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Dia das Favelas celebra a força e a identidade das comunidades brasileiras

Comemorada em 4 de novembro, a data busca valorizar a história, a cultura e a força dos moradores das favelas, além de reforçar a importância de políticas públicas voltadas à inclusão social

Por Maria Clara Russini (Agência Focas – Jornalismo Uniso)

Celebrado em 4 de novembro, o Dia das Favelas é uma data que vai além da lembrança histórica. É um momento de reconhecer a potência e a resiliência de milhões de brasileiros que vivem e constroem diariamente as comunidades que formam o coração pulsante das grandes cidades. A data foi escolhida porque, em 1900, o termo “favela” apareceu pela primeira vez em um documento oficial, quando o delegado da 10ª Circunscrição Policial do Rio de Janeiro se referiu ao Morro da Providência como “Morro da Favella”.

Localizado no bairro da Gamboa, região central do Rio de Janeiro, o Morro da Providência é considerado a primeira comunidade do Brasil. Surgiu no final do século XIX, quando ex-combatentes da Guerra de Canudos e ex-escravizados recém-libertos ocuparam o local, em busca de abrigo e novas oportunidades. O nome “favela” também vem de uma planta medicinal, a faveleira, típica da Caatinga nordestina, encontrada em estados como Bahia, Paraíba, Pernambuco e Piauí.

Com o passar dos anos, o termo “favela” e o uso de “favelado” ganharam conotações pejorativas, tornando-se sinônimo de marginalização e desigualdade. Para diminuir o estigma, expressões como “comunidade” e “periferia” passaram a ser utilizadas, valorizando o pertencimento e a identidade de quem vive nesses territórios. Ainda assim, a luta por reconhecimento e dignidade continua sendo diária.

Segundo o Censo de 2022 do IBGE, o Brasil tem 12.348 favelas espalhadas por 656 municípios, abrigando mais de 16 milhões de pessoas, o que representa cerca de 8,1% da população brasileira. A essas dimensões sociais soma-se uma poderosa realidade econômica: estudos recentes apontam que os moradores das favelas brasileiras movimentam aproximadamente R$ 300 bilhões porano em renda própria. Esse valor mostra que, mais do que territórios de carência, essas comunidades são partes ativas e fundamentais da economia nacional.

Apesar dos desafios como a precariedade de moradia, saneamento e infraestrutura, as favelas são também espaços de inovação, arte, cultura e economia criativa. É nelas que surgem movimentos culturais como o funk, o samba e o hip-hop, além de projetos sociais que transformam realidades e constroem novas perspectivas de futuro.

A formação das favelas está profundamente ligada à história da urbanização brasileira. No início do século XX, o país vivia um intenso processo de industrialização, acompanhado por uma migração em massa do campo para as cidades. A ausência de políticas habitacionais e o aumento da especulação imobiliária empurraram milhares de trabalhadores para as áreas periféricas e desvalorizadas, onde ergueram suas casas com os materiais disponíveis, como madeira, tijolo e papelão.

Hoje, apesar das dificuldades que persistem, as favelas são territórios de resistência e criatividade. São nelas que florescem coletivos culturais, empreendimentos locais, movimentos de solidariedade e expressões artísticas que revelam o melhor da alma brasileira. O Dia das Favelas, portanto, é uma oportunidade de romper estereótipos e reconhecer a importância social e cultural dessas comunidades, que há mais de um século fazem parte da identidade nacional.

Mais do que uma data, o 4 de novembro é um convite à reflexão. Celebrar as favelas é celebrar o povo brasileiro em sua essência: diverso, batalhador e capaz de transformar adversidade em potência.

Como canta Zé Kéti, na voz que ecoa dos morros e das vielas:
“Eu sou o samba, a voz do morro sou eu mesmo, sim senhor. Quero mostrar ao mundo que tenho valor.”

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