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Palestra sobre Estado Autoritário é parte da Semana de História da Uniso

Por Rafael Filho (Agência Focs – Jornalismo Uniso)

A palestra Anatomia do Estado Autoritário no Brasil, com a doutora Carla Longhi (PUC/USP), foi uma das atividades organizadas pelo curso de História da Uniso ao longo dessa semana

Dezenas de pessoas compareceram à palestra (que também é o título do livro lançado pela autora) realizada no anfiteatro da biblioteca Aluísio de Almeida – Foto: Rafael Filho

O segundo dia da Semana de História da Universidade de Sorocaba (Uniso) foi marcado por falas contundentes em relação ao autoritarismo praticado pelo Estado brasileiro e suas ramificações. A pesquisadora Carla Longhi falou sobre como o sistema político dos governos militares se formou. De acordo com Carla, o Estado possuía braços na sociedade que levantavam documentos para alimentar o DOPS (Departamento de Ordem Política e Social, uma espécie de “polícia política” que existiu no Brasil) sob ordens do governo militar.

Carla Longhi: “Vivemos em democracia, mas com ideologias autoritárias. E toda lógica autoritária é violenta” – Foto: Rafael Filho

Carla, que possui graduação em História pela PUC/SP, comentou que além das violências físicas praticadas por aparatos repressivos como o DOI-COD (Destacamento de Operações de Informações – Centro de Operações de Defesa Interna, órgão de inteligência e repressão policial subordinado ao Exército durante a ditadura), existe também a violência institucional, uma ferramenta muito utilizada por governos autoritários. “A submissão econômica é uma forma de violência institucional, por exemplo. A sujeitificação, conforme a Chauí [Marilena Chauí, escritora, professora e filósofa brasileira], coisificar a população é outra forma de violência institucional”, afirmou Carla.

Carla Longhi: “Os sistemas autoritários mostram o golpe como uma forma de se retornar à normalidade política. Muito controverso isso, não é? E isso é uma interferência na sociedade utilizando-se a lógica do medo” – Foto: Rafael Filho

Durante suas falas, foi perceptível a defesa que a professora do Departamento de História da PUC-SP faz em relação a importância da pesquisa documental. Ela reforçou que precisamos sempre refletir e interpretar os documentos a que temos acesso. Carla afirmou ainda que, por meio da pesquisa documental, é possível dizer que nos anos 1940 e 1950, portanto antes do golpe militar de 1964, os militares já se posicionavam como atores políticos nacionais.

Por atuar nas áreas de História e de Comunicação, Carla procurou destacar em suas falas as interfaces entre esses dois campos do conhecimento e a importância histórica da imprensa. De acordo com a professora, nos anos que antecederam o golpe militar, já existia uma polarização nos meios de comunicação e a mídia não tinha um pensamento homogêneo sobre a sociedade. “Muitos jornais eram de ideologia liberal. Eles apoiaram o golpe. Eram contra governos de práticas sociais. Depois muitos jornais fizeram o mea-culpa, mas já estava feito”, pondera Carla. Para a pesquisadora, o enquadramento dado por alguns veículos de comunicação para as notícias auxiliou a ditadura. “Discussões sobre anistia eram enquadradas de maneira diferente para o povo, o que gerava um desserviço por parte dos meios de comunicação”, detalha Carla.

O evento contou com a presença não somente de alunos do curso de História, mas também de Relações Internacionais, Direito e os da área de comunicação como Jornalismo e Relações Públicas – Foto: Rafael Filho

Questionada sobre como os estudantes de comunicação podem trabalhar para serem mais assertivos quando tratarem de assuntos que envolvam situações autoritárias, a professora que realiza pesquisas em História do Brasil República com ênfase nos estudos de cultura, cultura política e lógicas autoritárias, afirmou que o segredo está no lugar de fala. “Hoje são construídos conteúdos que não dão lugar de fala para o sujeito. Muitas vezes, o enquadramento se volta para o sistema autoritário, gerando um silenciamento”, indica Carla. A escritora complementa que, em todas as abordagens, é preciso que as falas de todos os lados envolvidos na História estejam presentes. Ela pontua que os leitores, isto é, as pessoas que recebem esses conteúdos, também fazem parte do processo de análise crítica sendo cada um deles responsável por “tentar desmontar a matéria” no sentido de, além de interpretar, desmembrar o conteúdo para um melhor entendimento, encontrando possíveis lacunas e ideias para pesquisas posteriores.

Walter Swensson (à esq.) e Carla Longhi se conheceram em cursos de pós-graduação que cursaram juntos. A amizade permanece em diversos projetos na caminhada acadêmica – Foto: Rafael Filho

O coordenador do curso de História e um dos organizadores do evento, professor Walter Swensson, se disse muito satisfeito com as atividades da Semana de História. “A presença e a participação dos alunos estão superando as minhas expectativas. A palestra da professora Carla Longhi foi muito importante pela atualidade e relevância do tema.” Walter comentou também que a professora Carla “é atualmente uma das principais especialistas no Brasil na historiografia sobre a atuação da espionagem e do aparato repressivo durante o regime civil militar de 1964”.

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