Roda de conversa sobre livro que conta a história de Alexandre Vannuchi marca abertura da Semana de História na Uniso
O evento contou com uma apresentação do autor da obra e jornalista Camilo Vannuchi e da historiadora Suellen Marcellino de Campos
Por João Torres (Agência Focs – Jornalismo Uniso)
Uma roda de conversa sobre o livro “Eu só disse o meu nome” que conta a história de Alexandre Vannuchi marcou a abertura da Semana de História na noite de segunda-feira (28) na Universidade de Sorocaba (Uniso). O evento contou com uma apresentação do autor da obra e jornalista Camilo Vannuchi e da historiadora Suellen Marcellino de Campos.
De pé ou sentados no chão, mais de 80 estudantes lotaram o anfiteatro da biblioteca “Aluísio de Almeida” para acompanhar a atividade sobre o jovem estudante sorocabano sequestrado e assassinado pela ditadura empresarial-militar em 17 de março de 1973. Camilo, primo de segundo grau de Alexandre, contou um pouco da história de sua família, sua infância e como foram as descobertas e pesquisas para a produção do livro. “O Alexandre era um rapaz de cabelo encaracoladinho, não vestia gravata, não usava paletó, como naquela foto mais conhecida dele. Era alegre, sempre estava junto dos amigos”, apresentava o escritor.
Para complementar a apresentação, Camilo mostrou ao público algumas fotos encontradas para a produção do livro, entre elas a que inspirou a capa.
O autor também explicou como foi a escrita do livro publicado em abril deste ano pela editora Discurso Direto, “fiz um livro policial, como se fosse um thriller, um romance, fácil de ler. Eu queria falar sobre a ditadura não para quem sabe que foi ruim, eu queria falar para essas pessoas que acham que ela foi boa, que existia ordem e que só foi preso quem estava fazendo coisa errada”.
Alexandre Vannuchi foi preso em 15 de março de 1973 e torturado até a morte dois dias depois no Destacamento de Operações de Informações – Centro de Operações de Defesa Interna (DOI-CODI) de São Paulo. Na época era estudante de geologia na Universidade de São Paulo (USP), e militava no movimento estudantil. Segundo Camilo, ele era uma base de apoio da Aliança Libertadora Nacional (ALN) na faculdade, “ele não era clandestino, não tinha codinome, não sabia atirar. Ia a todas as aulas, tirava ótimas notas. Foi um choque quando ele foi preso e então ficou muito nítida a ideia entre os estudantes que qualquer um poderia ser preso.”
A historiadora Suellen Marcellino de Campos esteve ao lado de Camilo para abordar o impacto da ditadura nos dias de hoje e enquanto professora, como isso deve ser trabalhado em sala de aula de maneira didática. Atualmente, Suellen é doutoranda na USP e o retorno à Uniso significou a ela voltar às raízes. “Estar aqui podendo contribuir um pouco pra mim é devolver, de certa maneira, tudo aquilo que a Uniso me proporcionou desde o começo da minha jornada acadêmica”, contou.
Despretensiosamente na segunda fileira de frente para o palco estava sentada Maria Regina Vannuchi Leme, uma das quatro irmãs de Alexandre. Maria Regina é professora de história na Uniso e permaneceu no anfiteatro até o final para se despedir de seu primo e o acompanhar até o carro. A timidez e a relutância não impediram Maria Regina de destacar a importância da vida de seu irmão ser apresentada para os estudantes. “O fato de abrirmos espaço nos nossos eventos para falar sobre esse período que foi tão terrível para a história do Brasil, e que ainda tem resquícios no que nós estamos vivendo é fundamental para que as jovens gerações conheçam e saibam, para que nunca mais isso aconteça”, disse.
O livro já conta mais de 900 exemplares vendidos após seis meses da publicação. A linguagem simples, de leitura bem conduzida e os fatos históricos marcam a obra de Camilo, que buscou abordar a história do Brasil, de Sorocaba, do movimento estudantil e da juventude que ousou peitar a estrutura ditatorial. No livro, Camilo constroi diálogos da época por meio dos relatos que ouviu e todos documentos que pesquisou, além de recorrer a analogias com os tempos atuais. “Bolsonaro está no livro como um passo atrás, eleito como um projeto de ditador. Também vou mostrar que a Marielle Franco foi uma morte política”.
Entre março e abril deste ano, Camilo também lançou uma série em quatro episódios sobre o livro em formato de podcast. As gravações têm em média uma hora de duração e já ultrapassou a marca de 50 mil downloads. De acordo com o autor, a versão em áudio atingiu um público mais jovem do que a versão escrita, com pessoas entre 25 a 35 anos sendo as principais ouvintes. Link: https://open.spotify.com/show/7EZp7RdSTHpYdNEOYVAq3K?si=e199585d41324c94
Após o término da roda de conversa, foi realizada uma sessão de autógrafos da obra, entregue com uma dedicatória comum: “Resistir é lembrar”, escreveu para cada estudante e professor que comprou a edição.
Semana de História
Organizada e realizada pelo curso de história e pelo Centro Acadêmico “Cássia Maria Baddini”, a Semana de História continua nesta terça-feira (29), com a palestra “Anatomia do Estado Autoritário no Brasil” ministrada pela doutora Carla Longhi, às 19h, no anfiteatro da biblioteca. Mais atividades serão realizadas na quinta e na sexta-feira desta semana, todas abertas ao público.
Rafael Nogueira, estudante do último semestre de história e membro do Centro Acadêmico, explicou que os temas dos encontros deste ano foram trabalhados em torno dos 60 anos da ditadura empresarial-militar (1964-2024). “Os eventos são importantes pela própria divulgação para a nossa comunidade da Uniso, debates que não costumam chegar aos estudantes, debates críticos em relação à ditadura. A semana acadêmica é importante também por permitir que estudantes trabalhadores possam participar da palestra e obter horas complementares que são difíceis de conquistar em horários fora da aula”, disse.
Confira a programação completa da Semana de História: