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Feira do Hip-hop completa um ano de atividades

A sétima edição da feira marca celebração com nova parceria

Por Letícia Américo Camargo e Raíssa Rosendo Mio (Agência Focas – Jornalismo Uniso)

Acervo de mercadorias pretinha.sim | Foto: Raíssa Rosendo Mio

Conhecida pelos ideais de preservação e luta, a Feira do Hip-hop dedica suas edições à disseminação da beleza da cultura negra e periférica. A 7° edição do evento cobriu a praça Frei Barauna, no dia 26 de outubro, com festejos junto à Red Bull, a produtora: O Som Nunca Acaba e a Academia de Belas Artes, que abriu novas fases para o desfile de moda. O dia foi marcado por artesanato, música ao vivo, danças e grafite. 

Renan Sander Pereira, idealizador da feira, demonstra seu orgulho por proporcionar para Sorocaba, um evento fundamentado na arte – para além do entretenimento do público, a ajuda a quem necessita de um espaço para expor sua arte, seja essa exposição para buscar visibilidade ou transformar projetos em renda. “O hip-hop é isso, é transformar a vida das pessoas”, afirma Sander. 

A Universidade de Sorocaba (Uniso) marcou presença por meio do Projeto Integrador das alunas de Relações Públicas do 6° semestre. Junto ao Sebo Livraria Econômica, o grupo tem como objetivo a propagação da cultura negra e brasileira através de livros, discos e CD ‘s.  Maria Isabele Vágula estudante e funcionária do Sebo fala sobre a importância do resgate à cultura de forma acessível, devido aos elevados custos das obras literárias dentro do mercado. Desse modo o acervo selecionado, focado na cultura preta, como o clássico Quarto de Despejo, escrito por Carolina Maria de Jesus, e no horror, é a maneira do Sebo contribuir para a comunidade e compartilhar seus ideais utilizando a feira, um lugar público e de fácil acesso, como meio de comunicação. Elaine Rosotti Navarro, proprietária do Sebo, viu nessa oportunidade a possibilidade de levar o conhecimento e a empatia para o máximo de pessoas possíveis, visto que a partir do conhecimento o novo é visto com outros olhos, fugindo do medo e da ignorância.  

Grupo do Projeto Integrador das alunas de Relações Públicas do 6° semestre, junto ao Sebo Livraria Econômica | Foto: Letícia Américo

No âmbito do artesanato Tatiana Cristina Ferreira, arquiteta, compartilha suas ecobags estampadas com artistas e figuras públicas dentre as décadas de 70 e 90, como a jornalista Glória Maria e a banda Secos e Molhados. A marca, pretinha.sim, surgiu através da filha de Tatiana, com a produção de acessórios recicláveis, com papel e tecidos. A ideia das ecobags veio a partir da observação do comportamento de visitantes em feiras e da necessidade de oferecer sacolas mais resistentes e duráveis durante as compras. Um meio de viajar no tempo e de trazer à tona artistas de forma eclética indo desde o samba até o rap a mais de seis anos.

Nesse cenário, podemos encontrar diversos expositores que se sentem acolhidos e enxergam no evento uma oportunidade não só para divulgar seu trabalho, mas também para aquecer os corações dentro de uma comunidade aliada. Alessandro Nakagaki, da “AE Aroma”, trabalha com produtos naturais e terapêuticos, como óleos essenciais, cremes, perfumes e até pulseiras difusoras. Em busca de uma alternativa contra a medicina industrial, há cinco anos ele busca melhorar a vida das pessoas à sua volta e participa das feiras da região de Sorocaba como sua principal fonte de renda.

Durante a pandemia, o empreendedor percebeu que a população estava adoecendo mentalmente e viu na medicina natural uma alternativa para solucionar esses problemas. “O óleo mais recomendado para ansiedade e insônia é o de lavanda, pois hoje temos um número muito grande de pessoas com essas queixas. A tecnologia e o acesso fácil às redes sociais impedem as pessoas de terem o contato direto uns com os outros, e nós temos a oportunidade de fazer isso aqui, agora, na feira”, aponta.

O evento também abre espaço para artistas de primeira viagem, que é o caso de Camila Marques Limaldi, psicóloga e artista visual. A jovem de apenas 24 anos pinta desde criança, mas sua paixão pela tinta e pelos pincéis, surgiu há quase dois anos. Acostumada a trabalhar sua arte de forma íntima dentro de seu quarto, Camila começou a postar um pouco de suas inspirações e logo os olhares sobre seus quadros se tornaram atentos.

Camila Marques Limaldi ao lado de seu quadro favorito | Foto: Raíssa Rosendo Mio

“O Sander, organizador do evento me convidou para expor, e é minha primeira vez aqui. Fico feliz de estar em um espaço coletivo, porque às vezes esse processo é tão solitário, é legal estar em um espaço onde as pessoas podem ver e sentir as coisas, conhecer seu trabalho. Adorei a proposta do evento, o espaço. Estou bem feliz”, afirma Camila.

O desfile dessa edição, com a ideia de aproveitar ao máximo o fim de mês, contou com um toque de Halloween ao propor “a beleza do horror”. Iniciado por uma apresentação especial da Belas Artes, o desfile contou com a apresentação de oito modelos, entre eles Natacha Freitas Santos, que mesmo conhecendo a feira por acaso, foi o modo que ela encontrou para se sentir mais próxima da comunidade preta, seu lugar seguro. “Eu cresci numa família de brancos e eu sempre me senti diferente, meio que eu não sabia sobre minha própria história”, desabafa. A paixão pelo acolhimento e pertencimento, junto a coragem de mudar deram a Natacha a motivação para desfilar. “Quero estar lá, me sentir presente, sentir a energia de estarem me olhando e torcendo por mim.”

Modelos desfile “A beleza do horror” | Foto: Raíssa Rosendo Mio

Para sua fantasia a modelo quis expressar algo pessoal em um estilo de palhaço e as sensações por trás do sacrifício para a felicidade do próximo, dentro do estilo streetwear. A vencedora do desfile, Hilary Amaral, conhecida como Big, recebe seu primeiro prêmio após quatro edições desfilando, trazendo roupas focadas no azul, que de acordo com a modelo foram pensadas para trazer uma estética “vilãs da Disney”, tendo a Feira do Hip-hop como uma família, Big dedica sua vitória para seu pai e convida a comunidade para conhecer e participar dos eventos.

Misaki Meiki, de apenas 20 anos, é multiartista visual e uma das únicas mulheres cis que trabalham com a arte Drag em Sorocaba. Ela foi convidada para ajudar nas organizações, desde o ensaio de fotos, figurinos, maquiagem, posicionamento dos modelos e até mesmo uma substituição de um deles, de última hora. Por trabalhar no BallRoom e ser Princess da “Casa de Monstras”, foi convocada por seu trabalho como “transformista medonha”, casando totalmente com o tema.

Misaki é formada como maquiadora profissional há cinco anos, é Drag Queen há três e vive inteiramente de sua arte há dois. Trabalha aos finais de semana em casas de show, às sextas atua como Hostess no Café “Secrets” e também integra o coletivo “Traga Drag”, como Hostess e Residente. “Eu iniciei meu trabalho com as meninas do Rap de Sorocaba, e pude estar ao lado da DJ Brandini, Laysla Laidy, Bibi Rodrigues, Beka, Me desculpa Jessy e Queen of Caos. Fui criada na cultura underground e punk sorocabana, mas também me encontrei na cena do rap, que abriu espaço para que eu crescesse como artista”, conta Misaki.

Para ajudar na decisão do ganhador do desfile, a feira do hip-hop também convidou Camila Ortega, 34 anos, Professora de Design de Moda, Publicidade e Marketing da Academia da Belas Artes, que realizou uma parceria com o evento, e um de seus alunos formalizou o convite. “Fiquei feliz em poder compartilhar minha decisão com a Larissa, pois foi muito difícil, eu não saberia escolher sozinha. Todos se mostraram muito empenhados, as maquiagens, os figurinos, a escolha e as adaptações, deu pra perceber que a parte dos stylings foi muito bem trabalhada”, aponta a professora.

Camila reforça a importância do movimento negro e diz que a moda é feita para todos e deve representar a sociedade diversificada, na mesma intensidade. “A moda é feita para todo mundo, e ela precisa representar e valorizar todos os corpos, origens, raízes e referências. É importantíssimo, não só evidenciar essa vitória, que foi super merecida, mas também essa divulgação e valorização de todos os eventos que reforcem essa diversidade”, diz.

Por fim, ela conta que a universidade trabalhou com o Halloween, e um movimento realizado em parceria com os alunos e professores. Durante a semana, criou-se um incentivo à doação de sangue, brincando com o dia do vampiro e conscientizando a população sobre a campanha.

Representando o caminhar de artistas que construíram um lar para quem buscava acolhimento, a Feira do Hip-hop reforça a importância de manter a cabeça erguida com orgulho. O movimento nunca se cala e sempre relembra que ‘’O SOM NUNCA ACABA’’.

Redes sociais dos modelos: @ph.henrique1139, @kelw_win, @Lixzxwa, @gaa_p, @erick_swz.z, @aaironzx., @big_negonaa e @nath_dfreitas

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