Tecnologia Assistiva na Prática: Avaliação, Escolha e Uso de Cadeiras de Rodas
Por: Prof. Dr. Rafael Eras Garcia e Nathália Paes de Almeida (Curso de Terapia Ocupacional)
Introdução
A tecnologia assistiva reúne um conjunto de recursos, serviços e estratégias voltados para ampliar a funcionalidade e a autonomia de pessoas com deficiência ou mobilidade reduzida, promovendo inclusão e qualidade de vida. Esses recursos podem variar desde dispositivos simples até equipamentos mais complexos, sempre com o objetivo de superar barreiras físicas, comunicacionais ou cognitivas. Entre os exemplos mais conhecidos de tecnologia assistiva estão as cadeiras de rodas.
As cadeiras de rodas são meios auxiliares de locomoção utilizados por pessoas com alguma deficiência ou redução de mobilidade, permitindo que cheguem aos espaços que desejam com maior independência e autonomia. Segundo Caro e Cruz (2020), existem diversas situações que podem comprometer a mobilidade, como acidentes domésticos e automobilísticos, doenças agudas e crônicas, envelhecimento, dentre outras diversas situações que podem comprometer a mobilidade funcional. Esses fatores podem gerar restrições não apenas na saúde física, mas também impactar diversos aspectos da vida do indivíduo, como o engajamento em ocupações e atividades esperadas, desejadas e necessárias das pessoas.
Esse recurso tem como objetivo melhorar significativamente a qualidade de vida do usuário, pois permite ao mesmo o acesso a espaços e situações que não conseguiria sem o auxílio da cadeira de rodas. Para atender o maior número possível de pessoas, existe uma variedade de modelos disponíveis, que visa atender diferentes necessidades e perfis dos usuários.
Tipos de Cadeiras de Rodas
Cadeira de Rodas Dobrável em “X”
Existem dois modelos principais: com fechamento em “X” simples, que pode suportar até 100kg, assim como a duplo “X”, que pode chegar a suportar até 200kg. Ambas possuem assento e encosto (estofado, sob medida ou de lona), além de apoios de pés que podem ser rebatíveis e removíveis, com opção de ajuste de altura. Também podem contar com apoio de braço e apoio de cabeça. Esse tipo de cadeira varia desde modelos mais simples, indicados para uso esporádico, até modelos mais robustos, adequados para uso prolongado, com maior resistência e conforto. O material utilizado para a composição do quadro da cadeira pode variar desde ferro, até estruturas de alumínio ou fibra de carbono.

Cadeira de Rodas Monobloco
A maioria dos modelos apresenta um fechamento lateral em “L” e a estrutura é mais leve, facilitando a mobilidade do usuário. Normalmente tem encosto mais baixo e não possui apoio de braço, o que contribui para uma locomoção mais livre. Este modelo é recomendado para pessoas com controle de tronco que dependem da cadeira de rodas para a locomoção diária e contínua.

Cadeira de Rodas Tipo Carrinho
Trata-se de uma cadeira de rodas postural, que oferece apoio de cabeça, apoio de tronco, cavalo abdutor e, geralmente, é equipada com cintos de segurança. É recomendada para usuários que não possuem força muscular e que são conduzidos por outra pessoa, já que não conseguem movimentar a cadeira sozinhos.

Cadeira de Rodas Motorizada
Pode ter estrutura monobloco ou dobrável em X, é equipada com motor, abastecida por uma bateria, sendo controlada por um joystick, posicionado de acordo com a dominância ou possibilidade motora do membro superior do usuário. Indicada para usuários que não conseguem se locomover com a força dos braços e necessitam de autonomia para se movimentar. As cadeiras motorizadas apresentam modelos específicos, como aquelas que permitem ao usuário elevar a altura de todo o sistema de assento/encosto, bem como aquelas que permitem que o usuário fique na posição em pé, fixado através de cintos.

Cadeira de Banho
As cadeiras de banho são dispositivos desenvolvidos para oferecer segurança, conforto e autonomia durante o banho. Elas são projetadas para facilitar o acesso ao chuveiro ou ao vaso sanitário, dependendo do modelo, e podem ser utilizadas em ambientes domiciliares ou institucionais. Existem diferentes tipos de cadeiras de banho, como os modelos fixos, dobráveis e com rodas, sendo estas últimas ideais para facilitar o deslocamento do usuário. Algumas versões incluem apoio para os pés, braços removíveis e assentos higiênicos com abertura central. Quanto aos materiais, as cadeiras podem ser confeccionadas em alumínio, aço inoxidável ou PVC.

Como escolher a Cadeira de Rodas Adequada?
A escolha do modelo ideal deve considerar diversos fatores como cognição, controle de tronco, controle cervical, tônus muscular, a patologia do usuário e as necessidades da pessoa e/ou da família. Cada situação deve ser avaliada de forma conjunta, para que se possa prescrever/escolher uma cadeira mais adequada para o perfil do usuário. É imprescindível que a cadeira de rodas seja prescrita por um profissional habilitado para verificação de todas as medidas antropométricas, podendo ele ser um terapeuta ocupacional, fisioterapeuta ou até mesmo o médico fisiatra.
Mesmo após a escolha do modelo, podem ser necessárias adaptações ou adequações para garantir maior conforto e funcionalidade. As adaptações, também conhecido como Sistema de Adequação Postural, são indicadas em casos de doenças crônicas que cursam com deformidades no tronco, como a escoliose, além de casos com importante alteração do controle motor.
Considerações Finais
As cadeiras de rodas não são apenas um instrumento de locomoção, mas podem ser consideradas uma extensão do corpo de quem as usa. Desta forma, precisam de uma rigorosa avaliação profissional especializada, visando atender as condições que respeitem as limitações, potencialidades e o modo de vida do usuário.
A escolha e a adaptação, quando necessárias, do equipamento são fundamentais para o conforto, a autonomia e a inclusão social dessa população. Nesse sentido, o trabalho de uma equipe multiprofissional, como a da terapia ocupacional, se torna fundamental no processo de avaliação e adaptação.
O terapeuta ocupacional desempenha um papel essencial no processo de avaliação e prescrição da cadeira de rodas, assegurando que o equipamento seja adequado às necessidades funcionais, posturais e contextuais de cada indivíduo. Por meio de uma análise cuidadosa das habilidades motoras, do ambiente em que a pessoa vive e das atividades que realiza no dia a dia, o profissional identifica o modelo mais apropriado de cadeira, bem como os ajustes e adaptações necessárias para garantir conforto, segurança e autonomia. Além disso, o terapeuta ocupacional orienta o usuário e seus cuidadores quanto ao uso correto do recurso, prevenindo complicações secundárias como lesões por pressão ou má postura. Dessa forma, sua atuação contribui significativamente para a promoção da funcionalidade e da qualidade de vida da pessoa com deficiência ou mobilidade reduzida.
Referência Bibliográfica
CARO, Camila Caminha; CRUZ, Daniel Marinho Cezar da. Treinamento de habilidades com cadeiras de rodas manuais: uma revisão integrativa da literatura. Cadernos Brasileiros de Terapia Ocupacional, São Carlos, v. 28, n. 2, p. 661-681, 2020. Disponível em: https://doi.org/10.4322/2526-8910.ctoAR1863