EventoMOBIUniso

Elenco do Douver Circus conta sobre como é viver da arte e da tradição para estudantes da Uniso

Por Maria Luiza Weiss, Juliano Rosa e Clara Abrami – Cobertura Focs (Agência Focs – Jornalismo Uniso)

Evento Mobi – Foto: Clara Abrami

Nos dias 5 e 6 de abril aconteceu na Universidade de Sorocaba o MOBI, um festival que buscou apresentar novas visões sobre sustentabilidade, criatividade, mobilidade e inovação na região e se destacou ao atrair pessoas de todas as idades para assistir ao circo Douver que se apresentava no evento.

Com dois dias de apresentações e toda a estrutura montada na universidade, o circo de quatro gerações também se destacou ao fazer uma palestra apresentando as vivências e culturas de um circense, as dificuldades de estar sempre na estrada, como é para as crianças que crescem como artistas e a paixão de manter esta tradição.

Atualmente o Circus possui 25 artistas em sua companhia, porém a filha de Douver Adriano, o atual líder do show, Luane, contou que há épocas que a companhia chega a ter 50 pessoas se apresentando.

“Depois da pandemia, muitos acabaram indo trabalhar na cidade, foi muito difícil para todos nós. Ainda é, pois os artistas não conseguem muita oportunidade trabalhando na cidade, então agora que alguns estão voltando para o circo”.

           Eles explicam que os artistas ficam sabendo sobre as oportunidades oferecidas para trabalhar em circos pela internet, como grupos de Facebook e WhatsApp, e que recebem por semana, tendo também direito a uma venda. Ou seja, existe o salário semanal do circo e mais o lucro com a venda de sua escolha, como pipoca ou refrigerante durante o espetáculo.

          “Para nós, não é uma profissão. O circo é uma etnia”, exclama o proprietário Douver.

Douver Circus na Uniso – Foto: Juliano Rosa

Os artistas também lamentam o quanto a internet e a televisão tiraram do glamour e expectativa dos circos. “O público jovem já não frequenta tanto. A maioria do público são os pais de outra geração que trazem suas crianças para o circo”.

Com o projeto “Circo para Todos”, Douver, que é o último da sua família a propagar a tradição circense há 45 anos, leva os shows para bairros periféricos por todas as cidades que passa.

Conhecido como o Palhaço Peteleco, ele conta que interpretar o palhaço é a tarefa mais difícil do circo, já que não depende de sintonia e ensaio, e sim da reação dos espectadores. “Não sou engraçado fora do personagem, não gosto de brincadeiras, porém me transformo quando estou maquiado”.

“O palhaço surgiu de um bêbado. Ele também serve para preencher o circo. Se não deu certo o trapezista, coloca o palhaço, se não deu certo o acrobata, coloca o palhaço”.

Um dos principais destaques do espetáculo é Luiz, um venezuelano que já percorreu mais de 30 países como artista, fugindo da realidade de seu país natal que não possui tradição circense.

Adriano conta que ao decidirem qual cidade será sua próxima parada, eles buscam analisar os munícipios, observam quanto tempo não há espetáculos naquele local e normalmente esperam de seis meses até um ano para irem se apresentar devido às burocracias necessárias como entrar em contato com proprietário de terreno, consultar a vigilância sanitária, companhia de água e iluminação. “Já fomos para todos os lugares do Brasil, mas costumamos ficar principalmente no estado de São Paulo”.

            Peteleco ficou feliz ao relembrar que estudou no Dom Aguirre há 20 anos. As mudanças são difíceis. “Estudei em mais de mil escolas e até os meus 13 anos eu já havia passado em 1.500 cidades”.

           “As gerações mudaram muito com o passar do tempo”, contou, “A do meu pai ainda era a dos animais. Havia elefante, leão, tigre e o circo fazia passeata buzinando com eles, então enchia de gente para ver os animais. Hoje o circo vai para uma cidade e as pessoas não assistem, perdeu público”.

            Luane, 16, que faz o número chamado de “força capilar”, que se trata de realizar acrobacias enquanto é suspensa por uma corda amarrada em seu cabelo, conta que apesar de saber que sempre amará o circo, que é da sua família, sua essência, a sua paixão verdadeira é Artes Visuais, e por isso pretende sair do circo para cursar a faculdade,

Apresentanção circense – Foto: Clara Abrami

     “Eu faço força capilar desde os meus 10 anos e antigamente costumava doer muito, eu sempre saía chorando, mas hoje é tranquilo. Muitas habilidades devem ser trabalhadas desde que somos pequenos para que o nosso corpo possa se adaptar, como o contorcionismo”.

             “Meu filho, Douver Luan, entrou pela primeira vez no palco como palhaço aos 10 meses com o nome de ‘Palhaço Gostosinho’. Hoje, aos seis anos, é conhecido como o ‘Baguncinha’, e meu filho mais novo de um ano é o novo Gostosinho”, acrescentou Adriano.

            Quando perguntado sobre as dificuldades financeiras em se manter um circo, Douver se emocionou ao explicar que financeiramente é difícil e que a maioria dos espetáculos atualmente são beneficentes. “Não preciso mais do circo para sobreviver. Faço por amor à arte e até acabo por gastar mais do que arrecado com ele. Nós possuímos muitos gastos com viagens e alimentação, e não recebemos nenhum auxílio ou subsídio do governo”.

Interação com o público – Foto: Juliano rosa

Ao ser questionado por uma garota com deficiência presente na plateia sobre alguma limitação existente, é importante para o palhaço frisar como o circo sempre foi e sempre será para todos, que uma deficiência física nunca fechará as portas para os artistas, como Gregório que é deficiente visual, não possui um dos olhos, e mesmo assim se apresenta no Douver há oito meses. “Já tivemos um menino que utilizava cadeira de rodas e se apresentava como palhaço. Uma deficiência nunca vai fechar as portas do circo”.

Interação com o público – Foto: Clara Abrami

Douver Luan, o palhacinho de seis anos, conta que prefere morar no circo para poder viajar para outros lugares e que deseja seguir com a vida como artista circense. “Há muita felicidade, muitos amiguinhos, muitas escolas, muita diversão. Eu gosto de fazer as coisas do circo e quero ser o homem pássaro e palhaço”.

        Quando questionado sobre a escolarização e função dos atores no show, Adriano explica que há uma lei que regulamenta que todas as crianças circenses devem ser permitidas em qualquer escola no país. “E cada pessoa que trabalha aqui deve ser multifuncional, tendo mais de uma apresentação; além de ajudar na montagem da estrutura”.

O Circo esteve presente durante a programação do evento Mobi 2024 – Foto: Clara Abrami

           A próxima parada do Douver Circus será em Itapetininga, onde permanecerão de abril até novembro em bairros de maior vulnerabilidade, com espetáculos de quinta a domingo. Siga o perfil no Instagram @douvercircooficial para acompanhá-los.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *