Jornalismojornalismo onlineSorocabaUniso

Luta, memória e resistência: o que passou na Semana da Consciência Negra

Por Fabrizio Setti (Agência Focas – Jornalismo Uniso)

De 17 a 19 de novembro deste ano, foi realizada a Semana da Consciência Negra da Uniso, no anfiteatro da biblioteca do campus cidade universitária professor Aldo Vannucchi. A semana contou com diversas palestras, rodas de conversa e amostras culturais.

O ápice do evento se deu na terça-feira (18), dia em que foi realizada uma homenagem póstuma ao Professor Doutor Ademir Barros dos Santos, também conhecido pelo seu pseudônimo artístico “Ed Mulato”. Uma roda de conversa, mediada pelo jornalista Rafael Filho, a abertura da homenagem teve a execução do hino nacional da África do Sul, seguido de uma apresentação cantada de uma poesia de autoria de Ademir.

Ao longo da homenagem, palavras emocionadas das convidadas, as professoras Eloísa Gonçalves e Gleice Marciano que também são membros do Núcleo de Cultura Afro-Brasileira (Nucab), representaram como elas entendem a relevância Ademir, especialmente, em sua atuação Nucab. Foram apresentados registros das falas de Ademir em documentários e em outras produções audiovisuais ou sonoras. “O vídeo não é uma aula, é um curso inteiro”, disse Eloísa após a reprodução de um dos vídeos.

Ao final da homenagem, as três filhas de Ademir foram partilhar palavras sobre o pai e foi entregue a elas um buquê de flores, cada uma das flores escolhidas com um significado, e uma lembrança simbólica da homenagem.

Na quarta-feira (19), o último dia do evento, foi exibido o curta-metragem musical “Em Construção” e foi realizada a roda de conversa “Corpo, Raiz e Voz: Resistência, Autoestima e Arte”. Com as convidadas Lalis e Gleice Sales, o tema da conversa foi o sentimento de pertencimento que é tratado no curta. Lalis, cantora, compositora e realizadora do curta-metragem, falou sobre a inspiração do curta, sua própria vivência como alguém que não se sente parte, mesmo em lugares onde é bem tratada, o que é compartilhado por Gleice. “Eu me identifico. Eu era muito acolhida, mas não me sentia pertencente ao lugar onde eu estava”, disse Gleice.

Lalis contou que o curta-metragem foi produzido com o apoio da lei Paulo Gustavo e que toda a equipe do projeto é de Sorocaba.

A última palestra do evento “Diáspora africana: Patrimônio Histórico e Arqueologia”, foi ministrada pela convidada Luciana Bozzo Alves, oceanógrafa e arqueóloga. Ela falou sobre como a arqueologia subaquática é importante para a arqueologia afrodiaspórica e para a preservação da memória africana.

Ela apresentou alguns resultados da sua pesquisa em que critica e refuta a visão de que o estado de São Paulo não recebeu um contingente expressivo de escravos, citando que locais no litoral norte paulista, como São Sebastião, Ubatuba, Caraguatatuba e Ilha Bela, tinham pontos de desembarque de escravos. Assim como apontada a existência da Ilha dos Negros, uma ilha pequena em que escravos que eram “ruins de trabalho” eram deixados como uma punição severa.

Ela falou ainda sobre o estudo da paisagem na perspectiva arqueológica e como isso poderia ajudar a preservar a memória. Como exemplo, ela apresentou o projeto de arqueologia subaquática de navios negreiros afundados para preservar e entender melhor a história da diáspora africana, chamado “Slave Wrecks Project”.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *