Curly Bob: cabeleireiro revela detalhes do corte cacheado viral feito em Bella Campos para ‘Vale Tudo’
Caio Costa, cabeleireiro há 22 anos e responsável pelo corte, fala sobre o estilo “curly bob” que conquistou o gosto das brasileiras, após a atriz mostrar a rotina de cuidados com o cabelo.
Por Pâmela Beker Gomes de Siqueira (Agência Focas – Jornalismo Uniso)

Um corte conquistou a cabeça de diversas mulheres com cabelos cacheados no Brasil, após ser usado pela atriz e modelo Bella Campos, de 27 anos, para interpretar a personagem Maria de Fátima, na novela “Vale Tudo”. O cabeleireiro responsável pelo corte, Caio Costa, de 39 anos, natural de Campinas (SP) e morador do Rio de Janeiro (RJ), revelou alguns detalhes sobre o estilo e deu algumas informações sobre os cuidados de cabelo com curvatura.
Através do seu perfil nas redes sociais, Bella compartilhou diversas dicas de cremes usados, técnicas de definição e sobre o momento de adaptação ao corte. Os conteúdos geraram brilho nos olhos das seguidoras, e esse desejo avançou para a cadeira de diversos salões de beleza pelo país. O estilo “curly bob” costumava ser pouco usado para corte de cabelo com curvatura, mas esse padrão pode ter mudado.
Caio compartilhou que, no fundo, todo artista quer ver sua obra sendo aceita pelo público. Para ele, uma criança dos anos 80 moldada pela televisão, foi uma experiência positiva ver seu trabalho sendo aceito e alcançando lugares que não imaginava antes. “Nunca, em hipótese nenhuma, pude imaginar que um trabalho meu ia alcançar uma magnitude dessa e levantar tantas discussões, como esse cabelo levantou.”
O corte nasceu em setembro de 2024, depois do profissional cuidar do cabelo da Bella Campos, que estava passando por uma transição capilar na época. Costa explicou que a atriz estava passando por esse processo, pois em outro estabelecimento haviam usado materiais sujos com produto de alisamento no cabelo dela.
Nesse momento, a atriz era apenas uma mulher lidando com esse novo processo, sem querer optar por uma opção radical para retirar as pontas alisadas, os dois ainda nem conversavam sobre a novela “Vale Tudo”. Em novembro de 2024, Bella procurou o cabeleireiro a convite para que ele fosse o responsável pelo cabelo da personagem Maria de Fátima. “Eu fiquei muito feliz, foi incrível”, relembrou.
É para todos os tipos de curvaturas
Costa considera que por muito tempo os cortes de cabelo curto, como o bob ou o “chanel”, eram usados apenas por pessoas com fios lisos, não parecendo referência para crespos ou cacheados, por exemplo. Dessa forma, quem tivesse cabelo com curvatura não se veria usando esse corte, embora a vontade de usar esses estilos nunca tenha deixado de existir.
“As crespas sempre quiserem fazer, mas ao mesmo tempo, elas não tinham nenhum tipo de referência para saber como o cabelo se comportava. Eu acho que quando você faz um trabalho para uma novela, atinge uma grande massa, faz com que as pessoas possam se enxergar também e ter vontade de fazer esse cabelo”, completou Costa.

Caio citou que outro problema, além da falta de representatividade, enfrentada por pessoas de cabelo com curvatura é o preconceito dos olhares para o volume dos fios. Ele explicou que essa sempre foi uma questão enfrentada pelos cacheados, crespos e ondulados, pois era entendido que fios lisos, sem volume ou frizz, eram exemplos de beleza. E que o volume pode ter sido um motivador para o aumento na escolha desse estilo.

“Você pode se enxergar de uma forma diferente, acho que é isso. Acho que o cabelo tem esse poder, de você poder contar uma fase da sua vida com aquele cabelo do momento. Acho que esse é o grande motivo, você pode se ver de várias formas durante a vida e marcar o cabelo, como as grandes divas pop fazem, né? Tipo, a sua era agora é esse cabelo e tudo isso vai mudar o seu comportamento”, referenciou o especialista.
Afinal, o que é um cabelo com curvatura? Os cachos de um cabelo são classificados por letras e numerações que diferenciam suas curvaturas, como: 2B, 2C, 3A, 3B, 3C, 4A, 4B e 4C, abrangendo desde os ondulados até os crespos.

Os cortes como o “curly bob” não conseguem mudar a estrutura de um fio de cabelo, e nem perder a definição. Costa comentou que não existe uma dificuldade na adaptação ao estilo, mas sim, em a pessoa se enxergar com o cabelo curto.

Para os interessados em optar pelo estilo curtinho, Costa deu uma dica essencial do que não deve ser feito: não passar a mão várias vezes pelo cabelo. Assim que finalizar a definição e soltar os cachos ou ondas, o indicado é evitar o contato repetido com os fios, para não perder o formato e evitar o frizz. “Você pode virar sua vida sem ficar toda hora tocando no cabelo, porque isso desmancha a forma, aumenta o fizz. Aí sim, pode ser que você se sinta desconfortável com o cabelo”, apontou.
Aumento na procura pelo corte curto em cabelos cacheados

Há 15 anos atuando como cabeleireira em Sorocaba (SP), Jéssica Rodrigues, de 30 anos, relatou que percebeu um aumento na procura por corte curto em pessoas de cabelo cacheado. Por mês, cerca de dez clientes que sentam nas cadeiras do salão, acabam optando pelo estilo.
Jéssica explicou que o corte era menos procurado entre os clientes, pois além de ser necessário manter a estética, a pessoa precisa gostar do volume e da leveza que traz para os fios. “Muitas pessoas estão ainda descobrindo a potência do seu volume, então preferem transitar para o curto com mais cautela. Sem dúvidas o corte da Maria de Fátima vem influenciando. Ter em rede nacional um corte curto em cabelo cacheado destrava paradigmas impostos que cabelo cacheado não pode ser curto, uma influência totalmente positiva”, disse a profissional.
O “curtinho” é super indicado para pessoas com cabelo com curvatura, principalmente para aqueles que estão passando por um processo de transição capilar, comentou Jéssica. O corte entrega um estilo fácil de finalização, tendo uma manutenção a cada três meses, para manter a beleza.
Para aqueles que ainda não estão acostumados com o volume, a cabeleireira indicou experimentar uma finalização com o cabelo mais ou menos úmido, para entender o gosto da curvatura no fio. Um bom finalizador e um óleo capilar são essenciais para manter uma finalização bonita. Para ela, esse é um estilo de corte que veio para ficar. “Fiquei feliz com a procura pelo corte, é muito bonito ver a liberdade das cacheadas, crespas e onduladas. Minha maior orientação é entender que a curvatura entrega textura, isso ajuda a entender que tem dias em que o cabelo vai estar mais volumoso, com mais frizz. E vai ter dias que vai estar mais polido, ambos são lindos.”

O curtinho já é o favorito há tempos
Há quatro meses, a psicóloga de Itapetininga, Júlia Domingues, de 24 anos, escolheu o estilo curto, pois passou anos com os fios longos e decidiu buscar uma mudança radical. “Me senti empolgada, estava ansiosa pela mudança, foi uma sensação de liberdade.”
Ao cortar, Júlia precisou mudar os cuidados com os fios naturais. Ela diminuiu a quantidade de produtos usados para a finalização e o tempo de secagem com o difusor reduziu pela metade. Uma mudança nos fios também foi notada, percebeu que ficou mais definido e volumoso, apesar da sua raiz ser lisa.
Para ela, optar por um corte curto tendo um cabelo com curvatura foi mais difícil, pois os fios com curvatura não seguem um padrão. E que boa parte dos exemplos nesses estilos de corte são mulheres com o cabelo liso ou modelado com fontes de calor.
“Me sinto livre tendo o cabelo natural, pois me traz a possibilidade de demonstrar minha personalidade. O cabelo natural é rebelde, então existem ocasiões que ele não me faz completamente feliz e tá tudo bem. Acredito que isso está dentro do processo de aceitação das coisas que não podemos controlar”, brincou Júlia.
Já o coração de Ana Laura de Souza Braz, 21 anos, recepcionista em Itapetininga (SP), foi conquistado pelo estilo curto há seis anos. Quando fez o corte pela primeira vez, Ana sentiu uma sensação libertadora. “Eu tinha um cabelo extremamente longo e cheio, que chegava próximo ao final das costas. Quando cortei, senti um alívio, me identifiquei muito com o corte”, relembrou.

Por muito tempo, Ana viveu com o cabelo “indefinido”. Não sabia se ele se encaixava como liso ou cacheado. Depois do corte, ela passou pela transição capilar, abandonou a química capilar e começou a usar produtos do que estava acostumada. Ela sentiu que com o cabelo curto, a curvatura do cacheado definiu mais rapidamente.
“Nossa sociedade infelizmente vive sob pressão estética, é sempre bom ter inspirações diferentes do ‘básico e padrão’. Depois de descobrir a forma de cabelo natural que tenho, e saber cuidar da maneira correta, gosto muito. Ainda faço uso de fontes de calor, mas sem nenhuma química”, contou Ana.

