A importância do apoio à saúde mental dos vestibulandos
Por Giullia Castro Della Déa (Agência Focs – Jornalismo Uniso)
Entenda mais sobre esse período e confira 9 dicas para lidar com a ansiedade
É de conhecimento popular que o processo de preparação para um vestibular é conturbado, e isso vai desde a decisão do curso desejado até o desempenho final na prova. Por ser uma fase problemática na vida dos estudantes, a saúde mental dos mesmos pode ser comprometida com o desenvolvimento de problemas a longo prazo, como os transtornos mentais. Estes fatores ressaltam a importância de abordarmos o assunto de forma mais aprofundada.
Segundo o artigo “Transtorno de ansiedade generalizada entre estudantes de cursos de pré-vestibular”, publicado pelo Jornal Brasileiro de Psiquiatria em 2020, um grupo de pesquisadores da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) constatou que, num questionário realizado com 1.046 alunos de um curso pré-vestibular privado no sul do Brasil, 23,5% dos jovens apresentaram ansiedade considerada “moderada ou grave.”; enquanto “33,8% dos vestibulandos apresentavam ansiedade clinicamente relevante”. Essas informações foram identificadas a partir de questionário sobre indicadores acadêmicos, sociais e demográficos aplicado a estudantes de dezoito anos ou mais.

Os relatos de um aluno de curso pré-vestibular (cursinho) e de uma estudante universitária, dois jovens da região de São Paulo, exemplificam suas experiências e dificuldades sofridas nesse período.
O vestibulando Angelo Bonini tem 18 anos de idade e está atualmente residindo em São Paulo, onde frequenta o cursinho Anglo, na Vila Mariana. Seu objetivo é a aprovação nas principais universidades públicas do estado (Unicamp, USP, Unesp ou Ufscar) e os cursos escolhidos foram: audiovisual, como primeira opção, ou publicidade e propaganda, como segunda. Para Angelo, a maior dificuldade deste período de estudos é a instabilidade emocional. “A pressão que eu sinto é muito forte, ela vem de mim mesmo e da comparação com outros alunos”. Mas para ajudá-lo neste processo, o jovem buscou apoio psicológico presencial, que é fornecido pelo próprio cursinho, e mantém o contato social com os amigos e família.
Joyce Diatchuk, de 22 anos, estuda engenharia agronômica na USP de Piracicaba. Durante seu ensino médio, a estudante enfrentou a pressão pela aprovação no ambiente escolar, junto com a falta de amparo psicológico e as dúvidas para decidir o curso. Para ela, este cenário contribuiu para o desenvolvimento de hábitos danosos que potencializaram a ansiedade. “A grande dúvida não era nem sobre estarmos estudando do jeito certo, mas sim, se estávamos prestando a coisa certa”.
Assim como Angelo, a jovem universitária também se deparou com as cobranças e comparações com outros colegas de classe. “Eu sinto que a escola também potencializava isso focando muito nos grupos de alunos que se davam bem academicamente”. A situação emocional de Joyce ficou mais fragilizada por esse período, o que a fez recorrer à assistência médica, além de desenvolver o hábito de fumar, por razão da ansiedade. Para quem estiver passando por esse momento da vida, ela aconselha: “o importante é ter calma ao tomar essa decisão e saber mais ou menos do que gosta”.
Dicas Para Apoio
A psicóloga e neuropsicóloga Daniela Feijó, da cidade de São Roque, comenta o assunto a partir do conhecimento sobre a saúde mental dos adolescentes nessa fase da vida. “É nesse período da adolescência em que os jovens estão em um momento de transição, essas alterações (tanto físicas quanto mentais) podem influenciar a saúde mental, gerando estresse, ansiedade e até mesmo depressão”. Segundo Daniela, todo o processo de vestibular pelo qual o jovem passa, pode levá-lo a um esgotamento total. Os momentos que vão desde os estudos preparatórios, até a realização da prova e a espera pelo resultado, somam um acúmulo de estresse e ansiedade, que são influenciados também pela pressão social e expectativas depositadas no aluno.
A especialista também aborda o grande medo que circula entre os jovens nesse período: a decepção. O medo de falhar se torna algo tão grande, que a ansiedade (que é um estado emocional comum, um fator protetivo diante a uma ameaça) se transforma em uma ansiedade patológica, ou seja, interfere no bem-estar do indivíduo e atua de forma insistente mesmo sem nenhum perigo presente. “A ansiedade patológica está relacionada a um excesso de futuro” explica.
Para lidar com as emoções, a psicóloga compartilha dicas que podem ajudar com a redução da ansiedade. Confira abaixo:
- “Aceite a ansiedade”: o primeiro passo para o controle de um problema, é aceitar que ele existe, e não apenas ignorá-lo. Entender e aceitar a ansiedade abre caminhos para o autoconhecimento e para a busca de soluções.
- “Se mantenha no presente”: entender a realidade em que se encontra é importante, separando as preocupações do presente com as preocupações do futuro, evitando causar generalizações.
- “Se atentar aos pensamentos catastróficos”: identificar, questionar e filtrar pensamentos que possam distorcer a realidade, buscando novas maneiras de enxergar a situação.
- “Tenha uma rotina”: invista em uma rotina com metas de estudo saudáveis e equilibradas, além de definir horários para descanso, tempo de telas, alimentação e pausas entre os estudos.
- “Diminuir o consumo de cafeína e energéticos”: para que seu desempenho possa render mais, o repouso é essencial pois auxilia na consolidação de memória, logo, diminuir o consumo de cafeína contribui para um melhor descanso.
- “Pratique a higiene do sono”: além de ajudar a regular o ciclo circadiano, ela melhora a condição de saúde do indivíduo. A higiene do sono são etapas que devem ser realizadas antes de dormir, como por exemplo: evitar o uso do celular, praticar atividades físicas perto do horário de descanso, ler um livro ou tomar uma ducha.
- “Pratique atividades físicas”: os exercícios físicos além de ajudarem na redução da ansiedade e estresse, melhoram a disposição de quem as pratica.
- “Tirar um tempo para atividades que promovam o bem-estar”: assistir aquela série favorita, praticar um hobby e socializar são apenas alguns exemplos, o importante é não deixar o bem-estar de lado durante esse período.
- “Fale sobre o que sente”: expressar os medos e inseguranças, ao contrário do que muitos pensam, ajuda a fortalecer o indivíduo nesse momento, pois a fala tem um “poder curativo”.
Se você se identificou com algum sintoma ou experiência relatada na reportagem, busque por ajuda profissional. A Universidade de Sorocaba oferece atendimento psicológico gratuito para a comunidade, através da Clínica-Escola de Psicologia. Para consultar a disponibilidade de agendamento, ligue: (15) 2101-7050 .