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Game Lab, e-Sports e a influência feminina

Retrospectiva Focs 2023

Representatividade feminina em Jogos Digitais da Uniso é influenciada pela professora e Coordenadora do Curso, Thifani Postali

Por Rafael Filho (Agência Focs – Jornalismo Uniso)

Sede do Game Lab, localizada no térreo do bloco F, na Cidade Universitária Aldo Vannucchi (Foto: Rafael Filho)

      Thifani que atua no curso desde a primeira turma formada, e acompanha todo o desenvolvimento desde o início, explica que curso começou “colado com os cursos de tecnologia e que ao longo desses anos ele foi se emancipando” caminhando com suas próprias pernas. Segundo ela, jogos digitais é um curso relativamente novo na história da humanidade, sendo considerado recente tanto na área do conhecimento, quanto de mercado. “Quem criou o curso e foi coordenador até algum tempo, foi o professor Randolph Aparecido de Souza, um cara fantástico que teve essa visão de trazer o curso para a Uniso. Sempre trabalhei em conjunto com ele, muito próxima da coordenação. Entender o curso me ajudou muito quando assumi a coordenação”, explica Thifani.

     A coordenadora faz questão de enfatizar também, que o curso de Jogos Digitais é uma área que não envolve somente a tecnologia, mas também outras áreas como as Ciências Sociais Aplicadas por exemplo. “Isso a gente tem defendido bastante, inclusive nessa avaliação do MEC. Porque entendemos o jogo digital como uma mídia assim como o cinema, existem muitos jogos que são muito similares a narrativa cinematográfica. O aluno tem que ter esse conhecimento em comunicação também”, afirma Thifani.

    “Uma coisa que o MEC apontou no relatório, foi que a gente tem bastante atividades além da sala de aula, como por exemplo a Jornada Gamer, que é um evento semelhante a ‘semana de’, que cada curso realiza”, relata Thifani. Ela cita também, a existência da Game Jam, que é um evento onde os alunos e a comunidade externa têm 48 horas para apresentar um protótipo de game, outro diferencial do curso segundo ela.

       Criado em 2019, o laboratório de jogos digitais Game Lab é utilizado pelos alunos durante todo o curso, desde o primeiro semestre. De acordo com Thifani, em disciplinas como a de Projeto Integrador por exemplo, são desenvolvidos protótipos de jogos onde os alunos usam laboratório não só para desenvolver, mas também para deixar os jogos disponíveis para qualquer pessoa testar. Segundo ela, o laboratório é utilizado também para workshops, oficinas, e streaming de jogos de alunos de diversos cursos. “Ele é aberto a comunidade da universidade. Quando o laboratório não está reservado para outras atividades, qualquer aluno ou funcionário pode chegar lá e jogar por uma hora”, ela reforça.

      Thifani salienta que apesar do curso ser focado em desenvolvimento de jogos digitais, existe um olhar diferenciado para o universo dos e-Sports e para a indústria que o movimenta. A professora explica que o núcleo do e-Sports, comandado pelo professor Caio Guilherme realiza processos seletivos para a formação dos times universitários. “A ideia não é ganhar dinheiro e nem competir profissionalmente. Até porque a nossa intenção é que gire bastante, para que muitos alunos tenham essa oportunidade de se sentir próximo do que é um time profissional” explica Thifani.

Professor Caio Guilherme: “Como estamos ainda no começo do núcleo temos nos dedicado mais em organizar os times de Valorant e League of Legends, mas gostaríamos de futuramente poder participar do cenário de e-Sports com equipes em outros jogos e gêneros, como jogos de luta, por exemplo” (Foto: Rafael Filho)

     Segundo Thifani, os times de e-Sports podem servir também como ferramenta de parceria e interação entre cursos, já que um aluno de fisioterapia por exemplo, pode fazer estágio como integrante da equipe. A qual pode ser integrada por alunos de comunicação e psicologia, conforme ela relata. Thifani confidencia também, que o primeiro time de LOL (League of Legends) que o curso teve, se destacou no cenário universitário nacional e que muitos dos alunos na época, hoje estão jogando em times profissionais.

     Apesar de ter ficado fechado por um longo período de tempo devido a pandemia de Covid-19, segundo a professora, o Game Lab possui um histórico de grande sucesso tendo por exemplo alunos de comunicação que fizeram estágio de maneira voluntária, atuando no mercado. “A Ingrid Peixoto estagiou com a gente e hoje está atuando na área de games do SBT”.

A mulher no universo dos games e a luta contra o machismo

       Sobre a paixão por games, Thifani comenta que ela surgiu na sua infância, durante a década de 1980. “Meu pai tinha um Atari. Ele era solteiro, e quando eu ia passar o final de semana na casa dele, a nossa diversão era jogar videogame”, ela relembra. Devido a sua situação financeira na época, Thifani conta que só pode ter acesso ao modelo Super Nintendo somente na adolescência, o que reforçou ainda mais a sua ligação emocional com seu primeiro videogame, o modelo Atari.

Thifani Postali, aos 8 anos de idade, com o videogame Atari de seu pai. Paixão que existe até hoje, pois ela guarda o modelo com muito carinho dentro de sua coleção (Foto: Rafael Filho)

      Grande fã dos mais variados tipos de jogos, Thifani se tornou também uma colecionadora. Ela possui um quarto somente para guardar os videogames, que segundo ela, sem contar com os modelos portáteis, conta com mais de 40 consoles. “Sempre fui muito apaixonada por jogos de aventura e ação, que fizeram parte da minha geração. Hoje jogo no Playstation, Xbox e outros. Mas falta tempo, acabo terminando um jogo por ano. Meus alunos comentam: ‘mas você não terminou o jogo ainda professora? ’ Gente, calma, eu preciso de tempo”, brinca Thifani.

      Assim como em qualquer ambiente, existem situações e comportamentos reprováveis no mundo dos games. Segundo Thifani, o universo dos jogos digitais é extremamente machista. De acordo com ela, isso sempre ocorreu mas piorou com a chegada dos jogos online pois ao estar mediado por uma tela, as pessoas se sentem em um anonimato que não é real. “Na década de 90 as meninas falavam entre elas. Minhas amigas iam em casa jogar Super Nintendo, mas a gente não jogava com os meninos e não falava disso com eles”, detalha Thifani.

      A coordenadora relata que esse tipo de comportamento é característico da área de exatas de uma maneira geral e que não pode deixar de ser discutido, quando se fala de cultura gamer. Ela afirma que durante muito tempo o número de alunas no curso foi muito baixo, mas que isso tem mudado ao longo dos tempos. “Já tive sala com 40 alunos sendo só três mulheres e também já tive sala com nenhuma aluna.  Aconteceu um fenômeno muito interessante nesse último ano, hoje nós temos uma sala onde a metade é de mulheres”, pondera Thifani.

       Para ela a expansão dos games tem quebrado barreiras na questão do machismo, que é algo muito discutido nas redes e em outros lugares atualmente. “Eu gostaria de frisar que um dos motivos de eu assumir a coordenação do curso de jogos digitais, foi o fato de eu ser mulher. Porque eu achei que isso era uma atitude importante para área”, declara Thifani. Ela complementa dizendo que foi contratada uma mulher para a vaga de estagiária que estava aberta, justamente para que as meninas se sintam mais à vontade no Game Lab. “Nós ouvimos muito que as meninas têm um receio de entrar naquele ambiente que é um tanto quanto masculino” ressalta Thifani.

Thifani Postali: “Quando se ocupa espaços, os olhares eles mudam. Uma mulher produzindo games; uma pessoa negra; uma pessoa lgbtqia+, vão ter outros olhares sociais que vão somar para a área, que vão contribuir para que esse cenário que a gente tem, melhore (Foto: Rafael Filho)

       A professora reforça que é preciso que as mulheres não tenham receio e que entendam a importância de ocupar esse espaço, assim como ela ocupou e ocupa até hoje. Ela afirma que quando é chamada para falar do curso, o foco vai além do cumprimento do protocolo. “Eu vou também, porque sou mulher. Tenho que mostrar que existe uma mulher coordenadora, uma mulher professora de jogos digitais”, ela enfatiza. “Eu deixo um recado para as mulheres que tem vontade de ingressar no curso, para que aumentem essa vontade pela questão de ocupar espaços e fazer com que a área se desenvolva de forma mais sadia”, conclui Thifani.

Os jogos digitais e a violência caminham juntos?

     Sobre o preconceito existente na sociedade, que acredita que atos de violência possuem ligação com os jogos digitais, Thifani comenta que vê isso, muitas vezes, no próprio jornalismo. “Percebo que quando são abordadas algumas questões de violência, principalmente na adolescência, parece que existe um esforço muitas vezes em assimilar tais atos, a indústria dos jogos”, ela opina.

    “Existem sim, jogos digitais violentos. Aliás o que mais vende são esses títulos, o que não foge do cinema e de outros produtos mediáticos. O ser humano é atraído pela violência, a filosofia mostra isso. Mas não é o fato de segurar um controle e poder apertar um botão que vai fazer você se tornar uma pessoa violenta”, defende Thifani.

     Segundo ela, o jogo tem objetivo lúdico e o ser humano saudável consegue separar a realidade da brincadeira. Para ela, quando ocorre um ato envolvendo violência, antes de se assimilar ela aos jogos, é preciso entender a questão social, psicológica, a estrutura da pessoa envolvida e o que a levou a tal ação. “Não é o jogo em si que vai tornar as pessoas violentas. As pessoas violentas podem se sentir atraídas por esses jogos, filmes e tantos outros produtos que tratam de violência”, ela defende.

Thifani Postali: “A gente vê muitos alunos falando que gostariam de cursar jogos digitais, mas os pais não deixam, porque existe essa visão ruim, uma estereotipação da área de jogos, e das pessoas que jogam” (Foto: Rafael Filho)

     A professora faz questão de ressaltar que área de jogos digitais está resolvendo muitos problemas educacionais. Ela cita que está em processo uma parceria com o curso de pós-graduação em farmácia para o desenvolvimento de um jogo educativo sobre sustentabilidade, e também uma pesquisa de mestrado que está sendo desenvolvida por uma professora de outro curso. “A área de jogos digitais está solucionando e criando soluções para muitas coisas. Mas a gente fica nessa visão (de senso comum) de assimilar o jogo a violência, o que impacta no crescimento do curso” afirma Thifani.

Serviço:

O Game Lab fica no térreo do bloco F, no campus Cidade Universitária Aldo Vannucchi. Você pode fazer contato através das redes sociais: @jogosdigitaisuniso e @unisoesports.

E também obter mais informações através da página: https://www.flowcode.com/page/jogosdigitaisuniso

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