Laços de Amor, o poder e a força do vínculo entre mãe e filho
Por Maria Carolina Ribeiro Mendes (Agência Focs – Jornalismo da Uniso)
O cordão umbilical é o laço que une a mãe e o filho desde antes do nascimento e mesmo depois de ser rompido, esse vínculo nunca mais será totalmente desfeito
Afeto, carinho, contato, amor e sintonia são algumas palavras que descrevem a relação tão sincera entre mães e filhos. O que poucos sabem é que o relacionamento entre mães e filhos atípicos nem sempre é assim.
Muitas pessoas idealizam a maternidade, nutrindo o desejo de gerar e criar uma nova vida. E, quando esse sonho finalmente se concretiza, uma avalanche de sentimentos toma conta. As responsabilidades chegam e o medo se torna mais intenso. No entanto, tudo isso se dissolve com o primeiro olhar, quando uma conexão silenciosa, mas profunda, é estabelecida.
A distância no toque, a falta de olhar e resistência a mudanças se revelam uma nova preocupação e é nesse instante que a ajuda médica e a procura por um diagnóstico, por mais difícil que seja, se torna tão essencial.
Além das Palavras: Uma Busca Constante por Entendimento e Afeto
Um ambiente aconchegante, sobre as mesas livros são empilhados, em alguns porta-retratos fotos apresentam o afeto e o amor presente naquele lugar. Gilvanete da Silva Leite é mãe de Rafael Cardoso da Silva, de 11 anos, diagnosticado com autismo de suporte 1, TDAH, TOD, TEPAC, crises de pânico, depressão e problemas de crescimento.
Psicopedagoga, ela iniciou a terapia para Rafael desde cedo, mas o diagnóstico completo veio apenas em 2024. Quando Rafael completou 10 anos, enfrentou mais um desafio: a dificuldade de se identificar e de se sentir pertencente ao ambiente em que vivia. Foi aí que começou um longo caminho para conhecer e entender seu diagnóstico completo.
Entre os desafios emocionais e sociais que se impõem, o lar se torna um espaço de transformação. Cada gesto, cada palavra, cada momento juntos é uma tentativa de ajudar o filho a superar a dificuldade de seguir regras e fortalecer os laços afetivos que unem a família.
Por conta da dificuldade de identificação de Rafael, quando criança, ele não mantinha afeto algum com a mãe, Gil. Mesmo sendo uma criança negra, igual à sua mãe, ele não se enxergava dessa forma e, por conta disso, não aceitava chamá-la de mãe, pois dizia que ele era uma pessoa branca. Foi com psicoterapia que a conexão começou a florescer, transformando-se em um vínculo de aprendizado mútuo que Gil define como “Família Educativa”.
Família é considerada a primeira escola de uma criança, é nela que elas aprendem a se relacionar, a se expressar e a se compreender. É a partir desses laços que os pais transmitem os valores e princípios, ajudam as crianças a construírem suas responsabilidades pessoais e incentivam a educação, a confiança e o conhecimento para seus filhos.
Com um brilho no olhar e gratidão nas palavras, Gil destaca a importância da família para o desenvolvimento dessas crianças. Hoje em dia, o principal sentimento que ela expressa em relação ao filho é união e conexão.
Podemos utilizar o exemplo da borboleta, que passa por diferentes transformações durante a vida. Quando uma família tem uma criança atípica, ela precisa mudar, evoluir, aprender e transformar essa nova forma de se relacionar entre si e com as pessoas ao redor.

Desafios, obstáculos, foco e determinação são palavras que descrevem o pensamento e a luta de todas as mães de crianças atípicas. A neuropsicóloga Letícia Gonçalves salienta que essas mães estão sempre preocupadas, principalmente, com o futuro das crianças, “meu filho vai aprender a ler? Meu filho vai para a faculdade? Meu filho vai conseguir brincar com outras crianças?” Essa luta constante por melhorias fortalece o elo entre mãe e filho.
Nos Silêncios e Gestos: A Profundidade de um Vínculo
Roberta Fernanda Basílio de Souza é mãe de Elton Rafael Basílio de Souza Filho, de 8 anos, diagnosticado tardiamente com autismo. A situação de um diagnóstico pode ser considerada assustadora e desafiadora, mas por outro lado pode ser libertadora.
Após alguns tratamentos e terapias intensas mais um diagnóstico foi entregue, autismo com comorbidade para mutismo seletivo, que é percebido na criança como uma ansiedade na fala, onde ela consegue se comunicar apenas com uma pessoa da família, sua figura de segurança.
Que criança não gosta de brincar, de se divertir e de se entrosar com outras crianças? Porém, Roberta reconheceu que durante esses momentos Rafael apresentava reações diferentes, eram detalhes sutis que foram se agravando e se destacando para reconhecer as necessidades do filho. Atualmente faz quase três anos que Rafael realiza diversos tratamentos, e o resultado disso foi a libertação da criança, com progressos emocionais, sociais e independência nas ações.
No dicionário, vínculo significa “O que tem capacidade de ligar, unir, atar uma coisa à outra”. E é essa conexão que Roberta e o filho sentem, como ela mesmo fala é um “vínculo de outras vidas”.
Desde o primeiro suspiro, a conexão entre mãe e filho é baseada em harmonia. Antes mesmo de qualquer diagnóstico, a mãe sabia que o espaço para a liberdade do filho era essencial, nunca o forçou a nada e sempre lhe deu espaço para decidir por si mesmo e para se adaptar, com a leveza de quem entende que o crescimento acontece no tempo de cada um.
Um laço verdadeiro e sincero, a demonstração do mais puro amor e a recordação de momentos especiais ficarão guardados para sempre. Uma das formas que Roberta encontrou para fortalecer o laço emocional com o filho é por meio de cartinhas, em diferentes momentos especiais eles costumam escrever cartas, um para o outro, para estreitar o contato de maneira respeitosa.
“Essa experiência de ser mãe de uma criança com necessidades faz você olhar o mundo de forma diferente. Você começa a notar o quanto pessoas com necessidades precisam de um olhar de amor, de conexão, e isso me trouxe mais empatia para olhar as diferenças, algo que eu não tinha antes”, comenta a mãe Roberta.

Em suas falas, Gilvanete e Roberta compartilham um desejo profundo em comum: o de um futuro mais promissor para seus filhos. Ambas revelam o ímpeto de estender a mão para outras mães e crianças que, como elas, enfrentam dificuldades semelhantes.
Gil, como psicopedagoga, atende crianças atípicas e as ajuda a se desenvolver de forma saudável, com atividades cognitivas que contribuem para a inclusão da criança no ambiente familiar, na escola e na sociedade, de modo geral.
Roberta está iniciando a faculdade de Psicologia com o intuito de ajudar outras famílias a entenderem as necessidades de seus filhos e a aprenderem a lidar com as situações difíceis do dia a dia.
A profissional Letícia destaca o valor dessas informações. Ela enfatiza a importância de os profissionais se aproximarem das famílias, não como autoridades, mas como aliados. Assim, é possível criar vínculos mais leves e saudáveis, onde o tempo dedicado à criança e à própria pessoa se entrelaçam.