Endometriose em pauta
A endometriose é uma doença ginecológica que traz grande desconforto às mulheres que possuem, (cerca de seis milhões de brasileiras para ser mais precisa, segundo os dados de 2017 fornecidos pela Associação Brasileira de Endometriose) . Essa doença vem do endométrio, o tecido que reveste o ovário, que nos casos do desenvolvimento acaba se espalhando para outros órgãos como as trompas, ovários, intestinos e bexiga. Isso ocorre porque quando não há gravidez, o endométrio descama e ao invés de ser totalmente expelido na menstruação, ele faz o processo ao contrário, atingindo os órgãos.
O fato de o endométrio ser mais espesso acaba gerando um desconforto em todos os órgãos que ele conseguir se espalhar, gerando dores antes e após às menstruações. Por essas dores é considerada uma doença “silenciosa”. Essas dores que acometem as mulheres acabam atrapalhando suas rotinas, dificultando as obrigações profissionais e pessoais. Além desses fatores, a endometriose traz grandes dificuldades para gerar uma vida, devido ao seu tratamento e o comprometimento dos órgãos afetados. Uma doença séria como essa deve ser informada para que todos tenham o conhecimento da sua gravidade, mas as notícias nos veículos raramente abordam temas como esse, a não ser quando envolvem pessoas de grande importância.
Exemplo disso foi o caso da atriz Lena Dunhan, que devido à doença teve que retirar o útero através de um procedimento cirúrgico chamado de histerectomia, aos 31 anos. A notícia sobre esse procedimento que atriz passou foi divulgada em diversos portais jornalísticos, entre eles: Uol, Veja, El Pais e outros.
O portal El País publicou a reportagem “Endometriose, a doença que fez Lena Dunham tirar o útero aos 31 anos” , relatando as dores que a atriz sentia e a decisão que tomou de retirar os órgãos, uma vez que isso impede a gestação. Em seguida foi apresentada a doença, seus sintomas, tratamentos e a sua gravidade.
Acredito que o fato de um problema como esse ser divulgado quando envolve alguém importante é um resultado do que as pessoas se interessam, e a mídia sempre atenta, utiliza ao seu favor. As celebridades e suas vidas estão cada vez mais presentes nos veículos jornalísticos e isso ocorre porque há audiência.
Assuntos sérios, como doenças, a meu ver devem se divulgados independentes de quem o tem, porque é um problema de cunho social, importante, que está aumentando cada dia mais e que muitos não possuem o conhecimento do que se trata. Faço essa reflexão até mesmo por experiência própria, pois tenho endometriose há alguns anos e demorei para descobrir que minhas dores estavam ligadas a esse problema, até então desconhecido.
O simples fato de essa doença estar crescendo, e desse modo estar atingindo muitas mulheres, já deve ser considerado opção de pauta, porque seu conteúdo pode auxiliar e orientar aquelas que sofrem dores excessivas e ainda não possuem o conhecimento sobre a endometriose. Apresentar os tratamentos, relatar história daquelas que superaram, apresentar dicas e informações pertinentes, são abordagens que podem preencher a notícia.
Mas essa não é a primeira vez que esse tipo de cobertura, com relação às celebridades e doenças sérias, ocorre nos veículos noticiosos. No ano passado, a doença fibromialgia – síndrome de dor generalizada pelo corpo -, se tornou pauta através da cantora Lady Gaga, que devido às dores geradas pela doença teve que cancelar seu show no festival de música Rock in Rio e se submeter a tratamento e repouso.
Os veículos devem estar atentos às essas possibilidades de notícias, incluindo-as em suas editorias de saúde.
Informar e ser um prestador de informação é uns dos principais compromissos do jornalismo, e desenvolver pautas de saúde que abordem doenças sérias como essas e tantas outras que são até mesmo desconhecidas, é uma boa maneira de prezar esse compromisso.
Texto: Miriã de Almeida