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Estudantes denunciam negligência urbana em ensaio fotográfico sobre mobilidade

Ensaio fotográfico realizado por alunos da Uniso retrata, com sensibilidade e crítica, os traços de abandono nas ruas e a luta diária por deslocamento digno

Por Sophia Ruivo (Agência Focas – Jornalismo Uniso)

O descaso se revela pelas lentes atentas de 30 estudantes, que registraram, cada um ao seu modo, os desafios e dores que a mobilidade urbana da Região Metropolitana de Sorocaba promove.

A proposta de observação dos problemas, por vezes tão cotidianos, foi realizada na disciplina de Fotojornalismo para as turmas do terceiro e do quarto semestres.

Os estudantes produziram uma coletânea de 10 a 20 imagens, com temas focados no deslocamento de pedestres e motoristas, nas malhas viárias e nas vias públicas.

As narrativas visuais propostas na coletânea carregam o significado de mobilidade sob o olhar de cada estudante, cada proposta trouxe um olhar único: a beleza dos transportes públicos em horário de menor fluxo, a negligência do Estado, a vida daqueles que vivem do asfalto, o caminho diário e difícil de pessoas que enfrentam os problemas, perigos ou preconceitos que a mobilidade urbana lhes impõe.

Registros impactantes, e legendas fortes permearam as imagens, transformando a rotina invisível de tantos em denúncia e arte.

Entre os temas abordados, o transporte público se destacou: as imagens traduzem o sofrimento coletivo de um sistema sobrecarregado, que, mesmo sendo parte da rotina exaustiva, revela um retrato silencioso e contundente da negligência.

No interior do ônibus, passageiros se dividem entre o cansaço, a pressa e as distrações da rotina. Cada um espera o seu destino final de um jeito | Crédito: Ana Carolina Figueiredo

Contrastando com essa tensão cotidiana, alguns registros revelam a calma dos finais de semana, momentos de paz e contemplação que demonstram a beleza desses respiros na rotina.

Os detalhes despercebidos dentro do expresso | Crédito: Raissa Rosendo

Entre o concreto e o abandono, a lente encontra aqueles que dormem onde ninguém sonha, e transforma silêncio em memória.

Vivemos um sonho ou pesadelo | Crédito: Alexandre Gonçalves
O sono do esquecido | Crédito: Caio Santucci

A temática da mobilidade escancara a presença das pessoas invisibilizadas expostas à vista de todos, enquanto muitos se esforçam para não enxergá-las.

Em meio ao trânsito das grandes cidades, o congestionamento se transforma em fonte de sustento | Crédito: Laura Melaré
Na mesma rua onde se vende paixão, a realidade caminha em silêncio | Crédito: Caroline Soares

Outros recortes demonstraram que o problema de mobilidade começa nos detalhes.

Na pele do asfalto, as cicatrizes do abandono se cruzam como veias abertas da cidade | Crédito: Sophia Ruivo

A professora responsável, Mônica Ribeiro, ressalta justamente essa atenção às realidades mais invisibilizadas. “Destaco o olhar sobre os pedestres, em geral, e, principalmente, sobre os deficientes, e a forma como precisam enfrentar calçadas ruins e outros problemas para se locomover pela cidade.”

A proposta de conclusão da disciplina não foi fácil, cada um com suas percepções procuraram retratar algo que julgavam ser mobilidade, e mostrar, por meio de suas imagens, a realidade de pessoas, próximas ou não, foi assim que a estudante Rayane Azevedo do terceiro semestre contou a história dos pedestres, uma dor que carrega na alma de um relato tão próximo. “O momento mais marcante foi quando parei para reunir todas as imagens, rever o que capturei e, finalmente, enxergar o significado que havia ali, algo que, enquanto eu fazia, ainda não estava tão claro. […] Foi nesse processo que tudo fez sentido. Olhar essas cenas, esses instantes, me fez lembrar da minha mãe, que caminha todos os dias por mais de 5 km, enfrentando calçadas inexistentes, acostamentos perigosos e ausência total de acessibilidade. Ela, como tantas outras pessoas, é uma pedestre invisível: alguém que se arrisca diariamente porque não há outra opção. Pensar nela me emocionou muito. Este trabalho, no fim, virou também um gesto de amor, de denúncia e de apelo. Não é só sobre o caminho dos pedestres – é sobre quem caminha com dignidade mesmo quando a cidade nega o básico. É o meu olhar, mas também o olhar de quem eu amo, minha mãe.”

Trabalho nas ruas: entre sacolas e latas, o descanso de quem vive do e no asfalto | Crédito: Rayane Azevedo

Para Gabriela Margato, outra estudante participante, o desafio trouxe orgulho. “Usar os conhecimentos que tivemos em aula para, de alguma forma, também registrar um pouco do que a comunidade sorocabana passa no dia a dia em relação à mobilidade da cidade, foi muito interessante. Estou orgulhosa de mim.”

A professora Mônica Ribeiro observa que o aprendizado vai além das técnicas de fotografia. “O resultado mais importante, para além da qualidade técnica das fotografias, é o aprendizado com o processo. […] Ouvimos alguns relatos emocionantes, de revolta e até poéticos que conseguiram ir além da visão comum sobre a mobilidade dentro das cidades e trazer reflexões sobre questões maiores.”

Com técnicas de composição fotográfica e linguagem jornalística, cada trabalho se ergue como denúncia, direta, poética ou artística, carregando sentimento em cada enquadramento. São imagens que não apenas revelam, mas exigem que se olhe, que se veja. Porque, às vezes, a cidade se revela mais nas rachaduras do que nos monumentos.

Ônibus/pontos de ônibus/vias públicas/morte do trabalhador brasileiro | Crédito: Gabriela Margato
Crédito: Vitor Silva
As formas de mobilidade jamais se limitam, nem pela idade, nem pelo estilo | Crédito: Lucca Razera
Passageiros descem do ônibus, enquanto outros cidadãos continuam aguardando | Crédito: Ana Cavalheri
Obras no centro alteram a rotina e exigem atenção redobrada com a segurança dos pedestres | Crédito: Marizete Resende
As situações de lixo, restos de entulho e a falta de zeladoria não atrapalham somente a mobilidade urbana, mas também afetam a segurança e a saúde da população | Crédito: Pâmela Beker
Portão histórico contrasta com a estrada de terra mal conservada que moradores e visitantes precisam enfrentar | Crédito: Larissa Tirabassi
Trilhos de trem complementam as ruas do centro de Cerquilho | Crédito: Giovanni Guimarães
Passageiros se aglomeram no transporte público enquanto outros aguardam para embarcar do lado de fora, em Sorocaba | Crédito: Thayana De Almeida
Transporte público/coletivo | Crédito: Luiza Lopes

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