ColunaFocando em

Não falar sobre o dia da Consciência Negra

Faltou um só… Faltou um “só” no título da coluna de hoje e foi proposital, para chamar sua atenção, já que não vou falar sobre o 20 de novembro. Pois não existe esse dia importante no calendário do povo preto.

Consciência Negra: será que a temos? Apesar de ser uma pergunta que fiz em uma reportagem lá de 2021, considero ainda um questionamento muito válido.

O dia da Consciência Negra é uma conquista vitoriosa do Movimento Negro Unificado (MNU) alcançada na década de 1970, mas formalizada nacionalmente somente em 2003, se tornando uma data oficial no calendário escolar, e instituída como data comemorativa apenas em 2011. A data foi oficializada como feriado nacional somente no ano de 2023, ou seja, praticamente 50 anos após a ideia original. Coincidência esse intervalo de tempo? Normal essa lacuna de anos? Para mim não. E isso tem nome e sobrenome: racismo estrutural e necropolítica. 

Em Sorocaba a data é bem movimentada. Geralmente os integrantes dos movimentos negros se reúnem pela manhã para um ato ecumênico na Capela de João de Camargo onde ocorrem também diversas apresentações culturais de capoeira, samba, maracatu e outros. Na sequência ocorre a Marcha Preta, onde os integrantes caminham com faixas de resistências, bandeiras de terreiros de matriz africana, e entoam cantos afros. A marcha termina na praça Frei Baraúna no centro da cidade, onde há anos ocorre a Feira Crespa, com barracas de artistas da cidade, shows musicais e muita interação com a comunidade (você pode ver mais em uma reportagem que fiz para a Focs, confira neste site).

Falando em Sorocaba, é de um movimento negro de nossa cidade que me veio a ideia da coluna dessa semana. É uma tradição do Núcleo de Cultura Afro-Brasileira de Sorocaba (Nucab), geralmente na figura do professor Ademir Barros, abrir suas reuniões mensais, com a leitura das efemérides negras (datas importantes) do respectivo mês. Analisando o documento que contempla os doze meses do ano, percebi que existem (pelo menos nesse levantamento do Nucab, obviamente que existem muitas outras) mais de 150 datas importantes para o movimento negro. 

Faço questão de frisar as quantidades e trazer alguns exemplos de cada mês:

  • Janeiro – 14 (Fundação da Irmandade do Rosário dos Homens Pretos, em São Paulo. Nascimento de Enedina Maruque, primeira engenheira negra brasileira. Revolta dos Malês);
  • Fevereiro – 04 (Nascimento de Lélia Gonzales. Aprovação da Lei Caó);
  • Março – 11 (Nascimento de Abdias do Nascimento. Fim do apartheid na África do Sul. Primeira abolição da escravatura no Brasil: estado do Ceará);
  • Abril – 07 (Independência do Senegal. Assassinato de Martin Luther King. Nascimento de Benedita da Silva, primeira governadora (RJ) negra brasileira);
  • Maio – 17 (Nascimento do geógrafo Milton Santos. Instituída a Fundação Cafuné, pelo Nucab. Dia da África);
  • Junho – 18 (Primeira rebelião de escravos nas Américas: San Juan, Porto Rico. Massacre de Soweto. Criação do Movimento Negro Unificado);
  • Julho – 15 (Joaquim Nabuco funda a Sociedade Brasileira Contra a Escravidão. Nascimento de Frantz Fanon. Oito escravos organizam a 1ª Igreja Batista das Américas);
  • Agosto – 19 (Independência do Benin. Criação da Fundação Cultural Palmares. Morte de Luís Gama, o primeiro advogado negro do Brasil);
  • Setembro – 21 (Lei Eusébio de Queiroz extingue o tráfico negreiro para o Brasil. Fundação do primeiro jornal da imprensa negra “O homem de cor”. Fundação do clube afro sorocabano 28 de Setembro. Surgimento do Instituto de Cultura Afro-Brasileira, o Icab, que futuramente se tornaria o Nucab);
  • Outubro – 03 (Art. 59 da Lei de Contravenção Penal impõe pena de 15 dias a 3 meses para quem for considerado vadio. O Art. 402 da Lei de Vadiagem tipifica a capoeira como crime. Criado, no Rio de Janeiro, o Teatro Experimental do Negro);
  • Novembro – 13 (Lei Feijó. Zulu Nation, primeira posse do hip-hop. Revolta da Chibata);
  • Dezembro – 14 (Dia Nacional do Samba. Revolta Balaiada. Lei 7437 condena a discriminação no mercado de trabalho por motivo de raça ou cor).

Baseado nisso, alguns questionamentos me vieram à mente:

  1. Não desmerecendo a data, mas será que somente o dia 20 de novembro é passível de pautas na mídia, nas rodas de discussões ou até mesmo nos bate-papos informais? 
  1. Será que nenhuma dessas outras datas também não merecia atenção das mais diversas áreas da sociedade?
  1. Por que muitos de nós desconhecemos ou nos esquecemos dessas datas?

Lembrar de datas importantes como essas também faz parte da luta antirracista. São cada vez mais importantes e necessários o letramento racial e a conscientização de todas as raças.

Ter consciência negra não é só no dia 20 de novembro, é o ano inteiro. 

Todo dia é dia de falar (e defender) do povo preto!

SERVIÇO

Conheça o Nucab (Núcleo de Cultura Afro-Brasileira de Sorocaba):

Instagram: @nucabfala

Facebook: https://www.facebook.com/NucabFala.

Site: https://nucabfala.wixsite.com/nucabfala.

Email: nucabfala@gmail.com.br.

C:\Users\rafael.filho\AppData\Local\Microsoft\Windows\INetCache\Content.Word\WhatsApp Image 2024-10-10 at 09.44.32.jpeg

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *