Destino do elefante Sandro levanta debate em Sorocaba
Idoso e viúvo, o elefante Sandro pode deixar o Zoológico Quinzinho de Barros em Sorocaba rumo ao Santuário dos Elefantes, em Mato Grosso
Por Letícia Américo Camargo (Agência Focas – Jornalismo Uniso)

O Zoológico Quinzinho de Barros, localizado na cidade de Sorocaba, enfrenta uma disputa judicial desde 2021, quando o Santuário dos Elefantes Brasil (SEB), apresentou uma proposta para a transferência de Sandro para a Chapada dos Guimarães, em Mato Grosso. A justificativa para a transferência é a saúde frágil do elefante, que vem apresentando sinais de depressão desde a perda de sua companheira Haisa que morreu em 2020, aos 60 anos. Sandro tem mais de cinquenta anos e vive no Zoológico desde 1982.
Na época em que Haisa foi trazida para Sorocaba, a intenção era que o casal tivesse filhotes, mas isso nunca ocorreu. Antes de sua morte, as condições de saúde da elefanta já estavam sob investigação, após uma ação judicial movida por uma ONG e pelo Ministério Público que questionava a situação dos animais no recinto. Após a morte, o Ministério recomendou a transferência de Sandro para o SEB.
Sandro e Haisa viviam juntos desde 1995 em Sorocaba. A elefanta nasceu na Ásia e morava em Santa Catarina, em um recinto com duas irmãs. Já Sandro é da América Latina e era animal de circo até ser transferido para o Zoológico. O animal tinha 26 anos quando conheceu a companheira no Zoológico.
Em fevereiro de 2022, o Ministério Público aconselhou a transferência do animal para o SEB, porém a recomendação foi negada pela justiça. Mesmo com a argumentação de que o Santuário poderia oferecer uma estrutura mais adequada às necessidades de Sandro, com espaço mais amplo, ausência de contato com o público, manejo especializado e a possibilidade de convivência com outros elefantes, a decisão foi negada.
O processo judicial tramita desde 2021 e, no dia 23 de abril deste ano, a Justiça determinou que Sandro fosse transferido ao Santuário dos Elefantes Brasil (SEB), no prazo de 45 dias.
O Zoológico divulgou um vídeo em suas redes sociais, em que o vereador Alexandre da Horta (Solidariedade) comenta sobre o acesso a um novo laudo, divulgando a saúde do animal. No vídeo, não é descartada a possibilidade da então transferência.
A divulgação do novo laudo reacende a discussão sobre o futuro de Sandro e a possibilidade de sua transferência para um local mais adequado às suas necessidades.
Enquanto a transferência de Sandro ainda está em discussão, o SEB se apresenta como um destino em potencial. Fundado em 2014, o Santuário dos Elefantes Brasil surgiu como uma ONG sem fins lucrativos dedicada a resgatar elefantes de cativeiros inadequados. A escolha da localização foi estratégica, aproveitando as semelhanças climáticas entre o Cerrado e o habitat natural dos elefantes.

Daniel Moura, tem 41 anos e é biólogo especialista em manejo, conservação de animais silvestres e transporte ético de animais silvestres, além de diretor do SEB. “Justamente pelo Cerrado ter essa configuração, a fitofisionomia do Cerrado é bem diversa e isso favoreceu muito na hora de decidir onde seria o santuário. Foram alguns anos pesquisando e visitando propriedades, encontrando a que tivesse as melhores condições que pudesse abrigar as duas espécies”, explica.

Daniel ainda reforça que os elefantes são resgatados de ambientes inadequados, em sua maioria cativeiros ou circos.
“E os elefantes vem de onde? De cativeiro inadequado. A maioria esmagadora estava em zoológico já, e os outros vieram de circo. Animais que foram apreendidos pelos órgãos ambientais, ou que foram entregues porque o circo já não podia mais utilizar animais lá no final dos anos 90, começo dos anos 2000. E os zoológicos não estavam preparados, a maioria desses espaços não é tão grande, está localizada nos centros das cidades, não tem para onde expandir, não teriam condições de oferecer o que um elefante precisa. Amplo espaço, com características naturais, enfim.”
O Ministério Público entrou em contato com o SEB e questionou sobre as condições do local, e se seria do interesse receber o elefante Sandro no Santuário. Contudo, o processo é lento e demorado, explica Daniel. “O processo é uma ação que demora muito, às vezes, demoram-se anos para concluir. Então tem que aguentar, aguardar os ritos, ver como é que funciona, às vezes, o local que está com o elefante resolve continuar com o elefante, aí a ação não precisa ser concluída, enfim, tem vários caminhos”, afirma.
Ruan Peterson, de 32 anos, é veterinário, e ressalta os males causados nos animais que são mantidos em cativeiros, como estresse e problemas com a saúde mental. Com relação ao transporte, Ruan explica que a situação deve ser bem avaliada. “Vale a pena ver qual é a condição geral do animal, qual é o tempo de viagem, quais as condições da viagem para ver se ele realmente resiste ou não. Transportar um elefante não é nada fácil, nada prático e também deve-se avaliar as condições do santuário.”
O diretor do Santuário reforça que Sandro será recebido em ótimas condições. “É isso que a gente pode oferecer, autonomia e cuidados adequados. A equipe trabalha só com elefante, com experiência de elefante, com equipamento para os exames, sabem fazer o treinamento.”

O Zoológico Quinzinho de Barros foi procurado para se manifestar sobre o assunto, mas a entrevista com um representante não foi agendada o que impediu a atualização de informações sobre o bem estar do animal, bem como a apresentação de um posicionamento da administração do local.
A população de Sorocaba, se mostra bastante divergente em relação ao caso. Vinícius Moura, de 26 anos, é biólogo, e demonstrou indignação diante da situação, em um post nas redes sociais do Zoológico. “Existe, principalmente a questão do choque da mudança. Não só da física nessa viagem, de dois dias, 1500 km…, mas também porque o elefante cria vínculos. Ele já está há décadas no zoológico, desde que ele foi resgatado, dos maus-tratos que sofria no circo. Então ele está há décadas se adaptando, se afeiçoando à equipe. Existem estruturas feitas especificamente para o Sandro. Eu não duvido do trabalho do santuário, dos preparativos que estão sendo feitos. Mas para além de tudo isso, também tem a questão de adaptação dele com a companhia.”
Para Vinícius, a mudança pode afetar a imagem do Zoológico e a identidade da população de Sorocaba. “A principal vítima disso tudo, além do Sandro, será a educação ambiental. O Zoológico vai perder um símbolo, e a população sorocabana também. É uma aposta arriscada, sem garantias de que Sandro vai se adaptar ou sobreviver.”
Sobre a tramitação do processo, Daniel Moura explica que as conversas seguem em andamento e que a expectativa é de que as partes envolvidas cheguem a um consenso, evitando que a disputa se estenda por anos. “O diálogo está fluindo, a comunicação está sendo boa, e eu acredito que, no final, o que é melhor para o Sandro vai ser decidido”.