Budismo, Candomblé, Islã e Umbanda; religiões que costuram a cidade fora do eixo católico-evangélico
“Fés que costuram essa Terra” traz uma nova perspectiva das comunidades religiosas que movimentam a cidade de Sorocaba
Por Ana Torres (Agência Focas – Jornalismo Uniso)
Quando a espiritualidade preenche, ela cria comunidades movidas pela fé, acolhimento e partilha. Por vezes, ela faz seu templo em casas, quintais ou salões, pois maior do que a necessidade de arquiteturas imensas, está a vontade de se reunir e conhecer aquilo que os envolve.
Essa sensação não é exclusiva de uma vertente religiosa, mesmo que o IBGE aponte que há predominância de católicos e evangélicos, que somados chegam a mais de 500 mil pessoas na região de Sorocaba, a cidade se costura em uma grande diversidade de crenças.
Em “Fés que costuram essa Terra”, trabalho de conclusão de curso dos futuros jornalistas Ana Carolina Cirullo Leite, Giovana Santos de Lima, Laura Porto Nacir e Mateus Machado Moraes, são apresentadas de forma poética e delicada quatro comunidades religiosas sorocabanas, estando elas dentro das esferas do budismo, candomblé, islã e umbanda.
Para a orientadora e professora Mestre em Comunicação e Cultura pela Universidade de Sorocaba Mônica Cristina Ribeiro, o resultado do minidocumentário foi muito gratificante e o processo de produção também é destacado. “Eles eram um grupo muito leve, muito comprometido. O que nos preocupou foi que é um assunto muito sensível, porque lida com desigualdade e preconceito religioso. Então, eu acho que eles tiveram muita sensibilidade, muita delicadeza para abordar esse tema que é muito importante.”
Esse compromisso, pontuado pela banca, foi evidenciado pela preocupação de amarrar a narrativa em um todo desde seu título. “Como nós tratamos apenas sobre Sorocaba, quisemos colocar no nome a tradução originária da cidade, terra rasgada. E com base no que queríamos trabalhar, que era a questão de empatia, religiões, optamos por colocar como as fés costuram essa terra. Porque todos eles possuem um laço comunitário, consequentemente, se eles possuem esse lado social, então eles se unem de uma forma que torna a cidade mais empática e unida”, expõe Mateus.
A narrativa foi potencializada pelas personagens cativantes que constroem a história dessas comunidades. Uma delas, que esteve presente no evento, foi Neide Aparecida Marciano Vicente, que há 58 anos pratica o budismo em sua vida, sendo uma das primeiras pessoas negras, juntamente de sua família, a praticar a religião em Sorocaba. “Para apresentar o budismo, falar sobre a minha religião, que é a Soka Gakkai, é muito gratificante. […] Você pode ver, não tem anúncio no jornal, na televisão, não tem nada. Então, a nossa propagação do budismo da Soka Gakkai, de Nitiren Daishonin é através de coração a coração”, fala Neide sobre sua participação no documentário.
Outra personagem muito importante, presente na exibição, é a Mãe de Santo Viviane Tavares Ferraz, de 50 anos, que tem há 20 anos um terreiro de umbanda. No minidocumentário, é possível perceber como o trabalho comunitário prestado pelos umbandistas movimenta a comunidade ao redor, principalmente com as crianças, com aulas de capoeira e curimba.
Viviane comenta como o trabalho de TCC é importante para mostrar a diversidade religiosa e cultural em Sorocaba vinda de diversos lugares: “realmente acho que chegou o tempo de as pessoas entenderem essas diferenças para que haja o respeito, […] essa diversidade, ela precisa ser ampliada para que a gente se trate com mais igualdade”.
Um trabalho que começou de uma curiosidade ao ver uma igreja católica e uma mesquita habitando o mesmo espaço, floriu no trabalho cheio de delicadeza e poesia, que ao término da noite, se viu aplaudido e aprovado.









