Celebrando os 50 anos de Stonewall, Parada LGBTQ+ reúne milhares de pessoas em Sorocaba
Ao caminhar pelas ruas do centro de Sorocaba no último dia 25, por um momento era possível pensar ser apenas mais uma quente e silenciosa tarde de domingo. Impressão essa que logo se quebrava ao chegar à Praça Frei Baraúna, onde uma multidão colorida e culturalmente diversa se misturava ao som de músicas agitadas e gritos de ordem. Para todos os lados, viam-se as bandeiras listradas multicoloridas, símbolos de uma causa cada vez mais expressiva, uma luta constante contra a discriminação. Cada pessoa marcava sua presença não apenas para reafirmar sua resistência, mas também para exercer sua liberdade de ser quem quiser sem se preocupar com qualquer tipo de preconceito. Era assim que tinha início a 14ª Parada LGBT de Sorocaba.
“Na nossa atual situação política, é muito importante, é um símbolo de resistência mais do que necessário, eu acho que é uma forma de a gente reafirmar os nossos corpos estranhos, as nossas diferenças e o que a gente é, sem rótulos, só a gente sendo luz”, argumenta Alisson Flora, 24 anos, uma das drag queens que estava na parada. “Essa é a segunda que eu participo. Eu morava em Santos, moro aqui em Sorocaba há pouco tempo, e pra mim está sendo ótimo, está sendo muito bonito”.
O evento, que esse ano homenageou o aniversário de 50 anos da Revolta de Stonewall, reuniu milhares de pessoas na praça do antigo Fórum Velho. A diversidade podia ser vista em todos os lugares, alguns participantes usavam fantasias, outros as suas próprias roupas, alguns tinham maquiagens elaboradas e outros tantos estavam cobertos de glitter. O importante era se sentir bem e ser você mesmo. “Eu acho que é o momento de aquilo que está escondido em casa poder sair pra rua, é um único dia que na verdade devia ser o ano inteiro, mas pelo menos nesse dia a gente pode ficar à vontade”, expressa a operadora de telemarketing Daiane Silva, de 30 anos.
Drag queens, como a Maya Trouble, levaram a expressividade de sua arte para a Parada |
Dentre a multidão, havia grupos de amigos, famílias com crianças pequenas e casais, todos dividindo o mesmo espaço, apenas aproveitando o momento. Seguindo a famosa frase “Você não precisa ser gay para lutar contra a homofobia”, a cabeleireira Selma Felix, 52 anos, que acompanhava o evento junto do seu marido comentou: “A gente apoia a causa, mesmo que não tenha alguém na família. Eu acho bonito, é um ato de liberdade isso, fazer o que quer, andar como quer, o importante é ser feliz, eu acho isso”.
“É uma forma de empoderamento e uma forma de mostrar que a gente está aqui pra viver, viver bem e feliz”, diz o também cabeleireiro Erick Campos, de 29 anos. Coisa que José Renato Camargo, um vendedor de 24 anos, concorda. “Aqui eu tenho liberdade de estar abraçado com o meu namorado sem precisar me preocupar. Eu posso ser carinhoso com a pessoa que eu amo, sem ter medo de algo acontecer com a gente”, declarou abraçando Patrick Ferreira, de 23 anos, seu namorado. E quando perguntada sobre a importância desse evento, a estudante Franciele Martins, de 23 anos e amiga do casal, respondeu: “É poder ser livre para ser quem eu sou e isso é muito bom!”.
A Revolta de Stonewall
Há 50 anos houve o primeiro grande confronto entre a comunidade LGBTQ+ e representantes do governo. Foi esse o momento histórico que deu início a revolução que buscava por direitos iguais. O palco dessa disputa foi o bar chamado “Stonewall Inn”, que ficava em Greenwich Ville, um bairro da cidade de Nova York.
Na época, esse bar era conhecido por receber várias pessoas que faziam parte da comunidade LGBTQ+ da cidade, incluindo gays, lésbicas, drag queens e pessoas transgênero. Na noite de 28 de junho de 1969, a polícia invadiu o bar e agrediu funcionários e clientes, mas eles não contavam com a reação da população. A revolta foi tão grande, que deu início a cinco dias de protestos contra a perseguição que a comunidade homossexual recebia e à luta por direitos iguais a todos, independente de gênero e orientação sexual. No ano seguinte, no lugar onde antes ficava o bar Stonewall Inn, houve a primeira Marcha do Dia da Libertação. Com o passar do tempo essa marcha foi aumentando, sendo reproduzida em outros locais e acabou se tornando as Paradas do Orgulho LGBTQ+ que acontecem hoje em dia.
A bandeira LGBT coloriu as ruas do centro de Sorocaba |
Agência Focs / Jornalismo Uniso
Texto e Imagens: Antony Isidoro e Isa Feijó