Jornalismo Literário: Uma nova técnica para produzir jornalismo?
Grupo de pesquisa da Uniso estuda, tanto no Brasil quanto no exterior, um novo método de trabalhar com o jornalismo diante de “novas dificuldades” da profissão
Por Thamires Victória Silva Souza (Agência Focs – Jornalismo Uniso)

Estudos defendem que o jornalismo possui diversas vertentes e a literatura passou a fazer parte de determinadas abordagens nos últimos anos. Esta prática, também conhecida como “Novo Jornalismo”, surgiu entre a década de 1960 e 1970. Atualmente, grupos de pesquisa buscam reforçar a relevância desta pauta, ainda mais em meio à esfera inovadora do atual cenário jornalístico.
Criado em 2021 e certificado pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientifico e Tecnológico (CNPq), na Universidade de Sorocaba (Uniso), o Jorlit – Grupo de Pesquisa Jornalismo Literário (JL) e Narrativas de Transformação Pessoal e Social, por exemplo, busca envolver diversos níveis de pesquisa – teórico, metodológico e técnico – e múltiplos aspectos – como o estético, gênero, histórico, ideológico, técnico e ético – acerca do JL, que, por eles, é entendido na perspectiva do jornalismo como literatura.
O grupo pontua que a prática pode ser abordada nas diversas plataformas em que se apresenta – impressa, eletrônica e digital –, bem como pesquisas que, no âmbito das “Narrativas de Transformação Pessoal e Social”, buscam promover o diálogo transdisciplinar com outros campos de estudo e disciplinas.
Coordenado pela Profª. Dra. Monica Martinez, docente do programa de Pós-graduação em Comunicação e Cultura da Uniso, o grupo conta com vários integrantes. Alguns, ainda em nível de graduação e realizando iniciação científica, mas que são parceiros de outras instituições, possibilitando a relação de um coletivo de pesquisadores tanto do nosso país quanto do exterior.
Monica foi a pesquisadora responsável por um projeto cujo objetivo era o mapeamento do Jornalismo Literário como disciplina, agora o estudo também faz parte das atividades do Jorlit. “Já foram publicados dois artigos em revistas científicas. Foram dados que trabalhamos buscando no país todo. ‘Onde eram as instituições brasileiras que ofereciam a disciplina do J.L.?’. Aí descobrimos 42 instituições do Brasil além da Uniso, e é interessante conseguir esse número porque, nessa equipe, tem alunos de iniciação cientifica. Eu estava conversando com outro professor e pesquisador, o BAK, e ele falou: ‘se no Brasil vocês estão em 42 instituições que ensinam Jornalismo Literário em nível superior, o Brasil está na liderança do ensino de JL no mundo’”, conta Monica.

“Nos anos 90 a gente sempre ouvia essa história de que não existe Jornalismo Literário, que ele não é praticado e ‘blá-blá-blá’, então o que a gente descobriu com esse time de pesquisadores do programa da Uniso é que não só existe como também estamos na liderança.”, reforça Monica. “Ele está sendo muito ensinado, ou seja, uma coisa que é muito ensinada dificilmente não será praticada em alguma medida, né? Embora hoje, no caso brasileiro, seja mais comum a prática nos livros-reportagens”.
O Prof. Dr. Guilherme Augusto Caruso Profeta, jornalista e doutor em Educação pela Uniso, acredita que o jornalismo está enfrentando um processo de mudanças. “Existem outros tipos de jornalismo além do modelo ocidental, sejam ‘jornalismos’ que já existiram no passado ou existem em outros lugares do mundo. Aqui mesmo [no Brasil] o jornalismo está em transição”, diz.
“Há muitos autores, pesquisadores e professores, entre os quais eu me incluo, que acreditam que o jornalismo factual está mudando, ou mesmo morrendo. O que vai sobrar então? Jornalismo feito por ‘não-jornalistas’? Inteligência artificial fazendo jornalismo? Talvez todas essas coisas, mas eu aposto bastante em uma ‘literalização’ do noticiário. O Jornalismo Literário é uma alternativa às hard news, que talvez serão substituídas por outra(s) coisa(s).”, explica Guilherme. “Não quer dizer que, no futuro, todo jornalismo será literário, mas talvez seja um dos tipos de jornalismo que mais tem chance de sobrevivência neste mundo caótico que estamos vivendo.”
Guilherme também é autor do livro-reportagem em quadrinhos “Projeto Hibakusha”, publicado em 2020 na ocasião dos 75 anos do bombardeio atômico de Hiroshima. A obra faz parte do acervo do Museu Memorial da Paz (Hiroshima Peace Memorial Museum), no Japão. Em entrevista com o jornalista, foi levantada a possibilidade de características do Jornalismo Literário terem sido usadas em sua produção:
“Entendo que a linguagem pode ser mais ou menos literária, não por ser uma história em quadrinhos, mas por fazer uso das subjetividades. O quadrinho é a mídia. Da mesma forma que temos o jornalismo de TV, de rádio, de jornal impresso e revistas, também temos essa mídia marginal que é o quadrinho. No caso do meu livro, entendo que estamos apostando fortemente numa subjetividade, especialmente no último capítulo”, destaca Guilherme.
A partir das experiências de Monica e Guilherme, chega-se à conclusão de que o JL é uma vertente que está crescendo e ocupando cada vez mais espaço, especialmente no Brasil. Como indica Monica sobre os pesquisadores da Uniso, “é interessante perceber duas frentes importantes. A primeira é na Uniso: temos o professor Guilherme Profeta, que ensina Jornalismo Literário na graduação de Jornalismo, e ainda conseguimos treazer a disciplina para a pós-graduação de Comunicação e Cultura, fazendo com que a gente suba o número para 43, então. A segunda, para mim, foi ter conhecido em 2016 e hoje integrar a IALJS (Associação Internacional de Estudos de Jornalismo Literário, traduzido do Inglês: International Association for Literary Journalism Studies).”
“Faz muita diferença estar conectada a um grupo no exterior onde há mais de 70 pesquisadores de mais de 20 países se dedicando ao estudo do Jornalismo Literário, então tem alguns denominadores comuns que chegam à frente e todo mundo conhece. Se você perguntar qual a obra mais estudada no mundo todo, é a do Truman Capote, “A Sangue Frio”, e quando isso é dito, pessoas de todos os países já sabem do que estamos falando. Portanto, foi um grande divisor de águas participar dessa associação, onde se encontram pares de diferentes lugares do mundo para apresentar resultados”, finaliza Monica.


