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Responsabilidade antes da adoção: dever de quem encontra um animal abandonado

Animais nos lembram que responsabilidade e amor caminham juntos na proteção de vidas que não sabem pedir ajuda

Por Julih Valente (Agência Focas – Jornalismo Uniso)

Gatinha Rapunzel antes e depois de ser adotada- Foto: Julih Valente

A responsabilidade de cuidar de um animal encontrado recai sobre qualquer cidadão que resgata um pet abandonado, segundo veterinários e voluntários de proteção animal, em um contexto atual de superlotação de abrigos e aumento de resgates independentes em cidades brasileiras como Sorocaba-SP, por meio da oferta temporária de cuidados, alimentação, segurança e divulgação para adoção responsável, porque o abandono continua sendo um problema grave no país e os animais dependem da ação humana para sobreviver.

Resgate é o primeiro ato de amor e responsabilidade

A realidade do abandono animal no Brasil exige preparo. Ao encontrar um animal, a responsabilidade começa antes mesmo de decidir adotá-lo. Segundo a OMS, cerca de 30 milhões de animais vivem abandonados no país, cada pessoa que resgata deve cumprir o papel de proteger até garantir um destino seguro.

Por que as pessoas escolhem adotar e como isso fortalece a corrente do bem?

Para o professor Lourenzo Piscinatti, médico-veterinário da Uniso há 11 anos, a adoção ganhou novo significado social. “As pessoas estão se conscientizando cada vez mais da importância da adoção de um pet. Não buscar comprar, mas adotar, porque isso traz benefícios comprovados, para o animal e para quem acolhe.”

Ele lembra que cada adoção bem-sucedida representa uma vaga que se abre para outro resgate, especialmente quando o primeiro cuidado vem de alguém que encontrou o animal.

O que as ONGs veem na prática: amor com certeza, mas com preparo

Na ONG AATAN, que há mais de 30 anos resgata animais e hoje abriga cerca de 180 cães e gatos, a voluntária Stela Maria reforça que acolher exige maturidade. “É uma vida, que pode te acompanhar por 20 anos. Muita gente não pensa na responsabilidade antes de resgatar ou querer adotar.”

De acordo com o Fórum Nacional de Proteção Animal, 90% dos animais chegam às ONGs após serem encontrados por cidadãos comuns, mostrando a importância do tutor temporário consciente.

Adaptação existe, e ninguém nasce sabendo ser tutor

Piscinatti alerta que o entusiasmo pode esconder expectativas irreais. “Tem pessoa que adota por impulso e não entende que vai ter situações inconvenientes. Filhote que destrói coisas, animal que late… é fase de adaptação.”

A paciência e a busca por orientação fazem parte do dever de quem resgata e quem adota.

Quando a fantasia encontra a realidade, resultando em devoluções e frustrações

Stela compartilha que isso também acontece com quem resgata e depois desiste: “Um gatinho foi devolvido porque subia na cama. Ele foi gato demais. Na entrevista, sempre explicamos isso.”

Comportamentos naturais não são defeitos, são características da espécie. De acordo com o Conselho Federal de Medicina Veterinária, educação e adaptação inicial são etapas essenciais para o bem-estar animal.

Critérios e cuidados essenciais ao resgatar e antes de doar

Para o professor Lourenzo, ONGs responsáveis fazem entrevistas para avaliar lares. Mas quem resgata também precisa avaliar. “As ONGs perguntam se há outros animais, se o lar é adequado e se a pessoa tem condições financeiras e emocionais.”

Stela detalha os cuidados da AATAN, “o lar deve ser seguro, sem acesso à rua. Outros animais precisam estar vacinados e castrados.”

De acordo com o CFMV, o resgatante deve providenciar alimentação, abrigo, segurança e avaliação veterinária.

Desafio invisível dos animais “menos escolhidos”

Piscinatti lembra que preconceitos ainda influenciam adoções: “Gatos pretos e animais idosos são mais difíceis de adotar. Cães idosos exigem mais cuidados.”

Stela confirma que “filhotes claros e pequenos saem rápido. Animais mais velhos, tímidos ou pretinhos, quase não têm chance.”

Vínculo que transforma vidas

Segundo Lourenzo, os benefícios mútuos, emocionais e físicos são poderosos. “Conviver com um animal melhora a socialização, estimula atividades e reduz até a pressão arterial.”

Pesquisas da Harvard Medical School reforçam que animais ajudam a diminuir estresse e solidão, experiência que começa no primeiro gesto de acolhimento.

Resgatou? Então é tutor temporário até garantir destino seguro

Stela resume o pedido das ONGs: “Se encontrou, ajude. Tire fotos, compartilhe, procure uma boa adoção. Não abandone com a gente porque estamos cheios.”

De acordo com a Ampara Animal, 60% das ONGs atuam acima da capacidade, muitas sem apoio público.

Conclusão

A proteção animal não começa no abrigo, mas na rua, no momento do encontro. Quando um animal perdido cruza nosso caminho, ele carrega um universo de medos e possibilidades, e cabe ao ser humano oferecer cuidado e destino.

Cada resgate é uma chance de reescrever uma história, e responsabilidade é o primeiro capítulo.

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