Projeto de Extensão Grupo De ExU recebe visita de escritora internacional
No mês em que se comemora o Dia da África, psicóloga moçambicana participa de eventos junto ao curso de Psicologia da Uniso
Por Rafael Filho (Agência Focas – Jornalismo Uniso)

Maio é um mês de muitas discussões sobre as questões raciais, por conta de duas datas pertinentes à temática: o dia da Abolição da Escravatura e o dia da África. A primeira é um tanto quanto controversa dentro do movimento negro e a segunda, não menos importante, não é tão difundida e muitas vez desconhecida pela população.
Por qual motivo a data do 13 de maio é controversa? No livro Uma História feita por Mãos Negras, Beatriz Nascimento, também conhecida como Maria Beatriz Nascimento – isso é sempre bom lembrar, já que, conforme sua amiga Lélia de Almeida Gonzalez, “negro tem que ter nome e sobrenome, senão, os brancos arranjam um apelido… ao gosto deles” – comenta que o dia da Consciência Negra foi criado para contrapor o 13 de maio, pois para o Grupo Palmares, movimento negro gaúcho que idealizou a data no início da década de 1970, apesar da assinatura da Lei Áurea pela Princesa Isabel, e do fim da escravidão, não existe algo para se comemorar nesta data pois não foram criadas políticas públicas que garantissem educação e trabalho aos escravizados recém-libertados.
“O problema não é o 13 de maio, é o 14”. Essa é uma frase muito repetida nas discussões sobre o tema. Em uma entrevista para o livro-reportagem Jorge Narciso de Matos, um Mestre Sala nos Mares Sociais, a professora Ana Maria de Souza Mendes, co-fundadora do Nucab (Núcleo de Cultura Afro-Brasileira de Sorocaba) disse outra frase impactante: “O 14 de maio continua até hoje. Ele nunca foi falado nas escolas.”
Pessoas pretas são espancadas e assassinadas pela polícia. Mulheres pretas tem seus corpos visados somente como peça de satisfação sexual. População 60+ preta trabalhando até a morte para não morrer de fome. Criminalização de todo tipo de arte e cultura proveniente da pele preta. Predominância de pessoas pretas em situação de rua. Todos os tipos de racismos sendo praticados diariamente. Falta de políticas públicas que valorizem as pessoas de pele preta. Essa descrição se refere a 14 de maio de 1888 ou de 2025?
A célebre canção 14 de maio interpretada pelo cantor baiano Lazzo Matumbi, fala muito bem sobre essa realidade: “No dia 14 de maio, eu saí por aí. Não tinha trabalho, nem casa, nem para onde ir. Levando a senzala na alma, eu subi a favela. Pensando em um dia descer, mas eu nunca desci. Zanzei zonzo em todas as zonas da grande agonia. Um dia com fome, no outro sem o que comer. Sem nome, sem identidade, sem fotografia. O mundo me olhava, mas ninguém queria me ver. No dia 14 de maio, ninguém me deu bola”.
A segunda data foi instituída oficialmente pela ONU (Organização das Nações Unidas) no ano de 1972, e ela faz referência à data de criação da OUA (Organização da Unidade Africana), em 1963. Em alguns países africanos, o Dia da África é um feriado nacional.
No Brasil, embora não seja feriado, a data tem como objetivo promover o reconhecimento da história e cultura africanas com a história do país. Além disso, serve como ponto de conexão com os imigrantes de países africanos que residem no Brasil na atualidade. A OUA foi criada para o fortalecimento da luta do povo africano contra a colonização europeia, em defesa da união do continente, desenvolvimento socioeconômico, liberdade e democracia. Em 2002, a OUA se tornou União Africana. Atualmente com sede na Etiópia, um dos únicos países africanos que não sofreram colonização europeia, ela congrega 55 nações e suas atividades permanecem ativas até os dias de hoje.
E o mês de maio não possui somente estas duas datas relacionadas às temáticas Afro-Brasileiras. De acordo com o documento Efemérides Negras, criado pelo Núcleo de Cultura Afro-Brasileira de Sorocaba, existem outras ocorrências que podem ser pauta de discussões e disseminação do conhecimento. São elas:
- 03/05/1865 – A Ordem de São Benedito institui o “Ventre livre” entre seus escravos;
- 03/05/1926 – Nascimento do geógrafo Milton Santos, ganhador do prêmio Vautrin Lud, considerado o Oscar da geografia;
- 04/05/1493 – A bula Inter Cætera, do papa Alexandre VI, estende à Espanha os direitos de escravizar concedidos a Portugal em 1452;
- 05/05/1990 – Instituída a Fundação Cafuné, pelo Nucab, em Sorocaba;
- 08/05/1758 – Extinta a escravidão indígena no Estado do Brasil;
- 11/05/1994 – Posse de Nelson Mandela na presidência da África do Sul;
- 12/05/1994 – Dia da escrava Anastácia, símbolo das negras vítimas de violência;
- 13/05/1881 – Nascimento do escritor Afonso Henriques de Lima Barreto;
- 13/05/1971 – Dia Nacional de denúncia contra o racismo;
- 13/05/2002 – Decreto 4229 institui as políticas de discriminação positiva – ações afirmativas;
- 18/05/1950 – Rio de Janeiro – reunião do Conselho Nacional de Mulheres Negra;
- 23/05/2011 – Morte de Abdias do Nascimento;
- 25/05/1810 – Quituteiras argentinas impedem invasão inglesa; ainda na atualidade, as escolas comemoram o dia das “Negritas de Mayo”;
- 27/05/1537 – Bula Sublimis Deus de Paulo III, declara que os índios têm alma e condena a escravidão;
- 31/05/1921 – Início do Massacre de Tulsa, distrito de Greenwood, no Oklahoma, que, em 18 horas ininterruptas, dizimou 35 quarteirões onde algo em torno de 300 negros foram mortos e 10.000 ficaram desabrigados, todos tão bem-sucedidos que o local era chamado Black Wall Street.

E nesse contexto do mês de maio, Sorocaba e região receberam a visita da psicóloga e escritora moçambicana Paula Vilanculos Jambane. Ela participou dos eventos da XII Semana de Psicologia da Uniso e também de um dos encontros do grupo de estudos “Decolonialidade e Extensão Universitária” (Grupo De ExU), ligado ao mesmo curso, e que já possui três anos de atuação.


Segundo o professor Leandro Limoni de Campos Fonseca, que além de coordenador do grupo ministra a disciplina de Relações Étnico-Raciais, Gênero e Classe em Psicologia, o Grupo De ExU é um “grupo de estudos voltados aos fundamentos epistemológicos, éticos, estéticos e políticos do pensamento decolonial e suas contribuições para o desenvolvimento de práticas extensionistas na Universidade de Sorocaba”.

Paula está visitando Sorocaba para a divulgação de seu livro “Nossos Caminhos Nossas Escolhas”, ferramenta utilizada por ela para compartilhar suas vivências e experiências como psicóloga em Moçambique na África. Sobre o encontro dentro do grupo de estudos, Paula diz que ficou muito satisfeita pois além de poder partilhar e comparar — por meio do diálogo com professores e alunos — as práticas desenvolvidas por profissionais de psicologia de ambos os países, voltará para sua terra natal com novos conhecimentos adquiridos no Brasil. “Foi um dia maravilhoso, inesquecível”, afirma.





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