Quando a moda dança, canta e desfila a memória: a força das estéticas negras na VIII Semana de Moda da Uniso
Por Gabriela Vasconcelos (Agência Focas – Jornalismo Uniso)

Na semana passada, a VIII Semana de Moda da Universidade de Sorocaba (Uniso) abriu espaço para uma exposição inédita que entrelaçou moda, arte e ancestralidade, propondo um mergulho nas expressões culturais afro-brasileiras por meio de trajes, imagens e histórias. Realizada na Biblioteca Aluísio de Almeida, no Campus Cidade Universitária, a mostra foi idealizada pela professora Aymê Okasaki, em parceria com o Fayola Odara – Grupo de Pesquisas Estéticas e Culturais Africanas e Afro Diaspóricas. A exposição reuniu figurinos e objetos cênicos que atravessaram diferentes linguagens e territórios: música, carnaval, capoeira, samba de roda, religião, dança e performance.
Essa exposição é um trabalho conjunto da VIII Semana de Moda da Uniso com o grupo de pesquisa que lidero, o Fayola Odara. Nosso grupo de pesquisa já participa da Semana de Moda há algumas edições e, desta vez, trouxemos trajes que dialogassem com as distintas cenas que atuamos: música, carnaval, capoeira e samba de roda. Todos os figurinos foram utilizados em celebrações com relação à cultura afro-brasileira, diz a professora.
A professora Aymê Okasaki atua há oito anos no curso de Moda da Uniso, e é doutora em História Social pela Universidade de São Paulo (USP). Sua pesquisa se concentra nos trajes de candomblé, e foi a partir dessa trajetória que ela estruturou o grupo Fayola Odara, com apoio da historiadora Marina de Mello e Souza (USP) e do passista e pesquisador Roberto Santos, doutorando da Universidade Estadual Paulista (Unesp). O grupo tem como proposta ampliar o debate sobre estéticas negras e suas articulações com a vida cotidiana, os territórios e os corpos.
Um dos núcleos da exposição apresentou os figurinos da cantora sorocabana Lalis, desenvolvidos por Marcel Marques – egresso dos cursos de Moda e Jornalismo da Uniso, e recém-mestre em Comunicação pela mesma instituição. Os trajes foram usados pela artista em apresentações e no curta-metragem musical Em Construção, dirigido por Marcel, que também assina a direção de arte e as composições. O filme, exibido na abertura da exposição, está disponível no YouTube e traz elementos visuais que atravessam a experiência da cantora como mulher negra. O curta também pode ser acessado a partir do seguinte link: https://linkdireto.co/emconstrucao.

O trabalho havia sido exposto em um curta musical e também em shows da cantora pela região. Tanto os figurinos quanto as músicas e direção de arte, feitas por Marcel, debatem a trajetória pessoal de Lalis como uma mulher negra e sua relação com a estética, com o cabelo, sua imagem, seja no contexto escolar, durante a infância, na adolescência e na contemporaneidade. Além dos figurinos produzidos, há fotografias do curta. Destaque para o durag (tecido amarrado na cabeça), apresentado na exposição, e para o espelho quebrado e remendado, que aparecem durante o curta, detalha Okasaki.
A mostra também apresentou as fantasias de carnaval criadas por Roberto Santos, passista e figurinista com mais de vinte anos de experiência nas escolas de samba de São Paulo.
Temos os trajes de carnaval de Roberto Santos, passista de escolas de samba de São Paulo, que confecciona todas as suas fantasias. Como homem negro e criador dos trajes, Roberto possui mais de vinte anos de experiência, produzindo com diferentes temas, muitos dos quais refletem as culturas afro-brasileiras e indígenas, afirma a professora.
Para contextualizar ainda mais essa produção, Aymê cedeu seus próprios cadernos de jurada de fantasia do carnaval de São Paulo, função que exerceu em 2014 e 2015 no Sambódromo do Anhembi. O material revela os bastidores dos desfiles e a complexidade do trabalho envolvido em cada apresentação.
Para complementar as fantasias de carnaval, peguei meus próprios cadernos de jurada de fantasia de carnaval de São Paulo, no qual pude atuar nos anos de 2014 e 2015, que mostram os bastidores dos desfiles de carnaval e todo o trabalho que cada escola de samba tem para apresentar seu desfile no Sambódromo do Anhembi, conta.

O terceiro núcleo da exposição é assinado pela pesquisadora Eliany Funari e apresenta trajes, imagens e peças do Núcleo Afro-Brasileiro da USP. O espaço nasceu como uma ocupação no campus do Butantã e oferece aulas de capoeira com o grupo Guerreiros de Senzala, oficinas de dança e celebrações relacionadas aos terreiros do Recôncavo Baiano. A presença dos trajes das sambadeiras de roda destaca as conexões vivas entre São Paulo e a Bahia, entre juventudes urbanas e tradições ancestrais.
Vale destacar os trajes das mulheres sambadeiras de roda e como este grupo conecta São Paulo com os [grupos de trajes] mais velhos na Bahia, destaca Okasaki.
Na abertura da exposição, o público pôde assistir ao curta musical de Lalis e participar de uma oficina de croquis (desenhos feitos à mão), que propôs a criação de trajes de cena inspirados nas peças expostas. Os croquis sugeridos serão utilizados como base para futuros projetos colaborativos com os artistas envolvidos na mostra.
Passamos o curta musical da Lalis e desenvolvemos uma oficina de croquis, na qual o público pôde sugerir trajes de cena inspirados na exposição. Queremos que estes croquis reverberem em projetos com os artistas da mostra, conclui a professora.

A exposição integrou a programação da VIII Semana de Moda da Uniso, afirmando o compromisso com uma educação estética, crítica e inclusiva, capaz de reconhecer a riqueza e a potência das expressões afrodiaspóricas em suas múltiplas linguagens.