Jornalismojornalismo onlineSorocabaUniso

O abandono de animais no Brasil cresce e preocupa

[Série @a.um.amigo]  Problema atinge milhões de gatos e cães e acaba por trazer riscos à saúde pública

Por João Pedro Lara (Agência Focas – Jornalismo Uniso)

O abandono de animais continua sendo um dos maiores problemas de bem estar e saúde pública no Brasil. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), estima-se que existam cerca de 30 milhões de animais abandonados no país sendo aproximadamente 20 milhões de cães e 10 milhões de gatos. No Distrito Federal, calcula-se que cerca de 700 mil desses animais vivam nas ruas, sem acesso a abrigo, comida ou cuidados veterinários.

Além do sofrimento enfrentado por cães e gatos, o abandono traz consequências diretas para a sociedade. A presença de animais sem cuidados adequados aumenta o risco de doenças zoonóticas, como leishmaniose e raiva, que também podem afetar os seres humanos. O impacto econômico é outro fator preocupante, já que o poder público gastarecursos com o tratamento de doenças que poderiam ser evitadas com ações preventivas.

Segundo dados da ANDA (Agência de Notícias de Direitos Animais), mais de 80% dos cães em situação de rua são adultos sem raça definida, enquanto entre os gatos, o índice chega a 97,5%. Filhotes e animais de raça acabam tendo mais chances de serem adotados. A protetora Maria Cecília Sanches de Assis, fundadora do Projeto Segunda Chance, explica que muitos dos animais acolhidos foram deixados para trás justamente quando mais precisavam. “Grande parte dos nossos resgatados é de cães idosos ou doentes. Foram abandonados quando mais precisavam de amor. Isso mostra o quanto ainda falta empatia e responsabilidade em quem decide ter um animal de estimação.”

Os motivos do abandono são diversos, mas os mais frequentes estão relacionados a mudanças de residência, dificuldades financeiras, doenças ou falta de tempo. Para Maria Cecília, essas justificativas apenas mascaram um problema mais profundo. “A verdadeira causa é a falta de amor e consciência. Quem ama não abandona. Falta educação sobre o que é posse responsável”. A protetora também defende que campanhas educativas e programas de conscientização são fundamentais para mudar essa realidade.

O aumento de abandonos é ainda maior no período de férias e festas de fim de ano. Entre dezembro e fevereiro, o número de animais deixados nas ruas cresce de forma significativa. De acordo com campanhas como o ‘dezembro Verde’, 75% dos casos ocorrem em áreas urbanas e estão ligados a viagens de famílias que decidem se desfazer dos animais antes de sair de casa.

O problema se agrava com a falta de estrutura pública para acolher esses animais. Segundo o Instituto Pet Brasil, cerca de 185 mil cães e gatos abandonados estavam sob os cuidados de ONGs e protetores independentes em 2023. Essas instituições atuam com recursos limitados e dependem de doações e voluntários para continuar funcionando. Segundo Maria Cecília, os abrigos estão fazendo muitas vezes o que o Estado deveria fazer e afirma que os abrigos por muitas vezes acabam ficando lotados, mas mesmo assim eles acolhem os animais que são resgatados pois se eles não os acolher esses animais vão acabar morrendo nas ruas.

Apesar de o abandono ser considerado crime ambiental, o tema ainda é tratado com descaso. O artigo 32 da Lei de Crimes Ambientais (Lei nº 9.605/1998) prevê punição para quem pratica maus-tratos ou abandono. Com a aprovação da Lei Sansão, em 2020, as penalidades ficaram mais severas com a reclusão de dois a cinco anos, multa e proibição de ter animais. Na prática, porém a punição raramente é imposta. Segundo a protetora Maria Cecília, as leis existentes raramente são aplicadas, “falta fiscalização e sensibilidade das autoridades. Sem punição real, o abandono vai continuar.”

O abandono de animais no Brasil é, acima de tudo, um reflexo da falta de empatia e de políticas públicas eficazes. Apesar dos esforços de ONGs e protetores que atuam com recursos limitados, o poder público precisa reconhecer que o abandono animal é também uma questão de saúde pública e responsabilidade social. Adotar é um ato de amor; abandonar é crime. E cada animal nas ruas é um lembrete silencioso de que ainda há muito a ser feito.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *