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‘Setembro Azul’ na Uniso marcou Dia Nacional do Surdo

Alunos de Pedagogia e o painel produzido para o Setembro Azul
Setembro começou nublado. De alguma maneira, simbolizando a nuvem de dúvidas e incertezas que ainda rodeiam os surdos. O azul límpido, o azul que os representa, só surgiu depois, com o sol, que finalmente mostrou que eles existem e que têm muitas coisas a dizer. Pensando nisso, a professora Maria Ângela de Oliveira, que ministra a disciplina de Língua Brasileira de Sinais (Libras), na Universidade de Sorocaba, reuniu alunos de nove cursos, – Jornalismo, Comércio Exterior, Dança, Música, Teatro, Artes Visuais, História, Enfermagem e Pedagogia -, para uma grande ação, o “Setembro Azul”, que marca do Dia Nacional do Surdo, em 26 de setembro, e o Dia Internacional do Surdo, no próximo dia 30.
O projeto, inspirado e coordenado pela professora, visa ampliar a visibilidade dos surdos na sociedade, usando as áreas de conhecimento de cada um dos cursos. Para a professora, o projeto tem algo bem mais pessoal, já que sua trajetória com a surdez começou em 2006. “A primeira surda que cruzou meu caminho foi uma moça chamada Josiane. Eu a conheci na catequese e queria ajudá-la a levar uma vida normal”, conta. Ela diz que para isso lhe ensinou a usar um computador e a fazer o currículo, até que a moça conseguiu um emprego.
Graduada em Matemática e pós-graduada em Libras, a professora Maria Ângela afirma que a oportunidade de preparar futuros profissionais de diversas áreas para se comunicarem com os surdos na sociedade é mais que um desafio, pois ainda há muitos problemas para a comunidade surda quanto à comunicação com as pessoas ouvintes. A preocupação da professora se justifica pela falta de uma educação inclusiva, principalmente, quanto ao ensino de Libras nas escolas, instituições de educação superior e mesmo nas empresas e órgãos públicos, já que 5,1% da população brasileira apresenta algum grau de surdez, chegando a 9,7 milhões de brasileiros, segundos dados do IBGE.
União Azul –A cor azul simbolizando o surdo surgiu na Segunda Guerra Mundial, já que os nazistas colocavam uma faixa desta cor no braço dos deficientes para que fossem mortos. Com o passar do tempo, a comunidade surda adotou a cor como sua, mas em tom mais vivo, azul turquesa, que traz uma vivacidade maior.
Para uma comunicação melhor com os surdos, e com um “empurrãozinho” de Maria Ângela, cerca de 200 alunos agora olham para os surdos de uma nova maneira. O projeto “Setembro Azul”, chamado pela professora de “União Azul”, ganhou vida de diversas formas. O curso de Dança desenvolveu uma coreografia apresentada, durante o mês, em um flash mob, que é uma aglomeração instantânea de pessoas em um local público para realizar uma ação inusitada, que foi previamente combinada.
Para a estudante Giovana Cavalcanti Fogaça, 26, do curso de Dança, a maior surpresa veio ao perceber que a dança e a língua de sinais tinham uma semelhança que nunca tinha notado. “A Dança e a Libras estão mais próximas do que imaginamos, pois ambas se utilizam dos gestos e movimentos como instrumento de comunicação e expressão”, afirma. Ela diz que a coreografia foi feita por toda a classe, cada movimento foi pensado e que todo mundo tem sua identidade no resultado final.
Já os estudantes de Música organizaram três canções, Jota Quest – “Dias Melhores”, Tim Maia – “Que beleza” e Banda Mais Bonita da Cidade, com a música “Oração”. Eles ensaiaram em Libras e todas as letras falam sobre amor e aceitação. “Dias Melhores diz muito sobre os surdos, já que eles ainda terão dias melhores em sociedade”, pontua Maria Ângela.

Mauro Tanaka, 42, aluno de Música, diz que a proposta comoveu toda a sala e usar a arte em favor de uma causa tão nobre chega a deixá-lo emocionado. “Ela nos conscientizou da data e da importância que isso tem no meio educacional. E nós, como futuros professores, precisamos entender a importância de todos os nossos futuros alunos”, conta.
Mauro diz que, além de se conscientizar para o futuro, a iniciativa fez com que ele se lembrasse do primeiro episódio que viveu com a surdez. “Quando eu tinha 16 anos, estava no colegial e em minha escola tinha uma unidade que atendia surdos. Um dia, eu já músico, fui convidado para tocar para eles. Achei estranho o convite, mas aceitei”, relembra. Ele conta que quando começou a tocar, percebeu que eles, embora não ouvissem, sentiam a música. “Eles tinham uma sensação sonora a partir da vibração que o violão fazia. Estavam emocionados com uma música que toquei, nunca esqueci”.
Alunos espalharam maões azuis pelo campus da universidade
Os alunos de Jornalismo, além de divulgar as ações dos outros cursos e imagens nas redes sociais, ainda promovem pequenas ações na Cidade Universitária, como a entrega de mãos azuis, com mensagens para a conscientização das pessoas ouvintes. Segundo Luiz Fernando Moura, estudante de Jornalismo, o projeto todo já o modificou, pois hoje já consegue ver surdos que antes não notava. “Fez muita diferença para mim, sempre quis entender e interagir com eles, mas agora eu posso”, afirma.
Outras ações envolveram a produção de vídeos sobre a história da Libras, produzidos pelos alunos de História; um painel com mãos formando a natureza, produzido pelo curso de Pedagogia; uma cena de conscientização feita pelo curso de Teatro; vídeos com explicações de algumas doenças que podem levar à surdez, produzidos pelo curso de Enfermagem. Comércio Exterior participou com uma ilustração sobre como um surdo deve se comportar na entrevista de emprego, e Artes Visuais criou as artes do “Setembro Azul”. Os trabalhos podem ser conferidos pelo endereço http://librasuniso.blogspot.com.br/p/setembro-azul.html.
O projeto já está conhecido pela comunidade surda na região e esse é um grande motivo de orgulho para a professora. Quando questionada se imaginava tudo isso, Maria Ângela diz que hoje o projeto significa tudo para ela e que nunca pensou que fosse se tornar algo tão grande. “Como uma pessoa que acredita nos surdos desde 2006, era isso que eu queria, meu coração pula de alegria em cada ação dos meus alunos, em cada brilho no olhar de cada surdo ao chegar diante de 200 alunos, futuros profissionais, que vão os entender e respeitar”, conclui.

Texto: Lauren Olivieiro (AgênciaJor/Uniso) 
Fotos: Maria Ângela 

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