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Tecidos, Cores e Resistência: A Moda Afro-Brasileira Como Ferramenta do Empoderamento Feminino

Por Giovana Lima e Laura Briguenti (Agência Focas- Jornalismo Uniso)

O Empreendedorismo Feminino no Brasil

Nos últimos anos, o empreendedorismo feminino tem ganhado força no Brasil. Segundo o Sebrae, as mulheres já representam cerca de 34% dos empreendedores do país, um crescimento significativo impulsionado pela busca por independência financeira e maior autonomia profissional. No entanto, elas ainda enfrentam desafios, como dificuldades no acesso a crédito, desigualdade de gênero no mercado e preconceito estrutural.

Dentro desse cenário, a moda afro-brasileira surge como um espaço de resistência e identidade, fortalecendo não apenas as empreendedoras, mas também a cultura negra no Brasil. O uso de tecidos, estampas e modelagens inspiradas em tradições africanas ressignifica a forma de se vestir e promove representatividade.

Marilda Correa: Construindo a Nossa Voz Afro

A história de Marilda Corrêa no mundo da moda afro-brasileira começou pelas feiras de artesanato de Sorocaba. “A ideia inicial não foi abrir uma loja, mas sim expor meus produtos nesses eventos, como a Feira do Beco do Inferno, a Feira Selvagem e, atualmente, a Feira da Oca”, conta.

Foi a partir dessas experiências que Marilda se conectou com outras empreendedoras e passou a vender suas peças em lojas colaborativas. “A primeira que me abriu as portas foi a Conexão Musas, do Instituto Empodera. Depois, expus no Cuscuz da Morena e na Ponto Com Sorocaba, mas optei por continuar apenas na Conexão Musas devido à flexibilidade de horários”, explica.

O caminho não foi fácil. Um dos principais desafios foi a questão financeira. “Os tecidos africanos são caros, pois são importados. Encontrei fornecedores em São Paulo, mas o custo continua alto”, revela. Mesmo assim, a paixão pela moda afro a manteve firme. “Ela representa alegria, cores e uma história rica. Cada estampa carrega um simbolismo e uma tradição.”

O Diferencial da Nossa Voz Afro

A ‘Nossa Voz Afro’ se destaca pela exclusividade das peças. “Eu procuro não repetir modelos. Cada roupa é única, feita com tecidos africanos de alta qualidade e combinações personalizadas”, afirma Marilda.

Embora algumas pessoas estranhem a estética afro-brasileira, a aceitação tem crescido. “Muitos se perguntam se podem usar, se não estariam apropriando-se de uma cultura que não é deles. Mas explico que a moda é versátil, e a cultura afro faz parte da identidade brasileira.”

A divulgação digital também tem sido fundamental. “Redes sociais ajudam a expandir o alcance. Em lugares como São Paulo, Salvador e até Paris, a moda afro é cada vez mais aceita e valorizada.”

Mercado e Perspectivas

O mercado da moda afro está em expansão, refletindo um movimento global de valorização da cultura negra. De acordo com o Sebrae, o afroempreendedorismo movimenta anualmente cerca de R$2 trilhões no Brasil, evidenciando seu significativo impacto econômico e social.

Para Marilda, um dos maiores ganhos é despertar o interesse sobre a história por trás das peças. “Explico para meus clientes a origem dos tecidos, quem os confecciona e a importância de valorizar esses artesãos. Muitos dos vendedores são africanos que vivem no Brasil e dependem dessa atividade para sobreviver.”

Os planos futuros incluem a expansão para o e-commerce. “Ainda estou estruturando esse processo, pois exige planejamento financeiro. Mas espero, em breve, vender online e levar minha marca para mais pessoas.”

Moda, Empreendedorismo e Resistência

O empreendedorismo feminino é uma ferramenta poderosa de transformação social e econômica. No caso da moda afro-brasileira, ele também se torna um instrumento de valorização cultural e identidade.

Marilda Correa sintetiza sua trajetória com uma mensagem inspiradora: “Se você tem um sonho, deve batalhar para que ele aconteça. Criar a ‘Nossa Voz Afro’ foi um sonho para mim. Meu logo traz uma griot com um cajado apontando para o horizonte e um baobá ao fundo. Isso representa a força para seguir em frente, com ideias que não precisam ser novas, mas que se consolidam no caminho.”

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