Lançamento de livro marca criação do Núcleo de Estudos Freireanos Aldo Vannucchi
O evento de lançamento do livro “Paulo Freire: do exílio à anistia” abre espaço para a fundação do NEFAV, celebrando o legado do autor e a atuação do professor
Por Rafaela Ferreira Monteiro (Agência Focas – Jornalismo Uniso)


O Grupo de Estudos e Pesquisas em História da Educação Escolar (GEPHEES), ligado ao Programa de Pós-Graduação em Educação (PPGE) da Uniso, promoveu o lançamento do livro “Paulo Freire: do exílio à anistia – Educação, politicidade e liberdade”, editado pela Eduniso em parceria com a Edições Brasil e a Editora Fibra. Realizado no Miniauditório da Biblioteca do Campus Cidade Universitária da Universidade de Sorocaba (Uniso) no dia 9 de setembro, data do aniversário de 104 anos de Paulo Freire, o evento também marcou a formação do Núcleo de Estudos Freireanos Aldo Vannucchi (NEFAV).
O livro é resultado da pesquisa de pós-doutorado de Sidnei Ferreira de Vares, realizada na Unicamp, em diálogo com o professor José Renato Polli, líder do GEPHEES. A aproximação entre os dois pesquisadores começou há 15 anos quando publicaram, juntos o livro “Desconstruindo o lugar comum sobre Paulo Freire” em 2024. “Nós temos um interesse em comum pelo estudo da vida e da obra de Paulo Freire”, afirma Polli.
Nos quatro primeiros capítulos, os autores fazem análises de quatro dos livros escritos pelo filósofo e pedagogo enquanto exilado pela ditadura militar. “O livro contempla algumas das principais obras publicadas por Paulo Freire após ser defenestrado do Brasil em 1964. A análise revela o modo como o pensamento do autor maturou até chegar à ‘Pedagogia do Oprimido’, que é quase um manifesto”, Vares explica.
O último capítulo é dedicado à uma obra pouco conhecida do educador: “Paulo Freire ao vivo”, uma série de conferências com debates realizados em Sorocaba pela Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Sorocaba – instituição de ensino que fez parte da criação da Uniso – a convite do professor Aldo Vannucchi, o primeiro reitor da Universidade de Sorocaba. O livro conta especialmente com a transcrição de uma entrevista exclusiva dos autores com Vannucchi.
“Quando eu descobri a atuação do professor Aldo no início da Uniso, e a amizade dele com Paulo Freire, eu fui atrás para tentar ter um capítulo dentro desse livro sobre as conferências que foram feitas aqui na Uniso em 1980 e 1981”, compartilha Polli.
Aldo Vannucchi atuava como sacerdote da Igreja Católica em Sorocaba na época da ditadura militar, e, por ter visões consideradas progressistas à sua época – as quais mantém até hoje, aos 96 anos -, foi perseguido na cidade e se exilou em Genebra, na Suíça. Foi nesse período, atuando em convenções católicas, que conheceu o aclamado educador Paulo Freire, com o qual desenvolveu uma amizade e parceria. Após a promulgação da Lei da Anistia, Freire e Vannucchi puderam voltar ao Brasil e realizaram as conferências, retratadas na publicação da Editora Loyola, de 1983. Mostrar esse contexto e a entrevista com o professor no livro lançado na Uniso traz à tona a importância de Aldo Vannucchi e da cidade de Sorocaba na história do maior nome da educação no Brasil.
Fundação do NEFAV
Em homenagem ao Patrono da Educação Brasileira e ao Patrono da Universidade de Sorocaba, o evento de lançamento do livro também marcou a fundação do Núcleo de Estudos Freireanos Aldo Vannucchi (NEFAV). José Renato Polli, fundador do grupo, o define como um espaço aberto para participação e sugestão de seus futuros integrantes.
Polli lista as ideias colocadas para atividades do NEFAV: “aqui na Uniso tem várias possibilidades. Por exemplo, podemos assessorar alunos de iniciação científica que queiram fazer projetos sobre o assunto, fazer projetos de extensão, parcerias com outras universidades e outros grupos de pesquisa. Queremos fazer eventos, palestras, encontros e conferências.”
Uma vida dedicada à pedagogia freireana
O autor e professor José Renato Polli desenvolveu uma relação única com a pedagogia freireana durante sua vida. Polli iniciou seus estudos sobre Paulo Freire aos 18 anos de idade, quando era atuante na Igreja Católica: “naquela época, a Pedagogia do Oprimido era leitura praticamente obrigatória”. Formou-se em Filosofia e em Pedagogia, e, durante as graduações, foi ensinado muitos professores que haviam sido alunos de Paulo Freire, o que só aumentou seu interesse pelos estudos do autor. Concluindo a série de coincidências, Polli ingressou como professor de História em uma Cooperativa de ensino nomeada Colégio Paulo Freire em sua cidade natal, Jundiaí. No Colégio, passou 16 anos como professor até assumir a posição de diretor. “No período em que eu estava na escola, acabei fazendo meu doutorado, que foi, entre outras coisas, sobre Paulo Freire. Então eu venho o estudando desde jovenzinho, mas, sistematicamente, pelo menos há uns 30 anos”, diz o autor.
A principal motivação de Polli para continuar estudando e divulgando Paulo Freire é o fato de o autor ser pouco conhecido no Brasil. “Muito se fala do Paulo Freire, mas as pessoas não têm a possibilidade de um aprofundamento, um conhecimento mais sério e científico sobre a vida e a obra dele.” O professor já procura fazer isso há muito tempo, nas várias disciplinas que ministra para suas alunas na graduação de pedagogia na Uniso. “Do ponto de vista prático, nós tentamos levar para alunos, mas do ponto de vista geral há um desconhecimento profundo sobre Paulo Freire. É um autor que ainda precisa ser mais estudado”, aponta.
O livro “Paulo Freire: do exílio à anistia – Educação, politicidade e liberdade” estará disponível gratuitamente em formato e-book na página da Editora Eduniso em breve.
Para fazer parte do Núcleo de Estudos Freireanos Aldo Vannucchi, basta entrar em contato pelo email gephees@uniso.br.
