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Mulheres lideram a luta por espaços e representatividade feminina na política em meio a desafios estruturais

Em um cenário marcado pelo machismo e preconceito, candidatas e eleitas enfrentam obstáculos diários na busca por maior visibilidade em espaços de poder nas esferas políticas

Por Maria Clara Russini (Agência Focas – Jornalismo Uniso)

Apesar de representarem mais da metade da população brasileira, as mulheres ocupam apenas 17,7% das cadeiras na Câmara dos Deputados e 12,3% no Senado Federal. Esses números evidenciam os desafios estruturais que persistem no cenário político, onde candidatas enfrentam barreiras significativas para garantir maior presença e voz nos espaços de poder.

A participação política das mulheres tem avançado, mas de forma lenta e desigual. Embora a lei de cotas tenha aumentado o número de candidatas femininas, a participação efetiva ainda é limitada. Fabíola Alves, eleita como a primeira mulher a ocupar o cargo de prefeita na cidade de Votorantim no ano de 2021, aponta que o apoio dos partidos é frequentemente superficial em relação ao sistema de cotas obrigatórias. “A maioria escolhe mulheres apenas para cumprir o espaço que falta se não, eles não conseguem fechar a chapa completa, e se for pedido apenas seis mulheres, eles vão colocar apenas as seis e acabou” afirma a ex-prefeita.

Foto tirada durante entrevista da ex-prefeita Fabíola Alves, que agora exerce a profissão de arquiteta e urbanista- Crédito: Maria Clara Russini

Além da sub-representação, as mulheres enfrentam desafios como a violência política de gênero. A lei n° 14.192/2021, que criminaliza essa prática, tem sido uma importante ferramenta de combate, mas a violência continua a afetar a vida de representantes femininas no cenário politico. De acordo com o Ministério Público Federal, entre 2021 e 2023, 124 casos de violências políticas de gênero foram monitorados, mas apenas 7% desses casos resultaram em ações penais eleitorais, e uma em cada quatro representações foram arquivadas ou encerradas sem a devida responsabilização.

Em 2023, a ex-prefeita de Votorantim Fabíola Alves registrou uma denúncia de assédio sexual contra o presidente da Câmara de Votorantim, relatando que o caso aconteceu dentro de seu gabinete na prefeitura. “Eu passei por um episódio muito triste, acabei sofrendo um assédio dentro do meu gabinete, a pessoa chegou a encostar, foi horrível e sofri uma exposição tremenda pela mídia, o processo continua rolando, mas nada apaga o que senti.”

Outro fator que dificulta a ascensão das mulheres na política é a sobrecarga de tarefas e a falta de apoio dos familiares. Com a visão deturpada pelo machismo, mulheres que trabalham fora, e que ainda precisam “cuidar da casa”, não possuem tempo para se dedicar a ações ou movimentos voltados para o ato político, enquanto isso, homens conseguem conciliar suas tarefas tranquilamente, principalmente porque contam com o apoio a mulheres para assumir a maioria das responsabilidades domésticas. A atual vereadora de Sorocaba, Fernanda Garcia do Partido Socialismo e Liberdade (PSOL), relata a desigualdade presente no apoio da candidatura de homens e mulheres. “Quando um homem se candidata e resolve participar da política, a esposa está sempre nos bastidores tomando conta da casa, ficando com os filhos, abrindo mão de tudo para o marido obter sucesso, ficando sempre escondida. Mesmo que algumas mulheres se interessem pela política, a sobrecarga não permite que isso vire algo realmente sério, então elas permanecem reclusas sem se envolver, apenas ajudando o marido.” A vereadora completa dizendo que mesmo que algumas mulheres consigam algum espaço, algumas não aguentam a pressão e desistem. “Como o parlamento é muito masculinizado, algumas vereadoras desistem, a pressão é gigante, e a misoginia é presente a todo instante.”

Foto tirada durante entrevista na Câmara Municipal de Sorocaba no gabinete da vereadora Fernanda Garcia em 23/04/2025- Crédito: Maria Clara Russini.

Apesar dos avanços legislativos, os preconceitos e discursos de ódio continuam a limitar a participação feminina nos espaços de poder. Por outro lado, mulheres como a vereadora de Sorocaba Iara Bernardi do Partido dos Trabalhadores (PT), que atuou durante a ditadura militar e foi porta-voz das manifestações pela democracia em um momento tão conturbado, serve como inspiração para as novas gerações de mulheres por conta da sua trajetória, abrindo espaço e mostrando a importância da representação feminina no poder. “Durante muitas vezes, eu fui à única representante feminina em espaços políticos tomados por homens. Agora, fico feliz que o número de mulheres na política tenha aumentado, mas ainda é muito longe do ideal. Penso que devemos incentivar todas as ações para termos no mínimo igualdade nos espaços de poder, participem de debates e sejam corajosas, a voz de vocês importa.”

Foto da vereadora Iara Bernardi na Câmara Municipal de Sorocaba, 2025- Créditos: Acervo pessoal

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