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“Rainhas da Noite. As travestis que tinham São Paulo a seus pés”, memórias das últimas cafetinas românticas de São Paulo

Por Samyra Alves Francisco (Agência Focs – Jornalismo Uniso)

Andrea de Mayo e seu cachorro, Al Capone — Foto: Divulgação

Histórias perdidas de personalidades marcantes que vivem apenas nos relatos orais, sujeitos a distorções com o tempo. Esta é a história de três rainhas da noite, que controlaram com punho de ferro o cenário da prostituição e a luta pela comunidade travesti no centro de São Paulo entre os anos 70 e 90. Jaqueline Blábláblá, Andréa de Mayo e Cristiane Jordan foram vítimas da violência arquival, sendo apagadas da história, tiveram seus feitos revividos por Chico Felitti, que mostrou um pouco a riqueza, glamour e a crueldade desse mundo.

Jaqueline Blábláblá é a primeira a ser apresentada, uma mulher enigmática, dona de um salão de cabeleireiro para travestis que, posteriormente, se torna um bordel de luxo. Sua história é de poder e mistério. Jaqueline morre misteriosamente no dia 1 de maio de 1994, no mesmo dia da morte de Ayrton Senna. O Brasil parou para sentir o luto pela perda do corredor, mas poucas pessoas sentiram a morte de Jaqueline.

Andréa de Mayo pode ser considera a mais artística das três, era conhecida pela sua luta pelos direitos das travestis dentro da comunidade LGBT, por sua língua afiada e por suas apresentações icônicas. Além de apresentar concursos e shows, Andréa foi cafetina de muitas travestis, exigindo a aplicação de silicone como uma forma de aumentar a atratividade. Sua morte ocorreu no dia 16 de maio de 2000 apenas 12 dias após seu aniversário. Andréa faleceu devido a complicações em uma cirurgia de remoção de silicone, com seu corpo já em estado de necrose.

Cristiane Jordan, a mais ligada ao cenário das ruas, começou a se prostituir com menos de 13 anos. Com o tempo, dominou as ruas com força e brutalidade, sendo temida e respeitada. Sua morte aconteceu no dia 7 de setembro de 2007, por um tiro na nuca. Seu falecimento marcou o fim de uma era onde as travestis eram protegidas por alguém que realmente se importava.

Essas três rainhas representaram mais do que personagens de um livro, sendo figuras reais que viveram intensamente. Esse livro não trata apenas de suas histórias, mas também fala sobre saúde, política e menciona personalidades marcantes da história do Brasil que não tiveram seus nomes apagados da história.

O Chico Felitti conseguiu juntar todas estas histórias em um livro maravilhoso, recheado de vida e de detalhes perdidos que foram sendo recuperados aos poucos de pessoas que viveram tudo isso e conheceram as últimas cafetinas de São Paulo.

Particularmente adorei a obra, me senti presa do começo ao fim, como se estivesse hipnotizada por tudo que foi escrito e um tanto admirada e chocada com todo o universo que foi retratado no livro. Jaqueline, Andréa, Cristiane e todas as outras histórias que não foram contadas não mereciam ter sido apagadas, mas por mais que tentassem, suas vozes reverberam até hoje.

Não estou dizendo que elas não fizeram coisas erradas, mas como disse Kaká di Polly, amiga das rainhas, “Quem é só bom no mundo, me fala?” reforçando que não existe apenas pessoas boas ou más, somos um conjunto de tudo, podendo ser boas para alguns e más para outros.

Saiba mais sobre como ter acesso ao livro

Rainhas da Noite é um livro que foi escrito pelo jornalista Chico Felitti, responsável pela criação de outras obras incríveis como “Ricardo e Vânia” e “Elke: Mulher Maravilha”. 

A obra foi publicada no dia 30 de novembro de 2022 e está disponível para compra no site da Amazon, sendo possível adquirir a versão física e a versão digital para kindle.

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