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Associação de Sorocaba defende o bilinguismo para inclusão do surdo

A língua brasileira de sinais, ou como é mais conhecida, libras, é a linguagem utilizada por deficientes auditivos para se comunicarem, além de ser a segunda língua oficial do Brasil. É uma junção das línguas de sinais, brasileira antiga e francesa, e apesar de seu reconhecimento por lei ser jovem, de apenas 17 anos, a surdez é um problema que acomete a sociedade desde sempre, gerando problemas de comunicação e consequentemente uma exclusão da população não ouvinte.

 Segundo dados do IBGE de 2013, 1,3% da população brasileira, ou seja, mais de 2 milhões e meio de brasileiros de 14 anos ou mais, apresentam algum tipo de surdez, seja ela completa ou parcial. Mesmo diante desses números, pouco é falado sobre o acesso desse público para uma vida em sociedade. E foi pensando na inclusão dessas pessoas que Maria Ângela de Oliveira, professora da Universidade de Sorocaba (Uniso), criou a Associação do Amor Inclusivo (AAI).

O projeto com os “não ouvintes” começou em 2006, quando ela teve o primeiro contato com uma aluna surda. Porém, a AAI surgiu em 2017, com a percepção da professora de que a libras por si só não era suficiente para o aprendizado de alunos surdos, e de que era necessária uma transformação na metodologia de ensino para deficientes auditivos, para preparar essas pessoas para o mercado de trabalho. “A associação nasceu desse desejo de mostrar pra sociedade que os deficientes auditivos não são ‘coitados’, eles têm potencial […]. Os deficientes vêm como uma pedra preciosa bruta para ser lapidada”.

Um dos grandes problemas entre deficientes auditivos, segundo a professora de libras, é o analfabetismo. Ela conta que vários de seus alunos terminaram o ensino médio, mas não sabem ler ou escrever uma frase. Como educadora, ela acredita que, por falta de metodologia inclusiva eles são abandonados pelas escolas e “vão passando de ano” mesmo sem absorver o conteúdo. São chutados do colégio. Por isso, Maria Ângela está sempre tentando desenvolver metodologias que se adequem às necessidades de seus alunos.

Maria Ângela fala sobre a diferença entre integração e inclusão. Para ela, integração é apenas inserir uma pessoa surda em um meio, seja ele na escola, na igreja ou mesmo no mercado de trabalho. Já a inclusão se trata de desenvolver metodologias que se adequem às necessidades dos surdos.  “quando eu penso em uma aula para todos, é isso… eu vou trazer algo a mais que vai trazer contribuições para o deficiente e para os ‘ouvintes’. […] inclusão é realmente como incluir o outro para que ele faça parte daquele meio, no caso do surdo, a libras e metodologia de ensino”.

Para a professora é de extrema importância nos tornar uma sociedade bilíngue, em que os “ouvintes” saibam libras para se comunicarem com os surdos, e os “não ouvintes” saibam o português para lerem livros e escreverem seguindo as regras gramaticais. Ela conta que os deficientes auditivos têm muita dificuldade ao serem atendidos em lojas ou mesmo em hospitais Portanto, Maria Ângela acredita que para garantir a verdadeira inclusão da população surda, seria preciso que todos aprendessem libras já na educação infantil para uma fácil comunicação entre todos os brasileiros.


Um pouco sobre a AAI
A Associação do Amor Inclusivo oferece cursos para o aprendizado de libras em 3 módulos: básico, intermediário e avançado, visando o ensino da língua de sinais simultaneamente com a fala, para incluir não só os que sabem libras, como também os que fazem leitura de lábios e os ouvintes. Segundo ela, “para ter esse ambiente inclusivo, é importante desenvolver essa habilidade com lábios e mãos”.

A Associação do Amor Inclusivo possui vários projetos, como por exemplo, a ‘boutique sustentável’ e as oficinas de música, informática, português, matemática, artesanato, dança e capoeira, que são gratuitas para os deficientes. Na associação também acontece o ‘lacre solidário’, que é uma campanha que já conseguiu converter os lacres em uma cadeira de rodas, e agora visa conseguir comprar um aparelho auditivo novo para uma aluna da associação. O lema da campanha é “em cada lacre um toque de amor”. “sabe o que eu vejo nesses lacres? O amor ao outro”, diz a professora.

Com a ajuda da prefeitura de Sorocaba, a AAI irá apresentar para o público um de seus projetos, o dança-teatro “O desabrochar do bilinguismo”, que será apresentada dia 28 de Setembro no Teatro Municipal de Sorocaba. A peça será gratuita e bilíngue para atender ouvintes e surdos, e vai contar a historia da língua de sinais, desde seu surgimento até os dias de hoje, e trazendo a imagem da sociedade utópica para os deficientes auditivos: o bilinguismo. “Através da beleza da arte, da dança, do teatro, da historia verdadeira, vamos mostrar o quanto os surdos já sofreram e sofrem até hoje”, explica Maria Ângela.

A AAI depende de voluntários em todos os sentidos, desde mão de obra nas oficinas, de psicólogos, fonoaudiólogos, professores, pedagogos, e de pessoas para ajudar na limpeza. Você pode entrar em contato com a associação pelo telefone (15) 99774-1042 ou pelo Facebook: Associação do Amor Inclusivo.

Texto: Kally Momesso –  Agência Focs / Jornalismo Uniso
Imagem: Acervo Pessoal

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