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Do cortiço à Universidade: Como Ademir Barros se tornou um ancestral para os seus

Evento reuniu amigos, alunos e familiares para relembrar o mestre que transformou conhecimento em caminho e memória

Por: Letícia Américo Camargo (Agência Focas – Jornalismo Uniso)

A roda de Conversa contou com amigos e familiares, mas sobretudo, com admiradores | Foto: Letícia Américo

Durante a Semana da Consciência Negra na Uniso, palestras e eventos que celebram a cultura afro-brasileira foram amplamente divulgados e comemorados. Na terça-feira (18), o anfiteatro da Biblioteca da universidade recebeu um grupo de amigos para celebrar a vida de um grande historiador, escritor, estudioso e, sobretudo, amigo. A roda de conversa homenageou o Dr. Ademir Barros e reuniu lindas lembranças sobre sua trajetória.

Também conhecido por seu pseudônimo “Ed Mulato”, Ademir foi lembrado como “o poeta, o pesquisador, o griot, o ancestral”, reforçando sua grandeza para a história de Sorocaba e de todo o Brasil. Com mediação do jornalista Rafael Filho e a presença das convidadas Eloísa Gonçalves e Gleice Marciano, todos integrantes do Núcleo de Cultura Afro-Brasileira (Nucab) a noite foi repleta de memórias e admiração pela trajetória do estudioso.

Rafael Filho, Eloísa Gonçalves e Gleice Marciano, respectivamente | Foto: Letícia Américo

O evento teve como abertura uma apresentação do Hino Nacional da África e a leitura de uma das poesias de Ademir, intitulada “O que nos Abala”, feita por Gleice, integrante da Família Marciano, tradicional em Sorocaba, pioneira na divulgação do penteado afro-brasileiro, atuante no âmbito musical e cultural, e fundadora da Sociedade Cultural e Beneficente 28 de Setembro.

Após as apresentações, o público foi apresentado — ou convidado a se lembrar — de Ademir. No telão do auditório, ele apareceu falando sobre racismo, religião e vida cotidiana, enquanto Eloísa compartilhava um pouco de sua amizade e admiração por ele. Entre suas lembranças, reforçou que ele adorava ensinar e que seu conhecimento era majestoso. “O que ele conhecia de África, jamais vou aprender. Até mesmo em um boteco, bebendo cerveja, ele estava falando de África, sobre a língua, sobre a religião, era fantástico”, comenta.

Para Gleice, Ademir foi um mestre que abriu caminhos para seu conhecimento sobre a história de seu povo. Ela comentou sobre sua trajetória dentro do Nucab e afirmou que a oportunidade de estar entre os pesquisadores mudou sua vida, trazendo grandes aprendizados e fortalecendo laços com sua comunidade. Aproveitou também para ressaltar a importância da luta do movimento negro e do combate ao racismo estrutural na sociedade. Para ela, Ademir era humilde e transmitia seu conhecimento da forma mais linda e acolhedora.

Ainda durante a conversa, Rafael convidou ao palco a professora Ana Maria de Souza Mendes, que, em 1979, fundou juntamente com o professor Jorge Narciso e o Dr. Bernardino Francisco o Núcleo de Cultura Afro-brasileira de Sorocaba. A professora prestou homenagens ao antigo coordenador e contou um pouco sobre sua trajetória dentro do centro de pesquisas. “Falar de Ademir é falar de vivência, realidade, necessidade e humanidade. Vivência, porque ele era aquele que através de um texto, construía imagens fenomenais. E vivência porque através de sua escrita ele encaminhava pensamentos, isso quando não os construía”, diz Ana Maria.

O evento se encerrou com uma homenagem às três filhas de Ademir, que estavam presentes na plateia. Emocionadas com a conversa, falaram um pouco sobre o pai, que sempre foi muito presente na vida das três e as enchia de poesias e ensinamentos. Elas receberam um buquê de flores, uma placa de agradecimento e um abraço daqueles que compartilham do mesmo sentimento: a saudade e o carinho pelo ancestral.

Filhas de Ademir, também homenageadas durante o evento | Foto: Kauana Miranda

Mestre em Educação pela Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), pesquisador, coordenador do Nucab, formado em Administração e Ciências Contábeis pela Uniso, seu currículo é tão extenso e brilhante quanto sua trajetória.

Ademir Barros encantou o mundo com suas poesias e textos. Seu livro “África: Nossa História, Nossa Gente” foi uma das obras vencedoras do concurso nacional Ideias Criativas, promovido pela Fundação Cultural Palmares em 2014, e expressa um pequeno pedaço de sua paixão pela origem que tanto prezava, sempre buscando aprender mais e ensinar a quem quisesse ouvir.

Referência para o movimento negro, Ed Mulato dedicou sua vida aos estudos e à luta para que seus irmãos pudessem usufruir de privilégios que ele não teve. Encantado com a história e as grandezas de seu povo, hoje se torna parte dos caminhos que tanto admirava.

“Desde o momento em que eu soube que ele cumpriu sua missão nessa existência, eu digo que ele está em nossa ancestralidade”, compartilha Gleice Marciano.

Público presente, após as homenagens prestadas à Ademir | Foto: Kauana Miranda

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