A Síndrome de Down e os caminhos da inclusão social
Vinte e um de março é o Dia Internacional da Síndrome de Down, data criada para lembrar a importância de se combater o preconceito e promover a inclusão social dos portadores. A data remete ao cromossomo 21, que, ao passar por uma alteração genética ocasiona a síndrome.
Quando uma pessoa nasce com Down, é necessário que ela receba acompanhamento dos profissionais da saúde e de educadores desde cedo. Porém, cada um pode ter suas limitações e necessitar de métodos diferentes para se desenvolver.
Ana Paula Brunetti, coordenadora do ensino fundamental do colégio Dom Aguirre de Sorocaba, é formada em educação especial e trabalhou na área por 16 anos em escolas estaduais. Em seu cargo atual, utiliza o método de inclusão, buscando sempre a interação entre os alunos, escola e a família. Há uma pessoa com a síndrome matriculada na instituição, que ingressou neste ano, está na 7º série, tem 22 anos, e não foi alfabetizada nas escolas anteriores. “O desenvolvimento dela já não é o mesmo de uma criança, nós aplicamos as mesmas atividades que o restante da sala recebe, mas de um jeito diferenciado, respeitando seus limites e fazendo com que seu aprendizado seja estimulado”, comenta.
WIllian Marcel (Foto:Arquivo Pessoal) |
Para Ana Paula, o professor nunca está totalmente preparado para o trabalho de inclusão, é necessário sempre estar se aperfeiçoando. “Cada aluno que possui uma deficiência tem uma peculiaridade. O método que utilizei ano passado não é o mesmo que posso aplicar este ano. Nós tentamos colocar em prática de acordo com a realidade de cada aluno, com a bagagem que cada criança carrega em seu histórico”, afirma Ana Paula Brunetti.
A educação no Brasil é um tema bastante discutido entre professores e pesquisadores do país. Muitas crianças não possuem acesso a um ensino de qualidade pela falta de investimento na área, e quando o assunto abrange a inclusão de alunos com deficiência, muitos profissionais não obtêm orientação suficiente para enfrentar essa questão.
Thiago Vieira Almeida, 20, estudante de Pedagogia e auxiliar de classe no Instituto de Educação Especial Clave de Sol, fala sobre a necessidade de preparação dos professores e das políticas inclusivas existentes. “Talvez, as políticas inclusivas sejam eficazes para nos mostrar que existem pessoas com a síndrome, mas não é inclusivo na prática, o sistema apenas as colocam em nosso meio e não nos ensina o que elas têm e nem como incluí-las”.
Quem convive com uma pessoa que possui Síndrome de Down, sabe dos cuidados que são necessários no dia a dia, entre eles, a atenção e compreensão. Wilson Antônio Gobetti, 61, autônomo, é pai de William Marcel Gobetti, 22, que possui a síndrome. Ele conta que o convívio familiar acontece quase que automaticamente e com isso é possível obter grandes aprendizados. “A convivência com ele é ótima, as respostas dele ao que se espera de uma pessoa com deficiência sempre acontecem de forma amorosa, com carinho. Dificilmente ele age com aspereza, isso acaba ensinando a gente a aceitar melhor as adversidades”, conclui.
Maria Helena Xavier (Foto: Arquivo Pessoal) |
Casos de preconceitos existem, apesar de muitos tentarem esconder como se não ocorressem. Amanda Evilin Xavier Pelissari, 18, é irmã de Maria Helena Xavier, 4, que nasceu com a síndrome. Ela relata que sua família aceitou a chegada da irmã de forma tranquila, embora ela tivesse um pouco de preconceito no começo, aos poucos foi sendo conquistada pela irmã. “Hoje, coloco a mão na consciência. Antigamente eu chorava, pois não achava justo e cheguei a perguntar para a minha mãe o porquê disso ter acontecido. Com o tempo, ela olhava para mim e sorria, e eu comecei a me apaixonar cada vez mais por ela. Presenciei seus primeiros passos, e isso tudo é maravilhoso, não há preço que pague”.
Já Valdineia Rosa Martins Franco, 41, dona de casa, é mãe de Evilin Martins Franco, 22. Ela explica que se tornou mãe aos 18 anos, e no começo teve muita dificuldade para lidar com a questão. “Eu não aceitava, mas hoje a vejo como qualquer outra pessoa. Precisei consultar uma psicóloga na época; muitos me aconselharam e, então, fui aceitando. Ela é uma menina muito educada, inteligente, e é uma benção na minha vida, hoje é tudo para mim. É uma lição de vida, nos ensina muitas coisas”.
Os caminhos para a inclusão e aceitação serão sempre novos desafios. Tanto as famílias quantos os educadores estão em constante aprendizado. “É preciso ter boa vontade e o coração aberto para receber essas crianças, quem é professor, é de corpo e alma, pois nasceu para isso”, comenta Ana Paula Brunetti.
O que é
Desde a descoberta da Síndrome de Down pelo médico britânico John Langdon Down em 1862, a ciência e o convívio social passaram a ter grandes avanços, quebrando mitos e barreiras. A síndrome é causada por uma alteração genética dos cromossomos, na formação embrionária, resultando 47 cromossomos ao invés de 46 – 23 do pai e 23 da mãe. Como consequência, o indivíduo nasce com os olhos puxados e oblíquos, língua grande, atraso no desenvolvimento mental e motor.
Texto: Pâmela Ramos / AgênciaJor
Fotos: Arquivo Pessoal