Mais um dezembro, sem Clarice Lispector
Por Maria Clara Russini (Agência Focas – Jornalismo Uniso)
Há 48 anos, o Brasil sentia o peso de perder uma das vozes mais atemporais da literatura brasileira. Consagrada como sendo um dos maiores nomes da literatura brasileira do século XX, Clarice Lispector se destacava entre as obras tradicionais, com sua linguagem poética e a capacidade de transformar passagens do cotidiano em um fluxo de consciência majestoso. No dia 9 de dezembro de 1977, Clarice partiu em decorrência de um câncer no ovário, um dia antes de seu aniversário de 57 anos, deixando um vazio no coração de todos aqueles que apreciam a literatura brasileira.
Clarice Lispector nasceu na aldeia de Tchetchelnik, na Ucrânia, no dia 10 de dezembro de 1920. Era filha de Pinkouss e Mania Lispector, casal de origem judaica que fugiu de seu país diante da perseguição aos judeus durante a Guerra Civil Russa.
Ao chegarem ao Brasil, fixaram residência em Maceió, Alagoas, onde morava Zaina, irmã de sua mãe. Clarice tinha apenas dois meses de idade. Por iniciativa de seu pai, todos mudaram o nome. Nascida Haya Pinkhasovna Lispector, passou a se chamar Clarice.
Em 1941, Clarice ingressou na Faculdade Nacional de Direito e empregou-se como redatora da Agência Nacional. Depois, trabalhou no jornal “A Noite”. Em 1943, casou-se com o amigo de turma, Maury Gurgel Valente. Em 1944, formou-se em Direito. Só veio a receber o grau de Bacharel em Ciências Jurídicas e Sociais em 1952.
Em 1944, Clarice publicou seu primeiro romance, Perto do Coração Selvagem, obra onde é explorado desde a infância até a vida adulta da protagonista Joana. A narrativa não ocorre de forma linear, alternando entre lembranças, pensamentos e situações do cotidiano, revelando as dúvidas e reflexões da personagem. A obra provocou espanto entre diversos críticos, por conta de sua escrita que não mantinha o tradicional modelo de começo, meio e fim, fundindo prosa e poesia, revelando o estilo que iria cativar os leitores de Clarice.
Em 1959, Clarice se separou do marido e retornou ao Rio de Janeiro, acompanhada de seus dois filhos, e se aventurou no mundo jornalístico. Logo quando retornou para a cidade, começou a trabalhar no jornal Correio da Manhã, assumindo a coluna “Correio Feminino”.
Nesse mesmo ano, ao dormir com um cigarro aceso, Clarice sofreu diversas queimaduras no corpo e em sua mão direita, a mesma que usava para escrever. Após o ocorrido, Clarice passou por diversas cirurgias e se manteve isolada, mas nunca deixou de exercer sua paixão: a escrita.
Em 1977, Clarice Lispector escreveu A Hora da Estrela, sua última obra publicada em vida, na qual conta a história de Macabéa, uma moça do interior em busca de sobrevivência na cidade grande.
A versão cinematográfica desse romance, dirigida por Suzana Amaral em 1985, conquistou os maiores prêmios do Festival de Cinema de Brasília e deu à atriz Marcélia Cartaxo, que fez o papel principal, o troféu Urso de Prata, em Berlim, em 1986.
No mesmo ano após a publicação, Clarice faleceu em decorrência de um câncer no ovário, um dia antes de seu aniversário no dia 10 de dezembro.
Ao partir, Clarice não deixou apenas suas obras como uma espécie de fonte para usufruirmos; Clarice revolucionou a forma de escrita tradicional e transformou situações que a olhos nus poderiam parecer insignificantes, mas que, com a maestria que apenas Lispector tinha, tudo se transformava em poesia e nos revelava que a beleza nasce no dia a dia, e que tudo pode ser extraordinário se você souber olhar com atenção.
E como já dizia Clarice Lispector: “A palavra é meu domínio sobre o mundo”. Nesta data memorável, nosso único agradecimento é pelo privilégio de ter encontrado a eternidade no instante, espelhada nas páginas onde a sua alma ainda pulsa, transformando o silêncio em poesia.
