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Vale Tudo entra na última semana como sucesso absoluto na TV e nas redes sociais em diferentes idades

Trama acaba hoje com forte repercussão no público

Por Gustavo Guebert (Agência Focas – Jornalismo Uniso)

O remake da novela Vale Tudo, no ar desde março, pode até ter patinado na audiência no início, mas chegou à sua reta final como um sucesso de audiência e de repercussão. No capítulo em que a vilã Odete Roitman é assassinada, segundo a coluna F5 da Folha de S. Paulo, o folhetim chegou a 31 pontos de audiência na Grande São Paulo, tradicional termômetro da audiência no país. No Globoplay, a novela já é a mais assistida da história da plataforma. A repercussão nas redes sociais é enorme, com cortes no TikTok, paródias e vídeos de teorias sobre a pergunta que ronda o telespectador: “Quem matou Odete Roitman?”

Em 1988, o Brasil parou com a mesma pergunta, na versão original da novela. A dona de casa Ana Lúcia Guebert, de 61 anos, acompanhou a Vale Tudo original e se lembra da repercussão. “As pessoas faziam bolões, teorizavam, mas quase ninguém acertou o assassino. No último capítulo, quando o mistério é revelado, todo mundo ficou surpreso. Foi bem legal.” Sobre as adaptações na nova versão, Ana diz que algumas deram certo, outras, não. “O Marco Aurélio do remake é um personagem muito mais divertido. Continua um vilão, mas um vilão carismático. A Odete Roitman da Débora Bloch arrasou também. Mas algumas coisas ficaram sem sentido. A adaptação do núcleo da irmã do Marco Aurélio com a esposa, por exemplo, ficou esquecida na trama, o casal e a filhinha ficaram sem função, jogados na trama. Essa enrolação com o transplante de medula do Afonso ficou sem graça também.”

A novela é sucesso de repercussão na internet. Cortes com cenas do folhetim pipocam no Instagram e no TikTok, com compilados de Odete Roitman falando “meu bem” ou “mocinha Duprat”, cenas da vilã soltando frases marcantes, momentos divertidos da outra vilã, Maria de Fátima, além de paródias, onde se destacam os vídeos do desenhista e dublador Petit Abel, que faz sucesso com Topete Roitman, em vídeos de humor com situações da novela. O vídeo parodiando do capítulo do assassinato de Odete chegou a 169 mil likes no TikTok.

A comoção em torno da novela é tanta que chegou a ir para as ruas. No Rio de Janeiro, o bloco de Carnaval fora de época, batizado de Débora Bloco, reuniu foliões fantasiados como as personagens do folhetim. Os fashionistas também se empolgaram com a novela. O perfil no Instagram “Closet da Tia Celina”, que tem mais de 28 mil seguidores, descobre de onde são as roupas que a personagem usa e mostra os valores das peças. Até crianças amam o folhetim. A internauta Thais Acauan postou um vídeo da irmãzinha indo para uma festa a fantasia da escola vestida de Odete Roitman, com o vídeo chegando a 73 mil curtidas.

Mas por que essas reações no público? A especialista em telenovela brasileira, professora da Uniso, Geórgia de Mattos, diz que “a telenovela brasileira é um fenômeno cultural que extrapola o mero entretenimento e assume funções sociais, políticas e simbólicas na sociedade brasileira. Seu impacto sobre o telespectador deve ser analisado não apenas individualmente, mas, sobretudo, como um fenômeno coletivo, moldado por processos de mediação cultural, identificação social e construção de imaginários.”

Salta aos olhos como o público mais jovem, da chamada Geração Z, se identifica com a vilã Maria de Fátima, que no remake passa a ser uma influenciadora digital. “Mary de Faty”, como foi carinhosamente apelidada nas redes sociais, conversa com uma geração que se sente frustrada e cansada de não conseguir realizar suas ambições. O estudante Nicolas Teixeira, de 18 anos, fala sobre a relação da personagem com esse público, “a Maria de Fátima foi um presente pra minha geração, porque ela representa aquela vontade de crescer, sobretudo na internet, um anseio por subir na vida. Claro, não me identifico com os crimes dela, mas com essa parte da ambição, sim.” Ele também conta que não assistiu à versão original da novela, e que não acompanhava uma novela da Globo fazia tempo: “mas essa trama de ‘Vale a pena ser honesto no Brasil?’ que tem em Vale Tudo me pegou, e é muito legal ver a repercussão na internet e comentando com as pessoas, porque, mais legal do que ver novela, é conversar sobre novela.”

Há até quem assista à novela mesmo sem gostar muito. Felipe Martins, de 26 anos, conta que acompanhar a trama “se tornou um ‘hate watching’”. Esse termo identifica a prática de assistir a um filme ou programa de televisão para falar mal ou observar os defeitos. Felipe ressalta que o saldo, com a novela quase no fim, é “agridoce”. Ele acredita que o remake não fez jus à produção original, conhecida como uma das melhores do gênero no Brasil. “A novela perdeu o tom. Tinha tudo para ser impactante e optaram por um emburrecimento dos personagens, que viraram só arquétipos. Chega a ser risível que, em mais de 180 episódios, não conseguiram desenvolver os personagens direito.” Ele também reclama do excesso de publicidade, coisa que foi amplamente ridicularizada na internet, mas que trouxe lucro recorde no segmento de novelas da Globo, de acordo com o site Exame. Apesar das críticas, Felipe frisa a importância do senso de comunidade que acompanhar uma telenovela traz, “a novela acabou sendo um veículo importante, nesse ano, para me aproximar de amigos, familiares e pessoas queridas”.  Enfim, Vale Tudo termina hoje,  trazendo de volta o hábito do brasileiro de ir para a frente da televisão, e agora também para a frente do celular ou do computador.

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