Quem é o famoso padre Chef de Sorocaba, por trás da TV?
Padre, cozinheiro, técnico em agropecuária, ex-jogador de futebol americano pelo Sorocaba Vipers, figura pública, praticante de crossfit, ex-vegetariano. O que poderia descrever as experiências de vida de um grupo bastante eclético de pessoas é na verdade o “currículo” de Evandro Luiz Zanardo Paulim, padre da paróquia Santa Maria Madalena, em Sorocaba, que ficou famoso por sua participação no Masterchef, o reality show gastronômico da Band.
Ao entrar para a competição e conquistar o 6º lugar, ele, que na verdade é natural de Tietê, não imaginava que sua vida viraria do avesso, nem que tantas oportunidades surgiriam a partir da experiência. “O Masterchef foi um divisor de águas na minha vida”, ele diz. Hoje, ele relembra que não foi fácil, já que o programa semanal de duas horas costuma ser gravado durante dois dias intensos, muitas vezes estendendo-se madrugada adentro, mas, seja por mérito, um pouquinho de sorte, intervenção divina ou uma pitadinha de tudo isso, ele está convencido de que sua alegria, sua criatividade e sua simplicidade mostraram ao Brasil aonde pode chegar uma cozinha caipira, regional e familiar.
As origens do amor pela comida
Quando questionado sobre suas memórias em relação à cozinha, Paulim relembra dos tempos em que costumava ir ao sítio da avó materna, num Fusca apertado com outras 14 pessoas, todas as sextas-feiras à noite. Sua avó foi uma paciente psiquiátrica no fim da vida e, mesmo com todas as dificuldades, jamais deixou que seu eu interior deixasse de se sobressair por meio dos pratos que preparava. Ele conta que a alegria dela era ver a família em pé, não importando como estava por dentro. “As Mulheres-Maravilha existem sim, seja no fogão ou onde elas quiserem. Para mim, essa mulher era a minha inesquecível avó materna, que me ensinou que cozinha é entrega, dedicação e sorriso no rosto.” Essa bandeira continua sendo levantada até hoje em sua igreja.
A escola agrícola da qual ele fazia parte, que se reunia para cozinhar aos fins de semana, também traz muitas lembranças. Já no seminário, ele aprendeu a fazer pães e doces, e chegou até a vender picles. Posteriormente, dedicou-se à sua paixão pelo churrasco (ainda que tenha sido vegetariano por três anos). Foi o gosto pela carne e também a necessidade de levantar fundos para reformas na igreja que o levaram a começar a organizar eventos de Costela de Chão em Sorocaba, cidade em que vem vivendo durante metade da sua vida até então.
Antigamente, os convites para esses eventos levavam cerca de dois meses para serem vendidos; hoje, com a ajuda da fama que o reality show trouxe, os mais de 800 convites são esgotados em apenas 5 dias. Apenas com esses eventos sazonais, já foram arrecadados mais de R$ 240 mil, o que ultrapassa a premiação em dinheiro do programa da Band, de R$ 200 mil.
Sorocaba e a Gastronomia
Ao descrever sua experiência em Sorocaba, Paulim diz que a cidade que o acolheu lhe dá legitimidade como pároco e como pessoa. “Nós temos várias raças e culturas, e todas dialogam. A dona Maria que faz a buchada de bode troca suas experiências com a senhora que faz a paella todo domingo”, ele exemplifica, por um lado entusiasmado, mas preocupado que o ritmo desenfreado da vida contemporânea leve a um desânimo da população quando o assunto é cozinhar em casa.
Na igreja, ele cozinha para si mesmo, ou às vezes come fora. Gosta de prestigiar os restaurantes locais, nos bairros Wanell Ville e Júlio de Mesquita. Ele diz preferir uma comida simples: “Sem ‘empratamentos’ ou padrões internacionais”, brinca. Ele reconhece que a cidade tem restaurantes finos, principalmente na área do Campolim, e alguns bistrôs que têm dado muito certo, mas sente falta de uma pegada amazônica na região, concluindo que falta uma maior conversa com a brasilidade em si. “Nós temos feiras de churrasco e feiras internacionais, por exemplo, mas nada que valorize nosso país”, alerta. Além disso, ele acredita que tais eventos gastronômicos sempre vêm acompanhados de um preço muito alto, que acaba excluindo as classes mais baixas.
Para quem deseja seguir os seus passos, o padre Chef alerta que a profissão é bastante romantizada pela mídia e muito mais árdua do que parece: são horas em pé, atrás de um fogão que “parece um inferno”. Por outro lado, é uma carreira que ele incentiva, para aqueles que realmente têm tal sonho. Ele acredita que esse aumento do interesse pela Gastronomia, que se pode observar nos últimos tempos, pode, no fim das contas, colaborar para o crescimento e a mudança do setor em Sorocaba e região.
Agência Focs / Jornalismo Uniso
Texto: Marcos Innocencio Rodrigues
Imagem: Reprodução | Facebook
Imagem: Reprodução | Facebook