das abelhas”, colaborando com a renda de muitas famílias. 

Quem iniciou uma tentativa em ajudar os apicultores e principalmente os meliponicultores foi a deputada estadual Maria Lúcia Amary (PSDB). Ela criou um projeto de lei que regulamenta a criação de abelhas sem ferrão conhecidas como abelhas indígenas, abelhas nativas ou meliponíneos. 

“A meliponicultura não é regulada por lei no estado de São Paulo. A matéria é regulada hoje por norma federal e resoluções da Secretaria de Infraestrutura e Meio Ambiente e da Secretaria de Agricultura. O projeto de nº 486/21 unifica a regulamentação, criando cadastro único para os criadores e estabelece o compartilhamento de informações entre as secretarias. A lei também oferece maior segurança jurídica para o meliponicultor”, explica a deputada Maria Lúcia.

A iniciativa, que foi apresentada no dia 7 de agosto de 2021, teve início com o pedido dos criadores de abelhas do município de Sorocaba, “eles buscavam uma regulamentação bem definida para a atividade”, justifica a deputada. 

O projeto está tramitando na Comissão de Constituição, Justiça e Redação da Assembleia Legislativa de São Paulo.

Sem rótulo, sem qualidade

Grande parte da população acredita que o verdadeiro mel está nos potes de vidro, sem rótulos, que são vendidos nas portas das casas, no entanto, o apicultor explica que esse produto pode enganar facilmente seus compradores, já que não possui um selo de qualidade. Muitos podem estar comendo sacarose, um xarope de açúcar, e não mel.

“O mel é industrializado. Na fábrica, ele passa por um processo de filtragem, mas nada é acrescentado”. Alcindo também conta que o produto é testado e recebe o rótulo de qualidade do Serviço de Inspeção Federal (SIF), que confirma que, de fato, se trata de um alimento puro. 

“Quase perdi R$130 mil” Alcindo Alves

O apicultor também relata que logo no início de sua cooperativa, quase sofreu um golpe. “Chegou uma época que não tinha mel. Um dia um homem passou com mel nas costas. Eu experimentei e era puro”.

Confiando na procedência do produto, ele decidiu efetuar a compra. Mais tarde, antes de realizar o pagamento, descobriu que havia sido enganado. “Eu despejei o líquido e vi que o que estava por cima era mel, mas o restante era sacarose”, conta. 

Felizmente, a experiência não permitiu que ele fosse enganado, mas, muitas pessoas não têm esse conhecimento, “é melhor comprar o mel que é vendido em farmácias e supermercados”, frisa Alcindo. 

Caso produtos desta procedência sejam identificados, é possível efetuar uma denúncia à Vigilância Sanitária do município de Sorocaba, através do telefone (15) 3229-7307, ou à Vigilância Sanitária do estado de São Paulo, por meio do número (11) 3065-4600.  

Propriedade da família Vieira Nunes
Foto: Ana Laura Ferreira

Ainda que o trabalho tenha seus desafios, cultivar o mel é o prazer dos apicultores. Ednilson, que começou por uma brincadeira, hoje não se vê exercendo outro ofício, “A gente gosta. A gente faz, porque gosta”. 

O importante, segundo o senhor Jazíro, é o respeito com as abelhas, “e mesmo que a pessoa faça o curso, tenha dez, vinte, trinta anos de experiência, sempre respeite”, finaliza.

Receita

Um biscoito feito de mel, aveia e ameixa é uma boa opção para quem gosta de levar o mel para a culinária. A estudante de nutrição, Maria Vitória Lisboa Vaz (22), e também proprietária de uma doceria, em Sorocaba, indicou essa receita criada pela marca Nestlé, para que você possa praticar:

Ingredientes

Meia xícara (chá) de ameixas secas sem caroço

2 colheres (sopa) de água

1 xícara (chá) de farinha de trigo integral

1 xícara (chá) de Aveia Flocos 

4 colheres (sopa) de açúcar mascavo

1 colher (chá) de fermento em pó

2 colheres (sopa) de manteiga

2 colheres (sopa) de mel

1 ovo

Modo de preparo

  1. Em um liquidificador, bata ligeiramente as ameixas com a água.
  2. Em um recipiente misture todos os ingredientes até obter uma massa homogênea e que não grude nas mãos.
  3. Modele os biscoitos e acomode em uma assadeira forrada com papel-manteiga.
  4. Leve ao forno médio (180°C), pré-aquecido, por cerca de 30 minutos, ou até dourar. Sirva.

A receita também pode ser encontrada no site da Nestlé (receitasnestle.com.br).

Os biscoitos podem ser servidos no chá da tarde ou como sobremesa
Foto: Nestlé/Divulgação

ANA LAURA FERREIRA

(AGÊNCIA FOCS / JORNALISMO UNISO)

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