Arcebispo Dom Julio se Despede da Fundação Dom Aguirre
Dom Julio faz gravação de seu último episódio e se despede pontuando a confiança com o futuro da instituição
Por Ana Beatriz Torres Alves (Agência Focas – Jornalismo Uniso)
Após oito anos na presidência do Conselho Superior da Fundação Dom Aguirre, o arcebispo Dom Júlio Endi Akamine se despediu da instituição na manhã do dia 16 de maio em sua última gravação do programa Gotas da Palavra, no estúdio do LabCom (Laboratório de Comunicação) da Universidade de Sorocaba.
A data de sua posse na Arquidiocese de Belém, onde irá realizar sua próxima missão na Igreja Católica, ainda não foi decidida pelo novo Papa Leão XIV. Porém Dom Júlio segue viagem hoje (19) para o Pará onde deve participar de uma missa de apresentação no próximo dia 31. Até ocorrer a nomeação do próximo arcebispo da Arquidiocese de Sorocaba, o padre João Carlos Alampe fica na presidência da Fundação Dom Aguirre.
No episódio de despedida programa Gotas da Palavra, Dom Júlio conta que começou as meditações da liturgia para dar continuidade aos comentários bíblicos do seu antecessor, Dom Eduardo Benes, e finaliza aconselhando os fiéis a receber a Palavra com gratidão e depois partilhá-la “foi isso que tentei fazer ao longo destes oito anos”.
Mesmo com sua mudança para outro Estado, Dom Júlio deixou claro que quer manter relações próximas com a Fundação Dom Aguirre e ainda propor projetos em parceria entre a Uniso e a Fundação em que deve atuar em Belém “já adiantei com a diretoria que eu gostaria, dependendo de como forem as condições, contar também com a colaboração [da fundação]. Eu acho que a gente pode fazer um intercâmbio, acredito que isso possa ser algo precioso, não só no âmbito da direção e administração, mas também nos projetos educacionais, pedagógicos e assistenciais”, visto a existência de fundações educacionais e de assistência social que estarão sob sua responsabilidade na nova arquidiocese.
O arcebispo conta que sua experiência na presidência do Conselho Superior foi marcada por aprendizagem. “Aprendi muito na experiência da administração, na atuação do mundo da educação, no modo em como a gente deve tratar as questões com relação aos estudantes, aos professores e aos funcionários.” Dom Júlio afirma ainda que houve muito desejo de exprimir os valores cristãos que são próprios da instituição em sua atuação. Ele também diz que estar próximo de jovens foi uma quebra de percepção de gerações, mas que “o trabalho da educação nos ajuda nisso, a termos um olhar mais atento a juventude”.
Dom Júlio pontua que está confiante com o futuro da Uniso “tem um ditado chinês que diz que ‘a grande viagem começa com o primeiro pequeno passo’, eu acho que esse provérbio está errado, porque a grande viagem não começa com um primeiro passo, ela começa com a visão da chegada, e acredito que a Universidade de Sorocaba tem claro qual é a sua visão”.
O arcebispo acredita que a Uniso continuará cumprindo o seu papel em conformidade com os objetivos da evangelização “porque ela necessita da cultura, o desenvolvimento cultural é importante para uma boa evangelização”, acrescentando que colocar a fé e a razão em contradição é um equívoco, porque “a fé não paralisa a razão, pelo contrário, ela instiga a razão a voos mais altos”.
Dom Júlio finalizou expondo seu orgulho com as conquistas da universidade, principalmente após o período pandêmico, e que se impressiona com os projetos estruturais que levam em consideração a necessidade dos estudantes como também as preocupações socioambientais.
O último episódio de Gotas da Palavra
“Agradeço de coração sua atenção em acompanhar os comentários homiléticos publicados no site da Arquidiocese de Sorocaba, no Serviço “Gotas da Palavra”, na Rádio Cantate e em outros meios.
Comecei essas meditações da liturgia da Palavra para dar continuidade aos comentários bíblicos do meu antecessor, Dom Eduardo Benes. Ao concluir esta jornada de oito anos fiz algumas experiências que partilho com você.
A Sagrada Escritura é como uma fonte. Ela sacia a nossa sede infinita de Deus. Dela bebemos sem esgotá-la, e podemos voltar a ela todos os dias com alegria, sabendo que sua torrente não seca. Como fonte perene, sempre deixaremos mais do que podemos tomar. A minha alma tem sede de Vós, minha carne vos deseja, como terra sedenta e sem água! (Sl 62,2)
A Sagrada Escritura é floresta de biodiversidade infinita de significados e de densidade de sentidos. Como numa selva obscura, nela não nos adentramos sozinhos, contamos sempre com a orientação milenar da Mãe Igreja que a tem meditado, estudado, vivido e testemunhado até o sangue. Ensinai-me a viver Vossos preceitos; quero guarda-los até o fim. (Sl 118,33)
Com a Sagrada Tradição, a Sagrada Escritura é um rio que tem sua nascente em Deus e nEle desemboca. Esse rio caudaloso é formado pela vida de inumeráveis gerações que ouviram a Palavra de Deus, a gravaram no coração, a viveram com alegria e a transmitiram com o próprio testemunho. Transborda em toda a terra o vosso amor; ensinai-me, ó Senhor, vossa vontade! (Sl 118,64)
Como espada que penetra na alma, separando articulações e nervos, a Escritura julga nossas atitudes e faz a separação entre o pecado e a graça, entre o bem e o mal. Ela tira as máscaras e desnuda as aparências. Provocando uma salutar e purificadora dor, a Escritura provoca a crise, ameaça e adverte com a perdição, corrige com misericórdia e firmeza. Mostrais assim quanto sois justo na sentença, e quanto é reto o julgamento que fazeis! (Sl 51,6)
A Palavra de Deus é oceano profundíssimo no qual a inteligência não fica paralisada, mas no qual pode imergir com trepidação e assombro. Como oceano profundíssimo, a Palavra preenche a razão humana e a supera com suas imensas riquezas. Tão impossível como sorver o oceano inteiro, assim também é a imensidão dos mistérios presentes na Palavra de Deus! Como anseio pelos vosso mandamento! (Sl 118,40)
Contendo coisas novas e antigas, o Antigo e o Novo Testamentos formam uma unidade incindível: o Novo Testamento está oculto e prefigurado no Antigo, e o Antigo se torna claro e patente no Novo. Vossa palavra é minha herança para sempre, porque ela é que me alegra o coração! (Sl 118,111)
As leituras proclamadas na liturgia diária são mesa abastecida com generosidade pelo divino hóspede que, depois de bater e entrar pela porta aberta do coração, serve o pão da vida eterna que é Ele próprio. Nutridos e robustecidos pelo Pão descido do Céu, podemos ainda nos deleitar com sua doçura e delícia. A Igreja prepara e nos oferece todos os dias as riquezas da Palavra de Deus. Não consigo tudo receber, mas ela está lá diante de mim como promessa e realidade. “Diante de mim preparas a mesa e meu cálice transborda” (Sl 23). Como é doce ao paladar vossa palavra, muito mais doce que o mel na minha boca! (Sl 118,103)
Ao longo destes anos experimentei que o coração ardia quando o Senhor me expunha o que na Sagrada Escritura se refere a Ele. É a surpresa de todos os dias: os olhos se abrem e reconheço a presença do Senhor na Palavra proclamada. Os discípulos de Emaús caminharam o dia todo com Jesus e, no momento em que Jesus partiu o pão, seus olhos de abriram e eles foram surpreendidos pela divina presença do Ressuscitado. A Eucaristia é, de fato, um caminhar com Jesus que nos explica as Escrituras e nos faz cair na conta de uma presença tão misteriosa quanto contínua. Assim o “estarei convosco” de Jesus tem como consequência o nosso estar aos pés do Senhor ouvindo atentamente a sua Palavra.
Meu caro irmão, minha querida irmã, é preciso receber a Palavra com gratidão e, com alegria, partilhá-la! Foi isso que tentei fazer ao longo destes oito anos.”
Dom Júlio Endi Akamine
Sorocaba, 16 de maio de 2025.









