O Ademir
Série sexta-feira, dia de Oxalá (In memorian de Ademir)
“Conheci o Ademir no Nucab, eu estava saindo do Nucab, e ele começava por lá, meio tímido, levado pelo professor Jorge Narciso de Matos e o doutor Bernadino Francisco.
Quando nos encontrávamos, ele dizia que sentia minha falta pois eu tinha uma parte no Nucab onde eu levava uma música do país africano visitado naquela reunião no núcleo de estudos e falava sobre a música e levava palavras de alguns idiomas tradicionais daquele país!
Naquele tempo não tinha YouTube à disposição, nem informações online. Indiquei a ele, onde poderia pesquisar, na Biblioteca de Ciências Sociais da USP, a melhor.
Muitas vezes nos encontramos nos Terminas de ônibus de Sorocaba, na época eu era GCM e ele voltava de São Paulo com cadernos satisfeito com as indicações. Também do Núcleo de Estudos Africanos da USP que eu indiquei.
Esqueci de dizer que a professora Gleice Bárbara fazia o texto histórico do país africano visitado nas reuniões!
Com a morte do professor Jorge Narciso, o Ademir, ou Ed Mulato, tomou a iniciativa de pesquisar e de se aprimorar, num primeiro momento difícil, atingir um patamar de conhecimento sobre cultura negra excepcional! A forma pedagógica misturando termos académicos e plásticos, tornou suas aulas cada vez melhores e eficientes. Muitas vezes ele me ajudou, através do seu conhecimento cultural em Sorocaba, em apresentações do nosso grupo Ngoma, que montamos para cantar músicas africanas! Me ajudou a obter espaços para expor poemas em Bibliotecas, etc., num período em que eu havia estado afastado de tudo! Às vezes nos encontrávamos no centro ou num bar perto da sua casa no Central Parque e eram muitas cervejas. O assunto principal era negritude. Falávamos sobre os heróis da África, a ciência da África, a espiritualidade africana etc.
O Ademir foi ou é uma celebridade! Quando eu estava presente, nas suas ótimas aulas sobre ancestralidade, ele sempre me apontava dizendo que eu sabia mais que ele, eu era o mestre!
Mas não era verdade, ele sabia mais, atingiu um estágio que poucos são capazes. Talvez, na prática em Africanismo eu fazia mais do que ele, porém o desenvolvimento de comunicação, passando o saber de negritude para as outras pessoas, o esforço para se aprimorar, para se tornar mestre e doutor, esta luta será dele! Será uma figura sempre impar! Apesar de nós nos últimos tempos não sermos tão próximos por questões outras, deixei um texto poético para ele, e no documentário ‘Onildo em África cores e tons’, de Cleiner Misceno, faço referência a muitas pessoas que me ajudaram e ele aparece.”
Para Ed Mulato!”
Onildo Aguiar – 17/10/2025


