Ogan Ademir Barros – Chefe do Exército
Série sexta-feira, dia de Oxalá (In memorian de Ademir)
“Conheci Ademir em uma palestra no Colégio Dom Aguirre, onde ele apresentava parte de seu trabalho envolvendo as religiões de matrizes africanas e referências bíblicas pertinentes.
Anos depois, ele decidiu retomar sua caminhada religiosa e aprofundar seu conhecimento do candomblé através da prática. Foi iniciado para o orixá Ogun, senhor da metalurgia, patrono da agricultura e guerreiro valoroso. Sendo ogan — condição dos filhos do sexo masculino que não dão transe —, recebeu um título hierárquico totalmente afinado com sua trajetória no movimento negro: as divindades da Casa atribuíram a ele o título de Balogun, General, Chefe do Exército, aquele que protege a comunidade.
E no dia em que foi apresentado à comunidade para tal mister, eu lhe disse o que o oráculo havia revelado: ‘Você não vai empunhar armas ou dar socos, e sim levantar a voz e a caneta em favor de seu povo!’
E dessa feita, o trabalho de Ogan Ademir extrapolou em muito os limites da comunidade de terreiro, alcançando expressões coletivas como o NUCAB – que nasceu na UNISO, e a Academia através da UFSCAR -, sem se deixar levar por vaidade ou egocentrismo, sempre visando alcançar o melhor para seu povo.
E quem é essa gente? É o povo de santo, é o pobre periférico, é o preto que luta no dia a dia para combater as injustiças sociais.
Meu entendimento, como sacerdote, como admirador sincero e como indivíduo dessa nossa época tão conturbada e contraditória, ouso dizer que Ademir Barros, Ogan Ademir de Ogum, Balogun da Comunidade de Terreiro Ilê Alaketu Asé Ómó Lógúnèdé, quebrou barreiras e venceu preconceitos, dando exemplo a muitos outros de que não é possível vencer guerras sem ocupar-se com atenção de cada frente de batalha.
Fica a saudade e a lembrança do privilégio de ter convivido por anos que representaram troca enriquecedora.
Hoje, ele se encontra na Casa dos Ancestrais, aguardando o momento de estar junto novamente, sob as bênçãos de Olodumare.
Louros sejam atribuídos pelo seu esforço cotidiano, e que seu legado não seja jamais esquecido, Balogun!
Asé o!”
Bàbálórìsá Nivaldo de Logún-Edé, dirigente da Comunidade de Terreiro ILÉ ALAKETU ASÉ ÓMÓ LÓGÚNÈDÉ, sacerdote de Ademir Barros



