E como fica o Homem na menopausa?
“A gente fazia um casal feliz / até que um dia as coisas mudaram / seu comportamento mudou bruscamente”. Isso poderia ser somente o trecho do modão sertanejo em ritmo de guarânia Crises De Ciúme, da dupla Peão Carreiro & Zé Paulo. Mas pode ser utilizado para ilustrar o pensamento de muitos homens durante a chegada de um terceiro ser na relação amorosa: a Menopausa. Será que aqueles que sonham com um trisal estão prontos para receber essa nova companheira de sua companheira?
Esses dias eu estava em São Paulo e coincidentemente no mesmo shopping onde seria apresentada a peça de teatro Cenas da Menopausa, com a Claudia Raia e seu esposo Jarbas de Mello. Confesso que (assim como muitos outros homens, acredito eu) fui mais para acompanhar minha companheira e pela oportunidade de realizar o sonho de conhecer minha musa da adolescência, do que por interesse real na temática.
Saí de lá transformado. Logicamente que a beleza de Claudia afetou meus olhos, mas o motivo não foi esse.
Na peça, é possível visualizar diversas situações diárias em que as mulheres sofrem por não serem compreendidas, ouvidas e acolhidas nessa nova fase da vida. Sim, fase, pois ela passa! Atualmente com tantas possibilidades de tratamento (não só medicamentoso, mas com orientações, terapia e apoio emocional) o processo pode ser muito menos doloroso.
Mas nem sempre foi assim.
Vou usar novamente o termo coincidência, apesar de muitos falarem que ela não existe.
O tema da coluna dessa semana já estava fechado na minha cabeça. Mas domingo, assistindo a um dos meus programas favoritos, o Fantástico, me deparei com o tema novamente. Será que era um sinal? “Sinais, fortes sinais”, já diria Eymael, o democrata cristão.
O quadro do programa dominical começou lembrando que no século 19, a expectativa de vida das mulheres era entre 40 e 50 anos. Tratadas como histéricas, com sintomas confundidos com transtornos psiquiátricos (assim como seus desejos sexuais que eram reprimidos e criminalizados pela sociedade), as mulheres não podiam compartilhar suas dores. Somente em 1821 que o termo Menopausa aparece. Em 1960 foram desenvolvidas as primeiras medicações, mas o assunto ainda era um tabu. Segundo a fala da apresentadora Poliana Abritta, em 2025 houve um recorde de pesquisas em relação à palavra Menopausa no Brasil e no mundo. Em nosso país, o interesse no assunto cresceu 60% nos últimos 5 anos.
“Ai, esse calorão”, uma das frases que mais ouvi na peça, no programa e durante a vida, na convivência que tive com mulheres entre 45 e 50 anos e que estavam enfrentando os sintomas da Menopausa. Hoje sabemos que o nome disso é fogacho. Quantas vezes você se deparou com uma mulher na Menopausa dizendo estar morrendo de calor enquanto as outras pessoas estão com quatro blusas e tremendo de frio? Louco, né? Agora imagina para ela que está sentindo na pele literalmente. É, não é fácil. Mas não é só esse sintoma, a ciência já identificou mais de 70. A disfunção do ovário, deixando de produzir estrogênio, progesterona e testosterona causa sensações que vão muito além daquilo que conseguimos visualizar.
E as mulheres sofrem não somente durante o processo, o antes, o pré, a Perimenopausa também causa um turbilhão de coisas na cabeça e no corpo feminino. E sabe o pior de tudo isso? Sim, tem pior. É saber que o sofrimento poderia ter sido menor, se as mulheres recebessem o diagnóstico correto, não tendo seus sintomas confundidos com burnout ou stress.
Ao final da peça, Claudia e Jarbas fazem algo que achei sensacional: eles dão espaço para as mulheres da plateia compartilharam suas histórias. “Eu sofri durante três anos, me consultando com vários médicos e todos diziam que era stress. Eu quase perdi tudo: casamento, trabalho, saúde mental, família. Um diagnóstico correto e o início do tratamento no começo dos sintomas, teria me feito sofrer menos”, ouvi em um trecho dos relatos.
E falando em sofrimento, para aqueles que ainda acreditam que luta de classe é balela, o trabalho jornalístico mostrou uma realidade que muitos sabem, mas fingem que não: a mulher negra sofre mais. “Ela sofre porque viveu uma vida de stress, de cansaço, de luta por sobrevivência sua e de seus filhos, sem receber atenção ou orientação em saúde”, afirmou uma das entrevistadas.
Outro assunto recorrente que não faltou no quadro Essa tal de Menopausa foi a falta de políticas públicas que atendam as mulheres que estão passando por essa fase da vida. E a disparidade é grande. Enquanto o IBGE fala que atualmente existem 30 milhões de mulheres na Perimenopausa ou na Menopausa, dados do SUS informam que, no primeiro semestre de 2025, foram realizados apenas 297 mil atendimentos relacionados a esse tema. “É preciso que médicos e autoridades façam parte disso. Ainda estamos muito atrás em termos de educar as mulheres para que elas não sofram. E os maridos também”, comentou uma médica durante a exibição do Fantástico.
Outro ponto que me chamou atenção no conteúdo produzido foi a fala de uma outra entrevistada: “como a gente consegue desmitificar? Ouvindo”. Ouvir, algo tão necessário na profissão de jornalista e na vida como um todo, pode ser um excelente remédio. Isso me fez lembrar daquilo que tanto ouvimos na faculdade: O Diálogo Possível, de Cremilda Medina.
Respondendo a você, meu amigo homem, e a pergunta que dá título à coluna dessa semana (que pode soar como um discurso machista, mas foi proposital para chamar sua atenção para a leitura), sabe como fica o homem na Menopausa? Fica ao lado da sua companheira. Ouvindo, apoiando, compartilhando suas dores. Eu sei que por vezes é difícil lidar com as mudanças de humor — quando de manhã ela te ama e a noite você se torna a pessoa mais irritante do mundo, a ponto de você querer sair gritando: “o que eu fiz, meu Deus, o que eu fiz?” — as crises de ansiedade, a insônia e a crença de que ela já não serve mais para o mundo. Mas quando se sofre juntos, a dor é menor.
Seja um parceiro de verdade, a acompanhe e a apoie na escolha do modelo de vibrador — é sério que você torceu o nariz? Ela não vai te substituir, meu irmão! O uso do vibrador é terapêutico, receitado pelos médicos! Vá dar uma pesquisada e depois você volta aqui com outra mentalidade, para ler o texto novamente, pode ser?
E falando nisso, já parou para pensar que a falta de libido é algo que chateia muito as mulheres? Tá difícil para você ficar sem sexo? Já parou para pensar que para ela também pode estar sendo algo bem doloroso? Se a única dificuldade da Menopausa fosse a redução das relações sexuais, estava fácil. Bora abrir a mente companheiro? Se servir de consolo, até o endeusado e “multihomem” Rodrigo Hilbert passou por isso.
Sabe uma coisa que rolou na peça também? O Jarbas visualizou uma grande quantidade de homens na plateia (algo que eu jamais imaginaria quando vi o tema dela) e pediu para todos eles ficaram em pé para serem aplaudidos por sua iniciativa de acompanhar suas companheiras. O Jarbas transformou a situação dolorosa da esposa em arte, sorrisos e conscientização e, junto com ela, leva isso para todo o mundo.
E você vai fazer o que com a Menopausa?
