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Especial Eleições 2014: Vagas de cabo eleitoral atraem mão de obra barata

Durante a campanha eleitoral em Sorocaba, entre julho e outubro, muitas pessoas são seduzidas a desempenhar as funções de cabo eleitoral, como oportunidade de emprego temporário.

A maior parte dos contratados possui qualificações mínimas, como baixo grau de escolaridade, e estão desempregados. Oriundos do comércio, indústria, construção civil, entre outras áreas, além de donas de casa, acabam por ser contratados por partidos, diretamente pelos candidatos e ou ainda aqueles que trabalham para terceiros e não possuem qualquer vínculo legal com seus empregadores.

Joice dos Santos, 24, trabalha como cabo eleitoral participando de panfletagens e bandeiradas em Sorocaba. É a quinta eleição em que ela faz esse tipo de trabalho, e a primeira pelo Partido dos Trabalhadores (PT). Joice não terminou o Ensino Fundamental e já trabalhou como ajudante geral no comércio e indústrias. Atualmente estava desempregada e isso a levou a mais uma vez fazer campanha política. “Foi a oportunidade que apareceu”, diz.

Já Marcela Reis, 27, que tem um perfil parecido com o da amiga, também estava desempregada. Com Ensino Fundamental incompleto, vê na vaga de cabo eleitoral uma fonte de renda. “É minha primeira vez. Eu estava procurando emprego e minhas amigas me falaram desse trabalho, pelo menos garanto dois meses de salário”, explica. Dois meses é o tempo médio de contrato dos profissionais de campanha.

Daniela Almeida, 21, é uma exceção, pois possui Ensino Médio completo. É sua primeira vez como cabo eleitoral e afirma ter sido atraída pelos benefícios. “O salário é bom, é de R$ 800, mais alimentação (café e almoço) e a condução que nos traz e leva embora”, resume.

Alguns acabam abandonando o trabalho antes do esperado, pois conseguem empregos melhores. “Eu fico feliz quando alguém arruma outro emprego, fixo, sei que isso é importante para a pessoa”, afirma Márcia Azzini, 64, coordenadora de campanha do PT de Sorocaba. Porém, a cada desistência, imediatamente a vaga é preenchida.

Segundo Márcia, a contratação é feita através de membros do partido que buscam interessados, além da divulgação informal que atrai muitos desempregados. Na maioria são mulheres. “Como também a maior parte da sociedade é formada por mulheres”, ressalva.

No caso da campanha do PT, o grupo de 40 profissionais é dividido em equipes menores que percorrem diferentes bairros de acordo com uma agenda pré-definida, porém alterável. A maioria dos trabalhadores é da Zona Norte de Sorocaba.

A jornada é de segunda a segunda, das 9h às 18h30, e aos finais de semana das 9h às 13h. O Partido dos Trabalhadores do Brasil (PTB) também realiza a mesma estratégia de campanha e possui uma carga horária de trabalho semelhante. No entanto, a remuneração para o contrato é em diárias, com valor de R$ 26,70, mais alimentação (café da manhã e almoço) e dois passes de ônibus.

Paulo Elias, 40, já foi ajudante geral no comércio, ajudante de obras na construção civil e até domador de cavalos. Hoje distribui panfletos no centro de Sorocaba para o PTB. “Não imaginava trabalhar nisso, mas foi o que apareceu. Eu estava parado há alguns meses”, relata.

Anelice Nogueira, 19, é auxiliar de campanha do PTB, com Ensino Médio completo e formada em Mecânica Automotiva pelo Senai. Participa pela primeira vez de uma campanha eleitoral. Para ela, foi o incentivo do pai, Silvano Nogueira, que a levou a isso. Ele é coordenador de campanha do partido, mas ela diz que não pretende seguir na área. “Isso é temporário, vou estudar Comércio Exterior no próximo ano”, planeja.

De acordo com Anelice, a busca por candidatos nem chega a ser necessária, a própria divulgação boca a boca atrai interessados pelas vagas. Durante a entrevista, uma mulher com uma criança de colo, aparentemente de baixa renda, foi até ela e perguntou se existiam vagas e se o valor era de R$ 26,70 por dia de trabalho. Anelice disse que o valor era esse, mas que no momento não haviam vagas, o partido estava com seu efetivo completo (14 profissionais). A mulher deixou o número do telefone para um possível contato.

No entanto, se engana quem pensa que automaticamente pagando um salário se consegue a fidelidade do trabalhador-eleitor. Mantendo o sigilo do voto, alguns entrevistados confessaram que não votarão nos candidatos que “apoiam”, demonstrando que profissionalismo e política são coisas distintas.

Os contratados serão dispensados neste sábado, dia 4, véspera da eleição.

Yuri Talacimon (AgênciaJor/Uniso)

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