Jornalismojornalismo onlineSorocabaUniso

Entre amor e resistência: celebrando a memória de bell hooks

No aniversário de nascimento da autora, suas reflexões continuam inspirando lutas por igualdade e justiça social

Por Maria Clara Russini (Agência Focas – Jornalismo Uniso)

Nascida em 25 de setembro de 1952, nos Estados Unidos segregacionistas, bell hooks cresceu para se tornar uma das vozes mais potentes contra o racismo e o sexismo, unindo teoria crítica e afeto em uma obra que permanece urgente. Ao longo de sua trajetória, articulou feminismo, raça, classe e educação em uma perspectiva interseccional que redefiniu debates tanto no mundo acadêmico quanto fora dele. Sua escrita, marcada pela defesa do amor como prática política, segue iluminando caminhos para enfrentar desigualdades e construir sociedades mais justas.

Filha de uma família numerosa com cinco irmãs e um irmão, Gloria Jean Watkins, nome de nascimento da autora, cresceu em Hopkinsville, uma pequena cidade segregada do estado do Kentucky. Seu pai, Veodis Watkins, trabalhava como zelador e sua mãe, Rosa Bell Watkins, era empregada doméstica em casas de famílias brancas.

Durante a infância, frequentou escolas públicas destinadas a crianças negras, onde a maioria dos professores eram mulheres negras. Nesse ambiente, aprendeu desde cedo a enxergar a educação como uma forma de resistência política, princípio que marcaria toda a sua obra. Mais tarde, com a integração escolar imposta pelas leis de dessegregação, passou a estudar em escolas majoritariamente brancas, onde enfrentou experiências de racismo institucional e percebeu de forma ainda mais clara os desafios da desigualdade social.

Ela adotou o pseudônimo bell hooks em homenagem à sua bisavó materna, Bell Blair Hooks, conhecida por sua força e franqueza. A escolha de escrever o nome sempre em letras minúsculas refletia a intenção de destacar as ideias, e não a figura pessoal da autora.

Formou-se em Literatura Inglesa pela Stanford University em 1973, fez mestrado na University of Wisconsin–Madison em 1976 e concluiu doutorado na University of California, Santa Cruz, em 1983, com pesquisa sobre a obra de Toni Morrison.

Em 1981, publicou seu primeiro livro de grande impacto, “Ain’t I a Woman? Black Women and Feminism”, no qual analisou o peso do racismo e do sexismo na vida das mulheres negras nos Estados Unidos. A obra tornou-se um marco nos estudos feministas e consolidou seu lugar como referência intelectual. Nos anos seguintes, lançou títulos fundamentais como “Feminist Theory: From Margin to Center” (1984), que questionava a centralidade das mulheres brancas de classe média no feminismo; “Teaching to Transgress” (1994), em que desenvolveu reflexões sobre pedagogia crítica inspiradas em Paulo Freire; e “All About Love: New Visions” (2000), livro em que defendeu o amor como prática revolucionária e transformadora.

Ao longo da carreira, bell hooks publicou mais de 30 livros, transitando por temas como feminismo, negritude, masculinidades, crítica cultural e educação. Lecionou em universidades prestigiadas como Yale, Stanford e Oberlin College, mas foi em sua terra natal que consolidou um legado duradouro. Em 2014, fundou o bell hooks Institute no Berea College, no Kentucky, espaço dedicado à preservação de sua obra e ao estímulo de debates sobre justiça social.

Ela faleceu em 15 de dezembro de 2021, aos 69 anos, em decorrência de complicações renais. Sua partida gerou comoção mundial, mas seu pensamento permanece vivo, inspirando acadêmicos, ativistas, professores, artistas e leitores que veem em sua obra uma fonte de força, ternura e resistência.

No aniversário de seu nascimento, bell hooks é lembrada não apenas como uma intelectual brilhante, mas como alguém que acreditava no poder transformador do amor, na centralidade da educação como prática libertadora e na urgência de lutar por um mundo em que igualdade e justiça social deixem de ser sonhos para se tornarem realidade.

Foto: Reprodução

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *