Como a Saúde Única pode fazer o controle de doenças parasitárias?
A Saúde Única foi um termo criado nos anos 2000 pelo médico Rudolf Virchow e o veterinário Calvin Schwabe, que viram a necessidade da integração de diversas áreas da saúde para o bem estar da população
Por Ana Torres (Agência Focas – Jornalismo Uniso)
Atualmente, de acordo com a OMS, 60% das doenças infecciosas vieram de animais e 75% das doenças nos últimos 30 anos são decorrentes de zoonoses. A farmacêutica e Mestre em Doenças Tropicais, Jéssica Cristina Bilizario Noguerol Andrade, de 34 anos, aponta que a proliferação dessas doenças pode ocorrer por diversos fatores, um deles sendo a falta de cuidado com saneamento básico.
As zoonoses são doenças infecciosas que são contraídas de animais. Ao entrar em contato fecal oral, picadas e mordidas uma pessoa pode desenvolver raiva, toxoplasmose, leishmaniose entre muitas outras doenças que Jéssica salienta serem negligenciadas, “elas são negligenciadas porque não é obrigado a notifica-las, mas acontecem muito aqui no Brasil”.
Somado a isso, mesmo com 98,54% da população sorocabana sendo atendida com abastecimento de água, e 94,54% com tratamento de esgoto, 10.782 e 10.582 dos habitantes, respectivamente, não tem acesso a água e a coleta de esgoto. A farmacêutica comenta que a preocupação com saneamento básico é uma das formas de combater a proliferação de doenças parasitárias e o adoecimento da população.
Os animais domésticos acabam por serem vítimas e vetores das doenças, o Mestre em Ciências Farmacêuticas e médico veterinário da clínica veterinária a da Universidade de Sorocaba, Murilo Melo Juste Dini, de 36 anos, comenta que a preocupações com o bem-estar dos cães e gatos é uma questão de saúde pública, “porque se eu cuido do animal, garanto que ele esteja saudável, então estou me preocupando também com a saúde do ser humano, […] esse animal estando saudável, eu também controlo esse ambiente”.
Um dos exemplos é a leishmaniose. Os profissionais mostraram uma maior preocupação com os casos da doença. “Quando eu me formei, em 2011, a gente não tinha uma incidência de casos em Sorocaba, era uma doença que se tinha na região, por exemplo, em Marília, e ela veio ao longo dos anos e hoje em dia a gente tem diversos casos na nossa região”, conta o veterinário.
Cristina expõe ainda que a zoonose entra nos casos de doenças negligenciadas, mesmo com o alto volume de pesquisas e tratamentos, “mas ela é considerada negligenciada porque não é todos os lugares que notificam”, diferente da malária, que também é uma doença parasitaria, “quando você atende um paciente e é diagnosticado por malária, é obrigatório notificar e tratar, porque o risco de você transmitir também é perigoso”.
Além dos sintomas de febre, perda de peso, fraqueza e anemia, a leishmaniose também pode apresentar picadas crescentes que se transformam em úlceras e degradação do nariz e da boca. No caso da variante visceral, o paciente pode apresentar um aumento do fígado e do baço.
“A leishmaniose é transmitida por mosquitos, então, se alguém foi para um local onde era endêmico, foi picado, veio para cá, nós também temos uma grande quantidade de mosquitos na região” explica a farmacêutica, “o mosquito picou essa pessoa, que pica um animal, que é um reservatório, que vai picar outra pessoa. Então, a gente precisa apenas de um cidadão com uma região de mosquitos em torno dele para virar uma região onde tenha muitos casos.”
Outro fator de atenção é que dentre os animais infectados, em sua maioria cachorros, entre 40% e 60% são assintomáticos, “quando a gente pensa num animal infectado por algum tipo de doença, o animal pode manifestar sintomas clínicos, como ele pode não manifestar. E esse não manifestar, ele se torna portador da doença”, explica Melo.
O veterinário orienta evitar o contato do animal com mosquitos com métodos repelentes (comprimidos e coleiras), além de zelar a área do animal e manter os exames de rotina em dia.
Outro exemplo é a toxoplasmose, o Brasil mostra um dos maiores índices do mundo, de acordo com o Instituto Adolfo Lutz entre os anos de 2019 e 2022, foram registrados 40 mil casos. Seus sintomas são febre, dor muscular, cansaço e dor de cabeça, em casos mais graves o paciente pode apresentar convulsões, confusão mental, movimentos involuntários e sonolência profundas.
Todos estão suscetíveis a toxoplasmose, entretanto há uma preocupação maior com gestantes, pois o desenvolvimento da doença pode levar ao aborto espontâneo, Jéssica salienta que mulheres que já tiveram contato prévio com a doença tem uma segurança maior do que as que estão tendo durante a gravidez. Dessa forma é necessário concluir todos os exames do pré-natal, para que a doença seja tratada o mais rápido o possível.
A zoonose frequentemente é vinculada como a doença do gato, entretanto, o termo acaba por ser pejorativo, fomentando o abandono e os maus tratos ao animal. A transmissão da doença ocorre pelo contato com as fezes contaminadas do animal.
“As fezes do gato têm que ficar no local por várias horas, normalmente dias, para daí sim ficar infectante. E para se ter contato com essa doença, tem que pegar com as fezes com a mão limpa. A doença vai ter contato com as mãos íntegras da pessoa e colocando a mão na boca, entrando em contato com a mucosa, vai entrar a doença”, explica Melo.
Agir de forma preventiva, como a utilização de luvas, pás e sacolas na higienização das fezes do gato, e manter hábitos higiênicos de evitar o contato com alimentos e objetos antes de lavar as mãos corretamente é uma das formas de evitar a doença.





