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OAB de Tatuí promove noite de memória e resistência às vésperas da Consciência Negra

O encontro, realizado pela Comissão de Igualdade Racial OAB 26˚ Subseção, reuniu advogados, ativistas e artistas que compartilharam vivências, dores e esperanças, reforçando a urgência da luta por igualdade racial

Por: Letícia Américo Camargo (Agência Focas – Jornalismo Uniso)

Sob a imagem de jovens negros e a mensagem “O racismo mata!”, o evento reforça a urgência de transformar dor em consciência e ação | Foto: Letícia Américo

A Comissão da Igualdade Racial da OAB 26ª Subseção de Tatuí realizou um evento de celebração no dia 19 de novembro, um dia antes do Dia da Consciência Negra. Painéis sobre temas como Igualdade Racial e discussões sobre o cotidiano da comunidade guiaram a noite, além de contar com a celebração da placa comemorativa de criação da Comissão da Igualdade Racial, a exposição “Bonecas Negras: o Poder da Representatividade” e uma apresentação artística de músicos do Conservatório de Tatuí.

A bancada do evento contou com sete palestrantes, que por sua vez, trataram de temáticas de grande importância. Susley Rodrigues é ativista da causa antirracista, palestrante, Conselheira Estadual da OAB/SP e advogada criminalista, e abriu o evento falando sobre Letramento Racial, enquanto o Dr. Rodrigo Soares, palestrante e presidente da Comissão da Igualdade Racial da OAB Vila Prudente, seguiu comentando sobre Igualdade Racial e os Desafios Contemporâneos. Após, com falas do Diretor Secretário Adjunto Samuel Silva, do Presidente da Comissão da Igualdade Racial Elias Lopes, do Historiador e integrante do Movimento Alvorada Antirracista, Renan Santos, da Secretária Executiva do Conselho Municipal dos Direitos da Mulher, Anita Moraes e da Jornalista e integrante de coletivos de mulheres pretas, Rafaele Breves.

Os sete palestrantes, embora de cidades diferentes, compartilham das mesmas vivências, mesmas histórias, mesmos medos e mesmas forças. Durante todas as falas, algo se mostrava sempre comum: a indignação e a busca por igualdade. Em uma abordagem simples e didática, os mediadores comentaram sobre o racismo nascido durante o período escravagista e situações cotidianas que ainda vivem. “O mundo precisa entender que ele tem uma dívida com o povo preto”, comenta a Dra. Susley Rodrigues, em uma de suas falas.

Dra. Susley Rodrigues durante sua palestra | Foto: Letícia Américo

Renan Santos é historiador, e disse que sua formação se iniciou com o movimento do hip hop, mais especificamente com o grupo Racionais Mc’s, com o álbum “Mil Trutas Mil Tretas”. Por outro lado, o Presidente da Comissão, Elias Lopes, aproveitou para demonstrar sua indignação ao perceber a existências de poucos advogados, e quase nenhum juiz negro. “Por que não vemos pessoas como nós? Lembro de olhar para os lados na faculdade e só enxergava eu e mais um amigo”, reforça. Do lado de fora da sala de apresentações, para aquecer o coração, o ambiente contou com uma exposição de bonecas negras, intitulada “Bonecas Negras: o Poder da Representatividade”, realizada pela Jornalista e idealizadora do projeto, Rafaele Breves. Levando parte de sua coleção, o público pode conhecer Barbies que foram feitas em homenagens a figuras importantes da história, bonecas que representam mulheres com deficiências, de profissões e nacionalidades diferentes, e até mesmo princesas.

Exposição de Barbies de diferentes nacionalidades | Foto: Letícia Américo

O público presente contou com diversos diretores de projetos sociais, jornalistas, ativistas e até mesmo políticos da cidade. Soma Mambo, de 40 anos, é angolano e formado em Serviços Sociais e Pedagogia, e esteve presente no evento um mês antes do lançamento de seu livro “Angola: Um Projeto de Desenvolvimento para a Nação”. A obra, que está sendo escrita desde 2022, faz uma análise das questões sociais, políticas e econômicas do país, buscando contextualizar a nação historicamente e explicar como o desenvolvimento foi impedido pela colonização portuguesa, cobrindo o período de 1482 até o fim da guerra civil, em 2002.

Mambo reside no Brasil desde 2019, tendo escolhido o país em detrimento de Portugal, por conta do processo de colonização e pela relevância do Brasil como o primeiro país a reconhecer a independência angolana, além de ser o segundo país com mais pessoas pretas no mundo, ficando atrás somente da Nigéria. Para ele, o evento é de extrema importância, e traz uma maior sensibilidade para a sociedade. “A gente precisa pensar, não somente na formulação de um conjunto de saberes, mas também, pensar nas práticas. Nós precisamos dialogar, não existe saber mais nem saber menos, existem saberes diferentes”, comenta.

Ao final, o público pode aproveitar o encerramento com uma apresentação musical dos alunos do Conservatório de Tatuí. O vocalista Leusio Gil, de 21 anos é natural de Moçambique e encantou a todos com músicas que contavam sobre um povo forte e guerreiro. O mesmo, conta que recebeu o convite da doutora e psicóloga Anita Moreira, e, juntamente aos seus amigos James Chavula, Mário Torres, Milena Soares e Jhomartin, decidiu aceitar o convite de participar do evento. Com membros da banda de nacionalidades diferentes, contando com latinos, africanos e uma brasileira, a apresentação se tornou ainda mais acolhedora e emocionante.

Leusio Gil e sua banda durante apresentação final | Foto: Letícia Américo

No fim da noite, permanecia no ar a sensação de que cada fala, cada música e cada gesto carregava uma urgência antiga, a de existir com dignidade. O evento mostrou que a luta por igualdade não é apenas pauta jurídica: é afeto, é resistência e é presença.

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